quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A fantástica década de 90... (*)

Vamos ficando mais velhos. Digo isto como quem se confessa. Começamos a perceber que, mesmo não querendo, o nosso corpo dá mostras de cansaço nas noites mais longas.
Mesmo os pequenos nadas com que nos deslumbrávamos começam a ser, cada vez mais, uma miragem.

Os dias e, principalmente as noites, ficaram mais curtos. Passaram entre 10 e 15 anos, e estamos em Julho de 2007. Julho de 2007? Já?

O trabalho e as preocupações com a casa ocupam-nos a maior parte do tempo. Em determinados momentos, damos até por nós a ter atitudes mais conservadoras. Dizemos coisas do tipo "... no meu tempo é que era...", o que, em certa medida, até se poderá considerar perigoso.

Mas, mesmo assim, e tendo em conta esse risco de repetir muitas vezes "no meu tempo é que era", vou falar-vos um pouco dessa fantástica década de 90.

Para muitos, as notas do décimo segundo eram o pronuncio de que, feliz ou infelizmente, o final de Agosto estava aí à porta e era tempo de arranjar um emprego que permitisse assegurar o compromisso mensal da quota do Seat Ibiza cinzento metalizado (ou do Renault Clio "de dois lugares").

Seria esse meio de transporte que nos levaria, futuramente, a percorrer os mais diversos recantos de "diversão" e a assumir a (quase) verdadeira independência paternal (quase porque era só em teoria).

Para outros, era tempo de recarregar baterias e das alucinantes noites de insónia na incerteza do ingresso na desejada universidade.

Deixáramos de ser putos fazia algum tempo.
- Os dois dígitos que carregam os dezoito, têm uma magia especial: a malta julga-se verdadeiramente autónoma, parece ter o mundo aos seus pés, qui çá, para o moldar à sua própria imagem.

Não demorará muitos anos a perceber que não é bem assim. Mas, em todo o caso, não é isso que importa por agora.

Dizia eu que essa fantástica década de 90, foi repleta de peripécias, umas agradáveis, outras nem por isso (a diferença está em que as primeiras foram em muito maior número).

Foram tempos em que a malta dispunha de algum do seu precioso tempo na defesa de algumas causas, entre elas, a ambiental, a associativa, a política (embora esta com menos adeptos), a musical, enfim, por aí fora.

Quem não se lembra das lutas contra a poluição no Uíma, contra o abate de árvores na freguesia, contra as podas desenfreadas dos plátanos do parque? Quem não se lembra dos registos videofotográficos do rio, desde as "suas nascentes" até às ribeiras?
Quem não se lembra do trabalho nas noites geladas a preparar o desfile no Carnaval? Quem não se lembra do saudável "combate" artístico que as pinturas de mensagens políticas no alcatrão proporcionavam?
Quem não se lembra ainda das "excursões" ao velho estádio de Alvalade para assistir aos memoráveis espectáculos dos U2 (ZooTV Tour), dos Dire Straits ou ainda dos sempre fantásticos concertos de música moderna portuguesa?

Sinto alguma nostalgia ao recordar esses tempos. Tempos das festas do chantily, das festas na relva, tempos da organização de campos de trabalho nacionais, tempos de noites de canções e guitarradas no saudoso México Bar, tempos de churrascadas ali p'rós lados da ponte dos candeídos.

Tudo era feito com militância (essa palavra cada vez mais em desuso) e, acima de tudo, impregnado de paixão.

Mas a malta vai ficando mais velha. Por isso, esses tempos já lá vão. Podem não ter representado muito para o actual dia-a-dia da nossa freguesia. Podem até não ter servido de nada.

No entanto, quero-vos assegurar que permitiram, quanto mais não seja, para o aprofundar das nossas raízes enquanto cidadãos e pensar, nem que fosse, por breves instantes que, afinal de contas, todos nós, sem excepção, podemos e devemos contribuir para o pulsar de Caldas de S. Jorge.

