A propósito da possibilidade (ao que parece, é um dado adquirido) da transferência da Exponor para território de Santa Maria da Feira, mais concretamente para a área envolvente ao Europarque, importa tecer algumas considerações que, eventualmente, possam ser tidas como um válido contributo no profícuo debate que, certamente, decorrerá no seio da comunidade feirense.
É que, pelo que vai sendo globalmente aceite, a questão é mesmo muito importante para o nosso município, na medida em que, trará mais desenvolvimento económico, possibilitará a criação de centenas de postos de trabalho, de áreas urbanas e equipamentos de qualidade, campos de golfe, estruturas hoteleiras, etc, etc, etc...
No entanto, permito-me recusar participar nesta “conspiração eclética” de conferir, levianamente, a esta (ou a outra qualquer) eventual acção, elevados ou diminutos graus na sua contribuição para o desenvolvimento de Santa Maria da Feira, enquanto espaço físico-social onde co-habita quase 1% da população portuguesa.
Começo, aliás, por referir que a minha forma de ser me obriga a não ferver em lume brando e a não arriscar conclusões precipitadas na avaliação de uma qualquer, mais ou menos mediática, operação de natureza económica, social e urbana. Portanto, procurarei, independentemente do sentimento regionalista ou meramente bairrista, analisar com um certo desprendimento, os possíveis resultados da coisa, tendo em conta o binómio projecto-investimento/situação ocasional.
Se é verdade que a vinda da Exponor para a Feira é uma questão que todos nós devemos acolher com agrado, não é menos verdade que será agora, nesta fase, a conceptual, que será necessário definir a forma e os critérios de ocupação daquele espaço, como área de inovação tecnológica que aproveite as sinergias humanas e económicas existentes neste concelho, bem como a sua localização estratégica a sul da Grande Área Metropolitana do Porto e da grande região do noroeste ibérico.
Ao mesmo tempo, a confirmar-se, esta será talvez, depois da Expo 98, a possibilidade que o país e Santa Maria da Feira têm de mostrar à Europa que também é possível fazer projectos de qualidade, integrados na cidade e na região, qualificados urbana e paisagisticamente, que funcionem como um pólo aglutinador de desenvolvimento económico e social.
Nesse sentido, importará assegurar que o grandioso projecto não irrompa apenas como encenação faraónica ao jeito de uma qualquer segunda Quinta do Lago, segregadora, sem identidade, não diversificada, e que se permita excluir de toda a lógica vivencial e das pessoas de Santa Maria da Feira.
Mais uma vez, será de (re)lembrar que o metropolitano de superfície está já ali na Avenida da República de Gaia, que o Aeroporto Francisco Sá Carneiro se encontra a pouco mais de 30 quilómetros, que o porto de Aveiro é aqui ao lado, que a dez minutos de automóvel se poderá desfrutar de uma extensa costa atlântica, que o centro histórico da feira pode e tem potencial para ser revitalizado, que as termas de Caldas de S. Jorge esperam e fornecem banhos retemperadores, que a visita ao Douro vinhateiro também pode começar no Porto Carvoeiro...
Ou seja, o novo e importante projecto não se poderá dissociar de toda uma lógica vivencial existente ou a programar em seu redor, ao mesmo tempo que deverá ser capaz de antecipar, com o intervalo de uma geração, aquilo em que se poderá tornar Santa Maria da Feira bem como a Grande Região Metropolitana do Porto.
Como em tempos referi, todas estas questões de natureza urbana e económica, não se poderão afastar muito de uma combinação singular com a seguinte dimensão: o investimento voluntarista na reconstituição do tecido social de solidariedade. - Este é um caminho por (re)descobrir, e sobre o qual temos pensado pouco. Estou a falar, por exemplo, do envolvimento da população na valorização dos serviços de proximidade, nas formas de economia social, no envolvimento dos comerciantes e empresários locais na promoção e desenvolvimento da região…
Portanto, a questão reside em saber como exprimir as vantagens da iniciativa, isto é, como explicar que, sendo este investimento privado, uma estrutura ou equipamento desejado por todos, como é que se evitará que ele se auto-exclua da dinâmica participativa da população que, neste caso, deveria ficar assegurada pelos seus legítimos representantes, nomeadamente a Câmara Municipal.
Creio estar tudo em aberto.
E tudo isto, “sem ferver em lume brando”…
(Dezembro de 2005)
Sem comentários:
Enviar um comentário