quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Reflectindo a cidade: um corpo em permanente mutação

A cidade não é mais do que uma parte do conjunto económico, social e político, que constitui a região.
Quando se fala em cidade, há que fazer uma análise teórica desse mesmo termo:
- Cenário físico da vida humana – objecto dos arquitectos e dos historiadores de arquitectura;
- Cidade como corpo social – objecto dos políticos e historiadores em geral.

A palavra cidade é adoptada em dois sentidos para indicar uma organização da sociedade concentrada e integrada, que começa à cinco mil anos no Próximo Oriente e que desde então se identifica com a sociedade civil; ou então, para identificar o cenário físico dessa sociedade.

O cenário físico de uma sociedade é mais duradouro do que a própria sociedade, e pode ainda encontrar-se reduzido a ruínas ou então em pleno funcionamento, quando a sociedade que o produziu já há muito desaparecera – as chamadas zonas históricas.

Nos últimos tempos muito se tem falado e escrito sobre o aparecimento e constituição de novas cidades. A elevação de vilas a cidade pode ser encarada como factor importante e basilar, no sentido de determinar um maior desenvolvimento de determinada região ou freguesia.
No entanto, é inevitável e fundamental uma abordagem mais profunda nessa matéria, no sentido de, pelos menos, se agitarem consciências, se mudarem formas de pensar, formas de estar. Só assim se chegará a uma sociedade em que o espaço físico e o espaço social se possam interligar harmoniosamente e de uma forma equilibrada.

Ao falar de cidade necessitamos, obrigatoriamente, de falar em urbanismo com as suas quatro funções:
Habitar, Trabalhar, Recrear (horas livres), Circular;
Ou seja, uma cidade tem, inevitavelmente, de conciliar estas quatro funções por forma a que possa funcionar como tal e que possa ser um excedente de bem estar para os seus habitantes e utilizadores.

Por tudo isso, a cidade deve, antes de mais, ser estudada dentro do contexto da sua região de influência (concelho). Logo, o planeamento da cidade não é mais do que um dos elementos deste todo que constitui o Plano Regional.
A cidade deve assegurar, no campo espiritual e material, a liberdade individual e o benefício da acção colectiva.
Assim, poderá aparecer como uma unidade funcional, que deverá crescer harmoniosamente em cada uma das suas partes, dispondo de espaços e ligações onde se poderão marcar, equilibradamente, as fases do seu crescimento.
Entende-se por fases de crescimento a perfeita percepção, harmonização e interligação entre as diferentes fases da história que fizeram a cidade ou região. Além de que, como é do domínio geral, o que define a história de qualquer lugar, região ou país é, sem dúvida alguma a sua estrutura urbana e componente arquitectónica, que obviamente foram executadas pelas suas gentes tendo em conta o seu modo de vida e suas diferentes motivações culturais.

Logo, uma cidade é algo mais do que o somatório dos seus habitantes: é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem (independentemente de outras razões) viver em comunidade a viverem isoladas.

Portanto, não posso deixar de, nesta fase, equacionar a elevação das vilas de Lourosa e Fiães a cidade. Não se trata de fechar portas a um eventual desenvolvimento mas sim de entender ser mais benéfico um outro modelo de estrutura e vida urbana que, neste momento essas duas Vilas poderão ainda não ter.
Não é que não tenham capacidades de as vir a Ter, mas, neste espaço temporal em que nos encontramos, não creio que, por si só, isoladas, se consigam auto-desenvolver e sustentar da forma mais correcta.
Até porque, não existem mecanismos sólidos e eficazes que consigam regular em pleno o uso do solo e as vantagens que daí poderiam advir.

Assim, o modelo que defendo, passa por tentar encontrar uma solução que permita uma evolução e desenvolvimento urbano da cidade da Feira, sede de concelho – por isso, centro social e político, e com um modelo já mais ou menos definido de cidade, que se interligue com os núcleos urbanos populosos em seu redor (S. J. Vêr, Lamas, Lourosa e mesmo Fiães –se bem que esta última se encontre “separada” das outras pela EN 1) , para que assim se forme uma URBE. - A partir daí, em seu redor e convenientemente interligados (física, social e culturalmente) se desenvolveriam todas as outras freguesias que funcionariam como “bolsas” com carácter mais tradicional, e de descompressão da vida citadina.

Trata-se de um modelo que, paralelamente, ou se quisermos, “independentemente” dos outros, poderá ser por todos analisado e, de certeza, complementado...

(Junho de 2000)

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