É isso que se espera de todos, e principalmente, das novas gerações. Para que, cada um, e à sua maneira, possa viver a sua fantástica década de 90…




(*)Crónica escrita em Julho de 2007

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Depois do "Expresso", o CCTAR sai na revista "Arquitectura&Construção"

CENTRO ARTÍSTICO
>'CAIXA MÁGICA' AO SERVIÇO DA POPULAÇÃO

(...)

"Santa Maria da Feira vai ter um Centro de Criação
de Teatro e Artes de Rua (CCTAR), um projeto
e obra a cargo da câmara municipal daquela
cidade, desenhado para ser uma “caixa mágica” e
espaço “produtor de cidadanias”, como salienta o seu
arquiteto e coordenador, Pedro Castro e Silva.

“Este centro deverá ser definido como um conjunto
de espaços multifacetados que, descentralizadamente,
promoverão uma nova abordagem às diversas
formas de produzir cultura e cidadania”, reforça.

O projeto submeteu-se a uma candidatura ao Sistema
de Apoio ao Cluster de Indústrias Criativas (integrado
no Programa Operacional Regional do Norte),
um processo já ganho, esperando-se para breve o
lançamento do concurso".


(...)

In Arquitectura&Construção
(Edição Fevereiro/Março 2011)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Casa Rodrigo Marques: foi há 8 anos.

Há oito anos, na edição de Janeiro/Março 2003 da Revista Arquitectura & Construção, tive o privilégio de ver publicado um dos meus primeiros trabalhos profissionais realizado "a solo".


Talvez em breve, possa revisitar o meu amigo Rodrigo Marques, no seu retiro de fim-de-semana, lá no pequeno lugar de Vila Meã, pertinho do centro de Cerveira.






Ora então...

Desejando não Vos “aborrecer” com as minhas crónicas de escárnio e maldizer, espero, humildemente, que me aceitem, nem que por instantes, como companheiro destas navegações de insónia pelas bandas do blogspot.

Vai daí, nada melhor do que vos falar... por exemplo... de... eeeh... “Violência”.
Pois tá claro... Vamos falar de “Violência”.

Alerto, desde logo, que sou a favor dos "castigos físicos"!

Já vos estou a imaginar a pensar: “... o tipo enlouqueceu de vez...”.
Então, em pleno sec. XXI ainda existe gente que?...

- Sim! Existe. Eu!
Passo a explicar.

Meus amigos... Então se por todo esse mundo se fala uma linguagem (universal) violenta, será que as nossas crianças têm que ignorar essa forma de expressão colectiva?

Claro que não. A “violência” deve pois, começar nas nossas casas. Se o primeiro sopapo ou puxão de orelhas não for dado em casa, vai ser dado onde e por quem? Pelos de fora?

Nunca me esqueço do drama que era chegar a casa com as calças rotas nos joelhos ou ainda com as sapatilhas “de Domingo” esverdeadas dos chutos dados na “bola de capa” no passal. Houve sonhos desfeitos pois nem todos nascemos para essa coisa fantástica, elitista e, ao mesmo tempo, mundana, que é ser jogador de futebol.

Haverá melhor coisa do que dar uns chutos na bola, ser principescamente bem remunerado (alguns) e ainda por cima ter milhares de pessoas a gritar pela nossa equipa?

Mas pronto, cada um é para o que nasce.

- Íamos onde?
Há. Nos raspanetes e puxões de orelha que levava quando maltratava a roupa e sapatos novos.

Pois era. Que saudades eu tenho desse tempo...
O tempo do faz-de-conta, dos viramentos com casca de eucalipto, dos campeonatos de concharinha, do subuteo no café do Senhor Américo. O tempo do Frizze limão. O tempo dos raspanetes...

E é por essas e muitas mais, que não são para aqui chamadas, que quando vejo os problemas que emergem, a cada dia, a cada semana, nesses aglomerados que promovem as desigualdades sociais (como recentemente tem acontecido no nosso Bairro), que me recordo do quão importante era/foi a questão da “violência”.

