Desejando não Vos “aborrecer” com as minhas crónicas de escárnio e maldizer, espero, humildemente, que me aceitem, nem que por instantes, como companheiro destas navegações de insónia pelas bandas do blogspot.
Vai daí, nada melhor do que vos falar... por exemplo... de... eeeh... “Violência”.
Pois tá claro... Vamos falar de “Violência”.
Alerto, desde logo, que sou a favor dos "castigos físicos"!
Já vos estou a imaginar a pensar: “... o tipo enlouqueceu de vez...”.
Então, em pleno sec. XXI ainda existe gente que?...
- Sim! Existe. Eu!
Passo a explicar.
Meus amigos... Então se por todo esse mundo se fala uma linguagem (universal) violenta, será que as nossas crianças têm que ignorar essa forma de expressão colectiva?
Claro que não. A “violência” deve pois, começar nas nossas casas. Se o primeiro sopapo ou puxão de orelhas não for dado em casa, vai ser dado onde e por quem? Pelos de fora?
Nunca me esqueço do drama que era chegar a casa com as calças rotas nos joelhos ou ainda com as sapatilhas “de Domingo” esverdeadas dos chutos dados na “bola de capa” no passal. Houve sonhos desfeitos pois nem todos nascemos para essa coisa fantástica, elitista e, ao mesmo tempo, mundana, que é ser jogador de futebol.
Haverá melhor coisa do que dar uns chutos na bola, ser principescamente bem remunerado (alguns) e ainda por cima ter milhares de pessoas a gritar pela nossa equipa?
Mas pronto, cada um é para o que nasce.
- Íamos onde?
Há. Nos raspanetes e puxões de orelha que levava quando maltratava a roupa e sapatos novos.
Pois era. Que saudades eu tenho desse tempo...
O tempo do faz-de-conta, dos viramentos com casca de eucalipto, dos campeonatos de concharinha, do subuteo no café do Senhor Américo. O tempo do Frizze limão. O tempo dos raspanetes...
E é por essas e muitas mais, que não são para aqui chamadas, que quando vejo os problemas que emergem, a cada dia, a cada semana, nesses aglomerados que promovem as desigualdades sociais (como recentemente tem acontecido no nosso Bairro), que me recordo do quão importante era/foi a questão da “violência”.
Hoje, ai do professor que arrisque sugerir a um aluno que desligue o telefone, essa “sebenta” essencial no percurso escolar/académico de cada jovem...
Hoje, ai da mãe que repreenda um filho pela exigência feita, em frente ao dono da loja, pela compra das sapatilhas da última moda (mesmo que isso represente 1/8 do seu parco salário)...
Hoje, ai daquele pai que levante a voz à filha por não cumprir com o horário previamente estipulado para regressar a casa...
Definitivamente, hoje, as coisas complicaram-se.
Porquê?
Às tantas, porque deixou de haver a tal “violência”, passando a outra “violência” a ser praticada lá fora, com muito mais “violência”.
Pois é, meus caros:
- A sociedade que temos, é a sociedade que nós próprios ajudamos a construir.
Tudo começa nas nossas casas, nos nossos telhadinhos de vidro.
E depois, como não usamos da dita “violência” em casa, tratamos logo de exprimir os nossos dotes lá fora: condena-se, diz-se isto e aquilo, aponta-se o dedo, faz-se e desfaz-se, e por aí fora.
Apetece-me, por isso, sugerir que se olhe mais para a “violência” preventiva das nossas casas para que as próximas gerações não precisem de recorrer à “violência” degenerativa.
Quanto à “violência” do Bairro, porque não se tenta compreender as razões sem recorrer à “violência”?
A culpa é deles ou é da violência a que estão sujeitos?
Haveria necessidade do país ter optado por aquela fórmula?
Um dia alguém disse “...as pessoas não são coisas que se metam em gavetas...”.
E como estava correcto...
Post Scriptum:
Luto por uma sociedade mais justa.
Luto por um sociedade sem violência.
Mas uns raspanetes e uns puxões de orelhas nunca fizeram mal a ninguém...
(crónica escrita em Janeiro de 2010)
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