quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Os Centros tornaram-se periféricos?

As periferias tornaram-se de tal forma mainstream e genéricas que existe um real perigo da sua asséptica estetização. Será, eventualmente, por tal facto, e ainda por se terem tornado a cada passo, lugares de exclusão, que as ditas periferias nos causam um certo fascínio distante, distanciado. No entanto, mais importante que esse fascínio distante, é percebermos até que ponto as suas fronteiras se podem tornar difusas.

De forma idêntica, os pequenos centros a que nos habituámos a chamar históricos, também são, tal como as periferias, lugares de exclusão.
As lajetas de granito gasto pelo passar dos anos, a pobreza da velhice de reformas baixas, o comércio obsoleto, a idade média dos poucos habitantes ou o estado de degradação dos edifícios, são, como se pode facilmente detectar, tão centrais como periféricos.

Salvo raras e agradáveis excepções (como Guimarães), os Centros Históricos no nosso país, parecem pois, condenados ao lento e penoso envelhecimento, amarrados à imoralidade da especulação imobiliária, e ainda ao enquadramento legal que (ainda) teima em fazer arrastar, anos a fio, pelos corredores das diversas entidades que os supervisionam, centenas de processos de licenciamento.

Por outro lado, parece que virou moda a reutilização dos centros históricos como locais de culto da via nocturna. Ora, sem querer retirar o mérito deste tipo de ocupação dos centros históricos, cabe no entanto questionar a verdadeira eficácia relativamente à sua vivência urbana e respectiva complementaridade.

Ainda nesse seguimento, o comércio tradicional vai prolongando a sua intensa agonia, à espera de um qualquer procom e na esperança que não apareça na zona nova da cidade, uma grande superfície ou shopping que retire as pessoas do centro e as leve para a “periferia”.

No entanto, todos sabemos, que só com a instalação de umas “ancora” tipo Zara ou Benetton, de uma Fnac, de uma qualquer contrapartida ou de investimento de uns quaisquer Amorim, se podem salvar os centros Históricos.

Portanto, talvez só com fenómenos ligados à periferias se poderão salvar os centros.

Veja-se o caso do Centro Histórico de Santa Maria da Feira. Por muitas intervenções que se efectuem ao nível do espaço público (umas mais bem conseguidas que outras) a questão de fundo é que, não existindo atractividade suficiente para além das repartições que o Município insiste em manter na Elíseo de Castro e ainda alguns pequenos bares que funcionam essencialmente para uma reduzida faixa etária da população, a área a que chamamos Zona Histórica, não é mais do que uma pequena rua, sem dinâmica, sem movimento e, acima de tudo, sem uma vivência urbana acentuada que resista e persista para além dos serviços existentes. Ainda por cima dissociada e cada vez mais afastada do edifício que lhe deu alguma da sua história: o Castelo.

Talvez esteja na hora de se parar para reflectir. De perdermos um pouco de tempo para pensar.

Enquanto os centros continuarem periféricos e as periferias continuarem centrais, não há nada a fazer...

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