Hoje, ai do professor que arrisque sugerir a um aluno que desligue o telefone, essa “sebenta” essencial no percurso escolar/académico de cada jovem...
Hoje, ai da mãe que repreenda um filho pela exigência feita, em frente ao dono da loja, pela compra das sapatilhas da última moda (mesmo que isso represente 1/8 do seu parco salário)...
Hoje, ai daquele pai que levante a voz à filha por não cumprir com o horário previamente estipulado para regressar a casa...

Definitivamente, hoje, as coisas complicaram-se.
Porquê?

Às tantas, porque deixou de haver a tal “violência”, passando a outra “violência” a ser praticada lá fora, com muito mais “violência”.

Pois é, meus caros:
- A sociedade que temos, é a sociedade que nós próprios ajudamos a construir.
Tudo começa nas nossas casas, nos nossos telhadinhos de vidro.
E depois, como não usamos da dita “violência” em casa, tratamos logo de exprimir os nossos dotes lá fora: condena-se, diz-se isto e aquilo, aponta-se o dedo, faz-se e desfaz-se, e por aí fora.

Apetece-me, por isso, sugerir que se olhe mais para a “violência” preventiva das nossas casas para que as próximas gerações não precisem de recorrer à “violência” degenerativa.

Quanto à “violência” do Bairro, porque não se tenta compreender as razões sem recorrer à “violência”?
A culpa é deles ou é da violência a que estão sujeitos?
Haveria necessidade do país ter optado por aquela fórmula?

Um dia alguém disse “...as pessoas não são coisas que se metam em gavetas...”.

E como estava correcto...


Post Scriptum:
Luto por uma sociedade mais justa.
Luto por um sociedade sem violência.
Mas uns raspanetes e uns puxões de orelhas nunca fizeram mal a ninguém...

(crónica escrita em Janeiro de 2010)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Foi você que pediu... um aterro?

Sabemos, que o Relatório do Estudo de Impacte Ambiental sobre os dois locais identificados para a eventual instalação do Novo Aterro do Sistema Multimunicipal da Suldouro, está por aí a "estourar"...
Acredito, sinceramente, que as "coisas" vão seguir a "lógica de todas as lógicas"...
Enquanto o resultado não é tornado publico, nunca é demais relembrar partes do que já foi escrito e enviado para as respectivas entidades responsáveis.



INCONGRUÊNCIAS - II

Nota prévia 1: a discussão em torno da identificação dos eventuais locais para a instalação do Novo Aterro do Sistema Multimunicipal da Suldouro não deve, do meu ponto de vista, resumir-se a uma mera discussão partidária. Considero, aliás, tratar-se de uma questão de natureza apartidária.

Nota prévia 2: acredito, sinceramente, que a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, não tem quaisquer responsabilidades nas conclusões emanadas do (dito) estudo efectuado pelo IDAD da Universidade de Aveiro. Nos últimos anos, houve, de facto, sinais comprovativos de que o município de Santa Maria da Feira, se interessa pelo desenvolvimento sustentado de Caldas de S. Jorge.

***

Gostaria de acreditar, que esta suposta “selecção” da fronteira entre Caldas de S. Jorge e Pigeiros para a “concorrer” à localização do novo Aterro Sanitário Multimunicipal da Suldouro se trata, apenas, de um mero exercício académico.
Mas não será assim.
De facto, tal documento, elaborado no conforto do Campus Universitário de Aveiro, a cerca de 80km do nosso território, contribuirá, provavelmente, para enquadrar o “caderno de encargos” que servirá de base ao “teste” da Avaliação Ambiental Estratégica, a elaborar numa fase seguinte.

- Dois locais. Apenas dois locais a “concurso”: Canedo e Caldas de S. Jorge/Pigeiros.
Ora, se o primeiro é já “repetente” nestas coisas dos resíduos sólidos, o segundo, e é desse que quero falar, foi realmente, uma verdadeira e mui desagradável surpresa.

Desde logo porque se trata da única freguesia da Área Metropolitana do Porto que possui um balneário termal. Quanto mais não fosse, só esse facto, já deveria ser suficientemente esclarecedor quanto à inidoneidade do local para a eliminação dos resíduos sólidos urbanos dos concelhos da Feira e de Gaia (este último com três vezes mais habitantes do que o primeiro) e instalação de um aterro sanitário.

