Sábado, 17 de Dezembro de 2005. Semanário “Expresso”. Caderno Economia.
Quinta-Feira, 22 de Dezembro de 2005. “Terras da Feira”.
Depois da leitura atenta e pausada da notícia do Expresso, compassada com a faixa “Loucos de Lisboa” (ouvi-a, repetidamente), veio-me à memória, quase sem pestanejar, o último parágrafo do artigo “Ferver em lume brando” publicado nas páginas do “Terras” no primeiro dia de Dezembro (antes quinze dias).
Nele, podia ler-se “... a questão reside em saber como exprimir as vantagens da iniciativa, isto é, como explicar que, sendo este investimento privado, uma estrutura ou equipamento desejado por todos, como é que se evitará que ele se auto-exclua da dinâmica participativa da população que, neste caso, deveria ficar assegurada pelos seus legítimos representantes, nomeadamente a Câmara Municipal”.
Confesso que, depois de perceber que afinal de contas se trata apenas de mais uma “Cidade Nova”, não me sinto com motivação suficiente para sugerir o que quer que seja, principalmente no que diz respeito à participação da Câmara Municipal (mesmo que simbólica) no desenvolvimento e promoção da operação em causa.
Refiro-me, exactamente, à transferência da Exponor para a zona envolvente ao Europarque.
No entanto, e porque, por (de)formação profissional, ainda acredito que para atingir os melhores resultados, deverá, necessariamente, ser seguido um método, um princípio e uma filosofia, não resisto a escrever mais uns pequenos parágrafos sobre esta matéria.
Como disse anteriormente, julgo ser nesta fase, a conceptual, que seja necessário definir a forma e os critérios de ocupação daquele espaço como (ainda considero possível) área de inovação tecnológica que aproveite as sinergias humanas e económicas existentes em Santa Maria da Feira.
O famoso Parque de Ciência e Tecnologia, pólo estratégico e reserva municipal dedicada ao conhecimento e inovação tecnológica não pode, ou melhor, não deve, ser injustificadamente abandonado. Ainda por cima, sabendo nós que concelhos vizinhos estão a apostar fortemente na criação de núcleos empresariais e ninhos de incubação empresarial, piscando ao mesmo tempo o olho, às universidades e institutos politécnicos no sentido do desenvolvimento de parcerias e aí promoverem cursos de nível intermédio. Estratégico não é?...
Fico ainda sem saber como se vai explicar que uma quantidade enorme de metros quadrados de terreno, vários anos cativa para os tais equipamentos estruturantes integre, agora, parte de um resort de luxo, onde um qualquer anglo-saxónico virá “destrocar” os seus dólares por um punhado de terra junto do buraco 18.
Continuo a dizer que o que está em causa não é a vinda da exponor para a Feira.
Isso, preenche, a cada um de nós, o respectivo ego, mas antes a relação humana, social, urbana e vivencial que TODO o projecto e operação poderão ter com a cidade e com o município de Santa Maria da Feira. É isso que importa assegurar. A tal “Cidade Nova” não pode ser um enclave, ainda por cima, sectário, dentro do nosso território.
E isso, quer queiram, quer não queiram, só poderá ser garantido se a Câmara Municipal assegurar a sua participação, de facto e de pleno direito, na gestão e promoção da operação.
Se verificarem, foi o que aconteceu em Matosinhos à 20 anos, aquando das negociações que levaram à instalação da Exponor em Leça. Hoje, para a Exponor ser transferida para a Feira, os responsáveis políticos de Matosinhos não tiveram de se dirigir às terras do tio Sam, para garantir que aquela área urbana não ficaria abandonada, mas vai, pelo contrário, ganhar outro fôlego e nova dinamização com actividades ligadas ao lazer e aos negócios. Estava escrito.
No nosso caso, porque não a instalação de serviços municipais naquela zona? Ou a construção do museu da Indústria (ou de Arte Contemporânea – olhem, ainda à dias a malta do CCB não queria aceitar a colecção Joe Berardo). Bom, mas isto é, apenas, um “suponha-mos”.
Já agora, para finalizar, será que os grupos económicos sediados em Santa Maria da Feira vão ser convidados a participar, de uma ou outra forma, na operação prevista?
Este é o repto que lanço, a todos.
E claro, “sem ferver em lume brando”…
(Janeiro de 2006)
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