Motivar o aparecimento de acções integradas que permitam um crescimento equilibrado e sustentado de uma região é, sem dúvida alguma, um objectivo comum que servirá de base para uma orientação global na revisão dos Planos Directores Municipais existentes no país.
Hoje, mais do que nunca, há uma quase completa percepção de que na essência, todos os problemas são comuns. Os obstáculos ao desenvolvimento dos diferentes municípios de cada distrito ou região vão no mesmo sentido; as diferentes freguesias dentro de um mesmo concelho têm ambições equivalentes. Por isso, a diferenciação entre cada uma dessas estruturas no futuro, estará na forma e na sua capacidade de se reconciliarem com o espaço natural e os seus habitantes.
Aliás, essa é a questão basilar na definição de critérios e directrizes para a ocupação do solo. A procura de filosofias de orientação para cada freguesia ou cidade, a existência de um “mote”, um motivo, um “para onde vamos?”, é absolutamente fundamental para a criação de um modelo de gestão que assegure um futuro de atitudes compatíveis com um desenvolvimento integrado e sustenta(do)vel.
Tudo isto a propósito das ideias que circulam no concelho, e que têm a ver com a revisão do Plano Director e particularmente com a hipotética criação de novas zonas industriais.
Como será do domínio geral, Santa Maria da Feira possui algumas particularidades que importam reflectir numa primeira fase. É uma região que ao longo de muitos anos foi alvo dos mais diversos tipos de iniciativas e investimentos financeiros, tanto comerciais como industriais, públicos ou privados, que sem dúvida alguma trouxeram fontes de riqueza e de mão-de-obra que nos colocam num dos concelhos mais ricos do distrito ou mesmo do país.
No entanto, é evidente que a coexistência de industrias em aglomerados populacionais ou urbanos aparece como um real constrangimento a uma assimilação de uma correcta qualidade vivêncial que se espera nos dias de hoje.
Efectivamente, as características morfológicas do território de Santa Maria da Feira apresentaram-se desde sempre como um constrangimento a um regular crescimento das diversas estruturas industriais ou armazéns. Se por um lado, equipamentos de carácter familiar se foram transformando em grandes unidades geradores de mão-de-obra, a não existência de regras claras na legislação, foi contribuindo para que, dentro dos próprios aglomerados urbanos, surgissem grandes conjuntos industriais.
No entanto, com a elaboração e aprovação do Plano Director Municipal em 1993, houve então, o início de uma estratégia que visava essencialmente, a ordenação do território e uma melhor orientação programática do concelho.
Foram definidas várias áreas destinadas a indústrias, criados alguns parques industriais, mas que rapidamente atingiram níveis de ocupação que nos permitem assegurar que o problema ainda não está totalmente resolvido. A reforçar esta posição estão as permanentes opiniões de vários cidadãos feirenses que solicitam a criação de zonas industrias e mais áreas de construção preferente. Dizem alguns que construção é sinónimo de desenvolvimento. Dizem outros ainda que, a sua freguesia terá de contemplar a tão desejada zona industrial para evitar a perca desse valor económico e social.
Creio, que nesta questão há quase uma absoluta falta de razão.
Em primeiro porque a construção não é necessariamente sinónimo de desenvolvimento; por outro lado, porque temos de nos convencer que não é possível contemplar cada uma das freguesias do concelho com zonas industriais, mantendo os níveis ambientais e vivênciais de forma equilibrada.
A possibilidade de definir de uma forma concertada, tendo em conta aspectos de âmbito social, urbanístico, ambiental e acessibilidades, a organização funcional (organograma) do concelho, apresenta-se como a base para um futuro em que seja possível a reconciliação do homem com a natureza.
Logo, temos de encarar a possibilidade de, em conjunto, encontrar-mos uma fórmula que dê resposta a todos esses anseios. A deslocalização de industrias que se encontrem em aglomerados urbanos e a possibilidade de construção de novas unidades em áreas industriais criadas de raiz é necessário que seja encarado positivamente pelos empresários.
A criação de três grandes zonas industriais (devidamente infra-estruturadas) que estabeleçam uma plataforma triangular de correlações funcionais, apresenta-se, na minha opinião, como garantia para um grande passo no desenvolvimento económico/social do concelho.
Julgo que essas três áreas poderão ser encaradas como base para surgirem parques industriais temáticos: área sul do concelho – preferencialmente destinada à indústria do calçado; área norte – indústria corticeira; área nordeste ou central – industria ligada aos têxteis, metalurgia e construção.
O critério de implementação deverá ter em conta as acessibilidades bem como a procura da sua correcta integração na paisagem, definindo para isso, os conceitos de ordem funcional, estética, social e económica.
A ideia de que na cidade e no urbanismo existem quatro funções: habitar, trabalhar, circular e recrear é pertinente.
O objectivo é não as encarar de forma isolada.
(Junho de 2001)
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