Mas existem mais, muitas mais razões que me levam a considerar incompreensível e intolerável o pensamento, nem que seja por instantes, que a encosta da Várzea seja um potencial local para a instalação de um aterro sanitário.

É incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que a fronteira entre Caldas de S. Jorge e Pigeiros, pela sua localização e morfologia, pelas suas características geológicas, hidrológicas, de ar e de paisagem, seja considerada como um local viável para a construção de um aterro sanitário para nele se proceder á deposição de resíduos.

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, do ponto de vista da estabilidade ecológica das águas, da sua capacidade de renovação e da defesa da saúde pública, que se construa um aterro sanitário num local impróprio, situando-se tal local sobre o Rio Uíma, próximo, de várias nascentes e de fontes daquela área do concelho.

É absolutamente incompreensível e intolerável, e repugna ao direito e às normas que visam salvaguardar e preservar a pureza das águas e a saúde das pessoas que se equacione, nem que seja por instantes, a construção de um aterro sanitário e se proceda à deposição de lixos num local onde as condições naturais existentes permitem a infiltração de efluentes que possam provir dos alvéolos de deposição de lixos e a contaminação das águas.

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que se proponha como local com condicionantes moderadas para a construção do referido aterro, uma área de drenagem natural de águas pluviais, que se direccionam para a principal linha de água que atravessa o concelho, o Rio Uíma.

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que se identifique, como local favorável à instalação de uma estrutura susceptível de causar impacto visual, libertação de maus cheiros, de biogás e lixiviados (que em contacto com componentes ambientais, lhes provocam lesões, tantas vezes irreparáveis), um espaço sempre defendido por (quase) todos como potencialmente perfeito para a promoção de actividades de lazer.

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que se imagine, como local aparentemente apto à instalação de uma lixeira, uma encosta confinante com uma linha de água cujas especificidades excepcionais e muito próprias, contribuem para a importante biodiversidade existente na zona, de onde se destaca a aptidão, quase única, do Uíma, para o desenvolvimento do habitat da truta ou de mamíferos como a Lontra.

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que se defina, como potencial espaço para albergar um aterro sanitário, um local que em termos de ordenamento e paisagem, não se encontra condicionado nem desvirtuado, sendo por isso uma reserva e espaço a preservar.

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que se promova, como potencial lugar para albergar um depósito de lixiviados, um local que criaria fortíssimos e inenarráveis impactos paisagísticos negativos para as localidades (e suas gentes) a nascente do vale do Uíma.

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que se escolha, para uma possível instalação de um depósito de resíduos sólidos, um local que ainda há poucos anos foi objecto de um projecto de vocação turística, que pretendia transformar aquele magnífico local, num espaço de atractividade internacional (projecto MARVA).

É absolutamente incompreensível e intolerável, nem que seja por instantes, que um estudo (que a bem da razoabilidade, deveria ser considerado um mero exercício académico), promova o maior ataque de que há memória à boa imagem da Vila Termal de Caldas de S. Jorge.
A título de exemplificativo, para este último caso, imagine-se, por exemplo, que as Caldas do Gerês, de Caldelas ou do Luso, eram noticiadas e identificadas por um qualquer jornal de referência nacional, como local potencialmente indicado para a construção de um aterro sanitário. Que imagem isso transmitiria aos utentes?
- Provavelmente não acreditariam...

E por aí fora...
Curiosa é, também, a forma como o (dito) estudo foi conduzido. Os argumentos e metodologias das “selecções”. Mas isso, fica, eventualmente, para uma próxima.

Por isso, sem querer alongar-me mais, por agora, faço apenas referência ao facto de que, às regras da experiência comum, existe fundado e fundamentado receio que, através da execução das obras de construção de um aterro sanitário e da deposição de resíduos naquele local, se efective uma lesão grave e dificilmente reparável do direito a um ambiente de vida humano sadio e ecologicamente equilibrado.
Como se sabe, o acesso ao ambiente e à qualidade de vida constituem direitos constitucionais fundamentais de natureza análoga aos direitos, liberdades e garantias consagrados no nosso diploma fundamental.
É disso que nos fala o Artigo 66.º da Constituição da República Portuguesa!

