Vamos ficando mais velhos. Digo isto como quem se confessa. Começamos a perceber que, mesmo não querendo, o nosso corpo dá mostras de cansaço nas noites mais longas.
Mesmo os pequenos nadas com que nos deslumbrávamos começam a ser, cada vez mais, uma miragem.
Os dias e, principalmente as noites, ficaram mais curtos. Passaram entre 10 e 15 anos, e estamos em Julho de 2007. Julho de 2007? Já?
O trabalho e as preocupações com a casa ocupam-nos a maior parte do tempo. Em determinados momentos, damos até por nós a ter atitudes mais conservadoras. Dizemos coisas do tipo "... no meu tempo é que era...", o que, em certa medida, até se poderá considerar perigoso.
Mas, mesmo assim, e tendo em conta esse risco de repetir muitas vezes "no meu tempo é que era", vou falar-vos um pouco dessa fantástica década de 90.
Para muitos, as notas do décimo segundo eram o pronuncio de que, feliz ou infelizmente, o final de Agosto estava aí à porta e era tempo de arranjar um emprego que permitisse assegurar o compromisso mensal da quota do Seat Ibiza cinzento metalizado (ou do Renault Clio "de dois lugares").
Seria esse meio de transporte que nos levaria, futuramente, a percorrer os mais diversos recantos de "diversão" e a assumir a (quase) verdadeira independência paternal (quase porque era só em teoria).
Para outros, era tempo de recarregar baterias e das alucinantes noites de insónia na incerteza do ingresso na desejada universidade.
Deixáramos de ser putos fazia algum tempo.
- Os dois dígitos que carregam os dezoito, têm uma magia especial: a malta julga-se verdadeiramente autónoma, parece ter o mundo aos seus pés, qui çá, para o moldar à sua própria imagem.
Não demorará muitos anos a perceber que não é bem assim. Mas, em todo o caso, não é isso que importa por agora.
Dizia eu que essa fantástica década de 90, foi repleta de peripécias, umas agradáveis, outras nem por isso (a diferença está em que as primeiras foram em muito maior número).
Foram tempos em que a malta dispunha de algum do seu precioso tempo na defesa de algumas causas, entre elas, a ambiental, a associativa, a política (embora esta com menos adeptos), a musical, enfim, por aí fora.
Quem não se lembra das lutas contra a poluição no Uíma, contra o abate de árvores na freguesia, contra as podas desenfreadas dos plátanos do parque? Quem não se lembra dos registos videofotográficos do rio, desde as "suas nascentes" até às ribeiras?
Quem não se lembra do trabalho nas noites geladas a preparar o desfile no Carnaval? Quem não se lembra do saudável "combate" artístico que as pinturas de mensagens políticas no alcatrão proporcionavam?
Quem não se lembra ainda das "excursões" ao velho estádio de Alvalade para assistir aos memoráveis espectáculos dos U2 (ZooTV Tour), dos Dire Straits ou ainda dos sempre fantásticos concertos de música moderna portuguesa?
Sinto alguma nostalgia ao recordar esses tempos. Tempos das festas do chantily, das festas na relva, tempos da organização de campos de trabalho nacionais, tempos de noites de canções e guitarradas no saudoso México Bar, tempos de churrascadas ali p'rós lados da ponte dos candeídos.
Tudo era feito com militância (essa palavra cada vez mais em desuso) e, acima de tudo, impregnado de paixão.
Mas a malta vai ficando mais velha. Por isso, esses tempos já lá vão. Podem não ter representado muito para o actual dia-a-dia da nossa freguesia. Podem até não ter servido de nada.
No entanto, quero-vos assegurar que permitiram, quanto mais não seja, para o aprofundar das nossas raízes enquanto cidadãos e pensar, nem que fosse, por breves instantes que, afinal de contas, todos nós, sem excepção, podemos e devemos contribuir para o pulsar de Caldas de S. Jorge.
É isso que se espera de todos, e principalmente, das novas gerações. Para que, cada um, e à sua maneira, possa viver a sua fantástica década de 90…
(*)Crónica escrita em Julho de 2007
1 comentário:
Interessante crónica e não menos interessante viagem ao passadom mas por ela, fica-se a saber que ainda és uma "criança".
Se fosse minha a crónica, teria que falar dos fantásticos anos 80 e até mesmo dos 70.
Por isso, cada pessoa em si é um universo próprio. Mas vale a pena a reflexão e viagem.
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