A malta nova está perdida.
Hoje em dia já não se conhecem os valores que orientaram os tipos que têm hoje trinta anos.
E, perguntam os leitores, como é que eu cheguei a esta triste conclusão:
Leitores: - Como é que chegaste a essa triste conclusão?
- Bom, existem várias razões. Passo a citar:
Noutros tempos, havia uma coisa que se fazia, no máximo, lá para a segunda semana de Dezembro. O presépio. Sim, esse conjunto peças de barro, que na maior parte dos casos ficavam "manetas" ao fim da primeira viagem para ver o "menino" deitado em palhas não douradas, mas daquelas que se conseguiam apanhar na casa do vizinho onde se ia "buscar o canado de leite" antes do anoitecer. Era um presépio lindo, feito de musgo retirado das calçadas ou dos velhos muros que teimavam em não cair… Mais. O musgo era arrancado com as próprias mãos, mesmo antes do "molete" com tulicreme e doce de abóbora feito no dia anterior.
Haviam aqueles desenhos animados, tipo Banna e Flapy e as suas aventuras na floresta; o homem da Atlântida que com as suas membranas no meio dos dedos percorria as profundezas dos oceanos, os cromos da colecção do "México 86"…
Eram tempos em que os gelados de dois e quinhentos faziam as delícias dos miúdos para desespero dos graúdos que teimavam em dizer "não escolhas um gelado de gelo, faz-te mal à garganta…";
Lembro-me até das descidas em velocidades alucinantes daquela encosta do passal (perto da Junta de Freguesia), sentados em cascas de velhos pinheiros – o "Pilhas" era um ás…
Passaram-se outros grandes momentos de juventude com o jogo do Pica, sempre a "fugir" do encarregado das termas – hoje reconheço que se deixava o parque numa lástima, tal era a forma de esburacar a terra.
O máximo então, era a "Volta a Portugal em concharinha" em pistas moldadas com o corpo dos mais abonados…
Vieram depois aquelas fabulosas séries televisivas como "O barco do Amor" e ainda a mais fantástica série de sempre, "O Verão Azul" que nos transportava miraculosamente para os sonhos das próximas férias de Verão (chorei quando o velho Shanquete morreu. Lembro-me como se fosse hoje da música do genérico).
Os jovens de agora… aposto… Nunca fizeram uma cabana. Nem subiram sequer a uma árvore para mastigar meia dúzia de maças de S. João com o típico bicho sempre presente.
Pior ainda, nunca mergulharam na Várzea? Nunca roubaram um calendário de bolso na papelaria mais próxima.
Os jovens de agora não caem de bicicleta. Não se vêm jovens com os joelhos impregnados de mercurocromo previamente "regados" com água oxigenada.
Mais… Se o jovem de hoje ousar pensar em fazer umas patifarias, logo vem o profissional da medicina apelar ao cuidado a ter com a hiperactividade.
Já para não falar das famosas explicações que os meninos têm de ter para "passar de ano".
Mas o computador… A Playstation,… O mp3… Os morangos com açúcar… Isso sim. Não podem faltar.
Hoje não pode faltar alguém a levar o miúdo à escola com o seu bólide. Hoje já não existem os caminhos lavrados com os pés dos mais pequenos onde de quando em vez se faziam os vira-ventos com as cascas dos eucaliptos.
Hoje uma mãe não puxa pelas orelhas ao puto que joga futebol com as sapatilhas do Domingo.
Na altura, um gajo tinha o perigo real de entrar na droga, de ser raptado quando se apanhava boleia após perder a "carreira", de espetar uma farpa no polegar na descida da árvore mais alta. Mas aprendia-se a viver com isso. Não eram raras as vezes que se ouvia "… não tenho nota… dá-me metade da bola de berlim… tou c'uma galga…"
Hoje os putos têm tudo. Ai daqueles que não levem para a escola o telemóvel da 3.ª geração. Que não tenham o portátil, o gameboy, as allstar, enfim… tudo.
Hoje em dia nem sequer existe o "cromo", o "cientista", o tipo dos óculos de fundo de garrafa, que é gozado por todos e que nenhuma rapariga gosta.
Hoje em dia, o puto que não curte um bom som, que não tem uns bons óculos de sol, que não usa creme na face para esconder as "espinhas", que não usa as sapatilhas da moda, que anda de bicicleta, que usa óculos graduados, que decora a tabuada, que não tem computador, que não tem telemóvel nem mp3, que não começa a ir para a "noite" aos 13 anos… Esse definitivamente… Não é um gajo normal.
Hoje, um puto normal é mais… MUSICA, SOL E CLERASIL…
(crónica escrita em Maio de 2007)
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