Post Scriptum: a minha formação, origem e paixão por Caldas de S. Jorge, não me permite aceitar, como uma inevitabilidade, as conclusões do (dito) estudo. As pessoas devem ter direito à indignação. O “repto” que nos lançam, deve pois, do meu ponto de vista, ser levado a sério...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Crítica por Crítica

Devemos responder, com aparente fra(n)queza, às “confissões” ou desabafos dos nossos "amigos" conterrâneos?

Talvez sim, talvez não.

As correntes de opinião ou as diferentes sensibilidades fazem parte da história recente do país mais ocidental da Europa. Por conseguinte, a “nossa” terra, fazendo parte desse “Portugal Marítimo”, Republicano e Laico, não foge à regra: se assim é desde há cerca de 3 décadas no país, porque não o haveria de ser em Santa Maria da Feira?

No entanto, abstraindo-nos do elemento decorativo e multiplicador que o “choradinho” e a proliferação da "crítica leviana” suscitam um pouco por todos nós, facilmente chegaremos à conclusão que o psicodrama identitário de alguns indivíduos, serve de muito pouco para o desejado crescimento e desenvolvimento do nosso território.

Ainda para mais quando, determinadas cenas, quase dramáticas, que por vezes se tentam explorar, cheiram a uma tentativa desavergonhada de arregimentação e institucionalização de tendências. "Coisa pouca" para quem "defende" a pluralidade de ideias...

Assim, talvez seja de apelar ao exercício do “poder de encaixe”, pelo que sugiro a adopção de uma atitude mais... pró-activa. Digamos que a crítica deverá surgir, não como um ataque indiferenciado, mas, pelo contrário, com uma razoável dose de “reciclagem e transformação” em função dos tempos actuais e em benefício da comunidade. Quanto mais não seja porque são esses alguns dos desígnios que mais se vão apregoando (incluindo os mais ortodoxos) em períodos cuja aproximação ao povo é mais notória e "necessária"...

Há que aprender a viver com isso...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Musica, Sol e Clerasil - II

Passaram, seguramente, quase vinte anos.

A malta cresceu. Hoje, pode-se considerar que, salvo uma ou outra excepção, o pessoal se enquadra naquela franja de indivíduos relativamente bem sucedida (uns mais, outros nem por isso), com emprego, e tempo para tomar um café, ao fim de semana, num dos estabelecimentos da vila. Alguns deles, ainda apresentam marcas nos joelhos, que teimam em perpetuar, para todo o sempre, o fantástico tempo dos campeonatos de concharinha, realizados no parque das termas.

E entretanto, passamos a olhar para os "miúdos" nascidos na segunda metade da década de 80 com alguma perplexidade, embora, não raras as vezes, com um misto de reprovação e inveja.

Porquê?
Porque os gajos estão cheios de "sangue na guelra" e agora não faltam sítios ou locais para se divertirem. À grande e à francesa. E nós, os trintões ou quarentões, já com algumas brancas, andamos é preocupados em cumprir com as "obrigações" para com a banca, e em arranjar uns cobres para passar oito dias num apartamento manhoso da Quarteira (a 800 metros da praia), e a segunda quinzena de Agosto "enfiados" numa barraca alugada da Praia da Seca em Espinho.

Ainda por cima, já não estamos em tempo de ter as nossas escapadelas, para jogar um sobe e desce no final da noite. Ou ainda, ir tomar um copo, às Sextas-Feiras, a um desses novos locais da "moda" (os novos DJ´s não são capazes de passar nada do tipo Simple Minds, Dire Straits ou The Clash? Aposto até que não sabem o que é o Blitz...).

Chego portanto à conclusão que os miúdos nascidos na segunda metade da década de 80, são mais do tipo "...pum, pum, pum... Ya? Tá-se bem...".

É desses que eu vos quero falar.

Sempre a curtir um bom som, é usual vê-los, a partir de Quinta-Feira, com os seus óculos D&G, caminhando sobre uns sapatos de cabedal, desenhados pelo Vieira (o estilista de S. João da Madeira), a entrar num dos ginásios mais in da região. Daqueles ginásios ou, se quiserem, daqueles espaços de "pseudocultura urbana" que proliferam um pouco por todo o país e que têm uns aparelhos esquisitos onde se pratica um "desporto" que chamam de solário, ou "...qualquer cena do género...".

Apesar de serem raros os que terão aprendido a tabuada dos 7, e de terem chumbado duas vezes seguidas no décimo primeiro são, no entanto, geralmente, uns verdadeiros "Ases" no manuseamento dos telemóveis de última geração. Daqueles que fazem contas e têm jogos. Aprenderam também uma linguagem esquisita sms - "dakelas k qq ser hu mano tb keria e sonha aprender...".

Transformaram-se em catedráticos da noite. Raros são os segredos que a noite encerra aos tipos que, ainda continuam a tentar conquistar as garotas escondidos atrás de, pelo menos, dois centímetros de clerasil.

Pode ser que consigam ter uma profissão de referência, com futuro... Mas isto está cada vez mais difícil. Cada ano que passa, existem mais cursos superiores, e a maior parte deles (cursos) não servem rigorosamente para nada. Apenas para "sacar" o dinheirito aos "velhotes". Aliás, poucos são os que conseguiram entrar no curso desejado...

A "emancipação" dos jovens actuais será, portanto, muito tardia. Não têm solução: os tais "velhotes" (papás) vão ter que lhes "desenrascar uma ajudinha", pelo menos, por mais quinze anos.

É certo que há excepções.
Mas, essas excepções são tão poucas, que nem sequer lhes permite constituir uma equipa de futebol de "salão" para jogar ao Sábado à tarde nos "ringues" de Arcozelo ou de Azevedo... A esses, resta-lhes continuar, resignados à solidão da leitura do último livro do Rui Zink ou então, a preencher as palavras cruzadas do Público que, normalmente, se encontra impregnado de restos de café, em cima da mesa do canto (por vezes ainda conseguem apanhar o Sudoku a meio, podendo por isso, arriscar em decifrá-lo).

Mas, estas excepções, quase de certeza, não dizem respeito a miúdos normais.

Hoje, tal como há dias dizia, jovens normais, continuam a ser, mais do tipo ... MUSICA, SOL E CLERASIL, ao que se pode acrescentar um "... pum, pum, pum. Ya? Tá-se bem...".

Escusado será dizer que, provavelmente, terei de me ir habituando a esse cenário. Assim que os meus "rebentos" ou "herdeiros" começarem a crescer, terão de demonstrar perante a nossa sociedade que, afinal de contas, são putos normais...

Portanto, começo a perder a esperança de os ensinar a mergulhar na Várzea. Começo a perder a esperança de os levar à porta da discoteca e combinar a hora do regresso, antes da uma da manha. Começo a perder a esperança que eles não apreciem aquela bebida que alguém diz "dar asas" – uma tal de Red Bull.

Já perdi até a esperança que eles, algum dia, saibam o que é subir a uma árvore e mastigar uma maça de S. João.

Parece até, que já me estou a ver, ao Domingo, no Gaia Shopping, a comprar resmas e resmas de Clerasil...

Definitivamente, começo a ficar preocupado!


(crónica escrita em Maio de 2007)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Musica, Sol e Clerasil - I

A malta nova está perdida.
Hoje em dia já não se conhecem os valores que orientaram os tipos que têm hoje trinta anos.

E, perguntam os leitores, como é que eu cheguei a esta triste conclusão:
Leitores: - Como é que chegaste a essa triste conclusão?
- Bom, existem várias razões. Passo a citar:

Noutros tempos, havia uma coisa que se fazia, no máximo, lá para a segunda semana de Dezembro. O presépio. Sim, esse conjunto peças de barro, que na maior parte dos casos ficavam "manetas" ao fim da primeira viagem para ver o "menino" deitado em palhas não douradas, mas daquelas que se conseguiam apanhar na casa do vizinho onde se ia "buscar o canado de leite" antes do anoitecer. Era um presépio lindo, feito de musgo retirado das calçadas ou dos velhos muros que teimavam em não cair… Mais. O musgo era arrancado com as próprias mãos, mesmo antes do "molete" com tulicreme e doce de abóbora feito no dia anterior.

Haviam aqueles desenhos animados, tipo Banna e Flapy e as suas aventuras na floresta; o homem da Atlântida que com as suas membranas no meio dos dedos percorria as profundezas dos oceanos, os cromos da colecção do "México 86"…

Eram tempos em que os gelados de dois e quinhentos faziam as delícias dos miúdos para desespero dos graúdos que teimavam em dizer "não escolhas um gelado de gelo, faz-te mal à garganta…";

Lembro-me até das descidas em velocidades alucinantes daquela encosta do passal (perto da Junta de Freguesia), sentados em cascas de velhos pinheiros – o "Pilhas" era um ás…

Passaram-se outros grandes momentos de juventude com o jogo do Pica, sempre a "fugir" do encarregado das termas – hoje reconheço que se deixava o parque numa lástima, tal era a forma de esburacar a terra.

O máximo então, era a "Volta a Portugal em concharinha" em pistas moldadas com o corpo dos mais abonados…

Vieram depois aquelas fabulosas séries televisivas como "O barco do Amor" e ainda a mais fantástica série de sempre, "O Verão Azul" que nos transportava miraculosamente para os sonhos das próximas férias de Verão (chorei quando o velho Shanquete morreu. Lembro-me como se fosse hoje da música do genérico).

Os jovens de agora… aposto… Nunca fizeram uma cabana. Nem subiram sequer a uma árvore para mastigar meia dúzia de maças de S. João com o típico bicho sempre presente.

Pior ainda, nunca mergulharam na Várzea? Nunca roubaram um calendário de bolso na papelaria mais próxima.

Os jovens de agora não caem de bicicleta. Não se vêm jovens com os joelhos impregnados de mercurocromo previamente "regados" com água oxigenada.

Mais… Se o jovem de hoje ousar pensar em fazer umas patifarias, logo vem o profissional da medicina apelar ao cuidado a ter com a hiperactividade.

Já para não falar das famosas explicações que os meninos têm de ter para "passar de ano".

Mas o computador… A Playstation,… O mp3… Os morangos com açúcar… Isso sim. Não podem faltar.

Hoje não pode faltar alguém a levar o miúdo à escola com o seu bólide. Hoje já não existem os caminhos lavrados com os pés dos mais pequenos onde de quando em vez se faziam os vira-ventos com as cascas dos eucaliptos.

Hoje uma mãe não puxa pelas orelhas ao puto que joga futebol com as sapatilhas do Domingo.

Na altura, um gajo tinha o perigo real de entrar na droga, de ser raptado quando se apanhava boleia após perder a "carreira", de espetar uma farpa no polegar na descida da árvore mais alta. Mas aprendia-se a viver com isso. Não eram raras as vezes que se ouvia "… não tenho nota… dá-me metade da bola de berlim… tou c'uma galga…"

Hoje os putos têm tudo. Ai daqueles que não levem para a escola o telemóvel da 3.ª geração. Que não tenham o portátil, o gameboy, as allstar, enfim… tudo.

Hoje em dia nem sequer existe o "cromo", o "cientista", o tipo dos óculos de fundo de garrafa, que é gozado por todos e que nenhuma rapariga gosta.

Hoje em dia, o puto que não curte um bom som, que não tem uns bons óculos de sol, que não usa creme na face para esconder as "espinhas", que não usa as sapatilhas da moda, que anda de bicicleta, que usa óculos graduados, que decora a tabuada, que não tem computador, que não tem telemóvel nem mp3, que não começa a ir para a "noite" aos 13 anos… Esse definitivamente… Não é um gajo normal.

Hoje, um puto normal é mais… MUSICA, SOL E CLERASIL


(crónica escrita em Maio de 2007)