O clima na Terra está a mudar. Secas na Amazónia, enchentes na América do Sul, expansão da malária e outras doenças, o derrentimento dos gelos próximos dos polos do planeta com a diminuição dos habitats de pinguins e ursos polares são fenómenos cada vez mais presentes nos noticiários e publicações da especialidade. Os especialistas afirmam que estas são as primeiras manifestações das mudanças climatéricas que enfrentaremos num futuro próximo, provocadas por alterações na composição química da atmosfera do Planeta.
A indústria, a produção de energia e o transporte queimam quantidades enormes de petróleo, carvão mineral e gás natural, gerando anualmente, bilhões de toneladas de dióxido de carbono que são lançadas à atmosfera, alterando assim o seu delicado equilíbrio. O problema é que o dióxido de carbono actua na atmosfera como as paredes de vidro numa estufa de plantas, segurando parte do calor que, na sua ausência seria difundido para o universo. É vulgarmente chamado efeito de estufa.
Se queimarmos mais de um quarto das reservas hoje conhecidas de petróleo e outros combustíveis fósseis estaremos a quebrar de vez o equilíbrio climático e a hipotecar , talvez, o futuro das novas gerações.
Esse futuro incerto pode ser amenizado. Todos os dias o Sol nos envia energia mais do que suficiente para a satisfação das necessidades presentes e futuras da humanidade. As tecnologias de aproveitamento da energia solar e de outras fontes renováveis de energia estão disponíveis.
Assim, dentro deste “novo” conceito, e numa época em que se acentuam as preocupações ambientais na comunidade em geral, uma das muitas alternativas que podem testemunhar a nossa “(co)relação” com o meio, pode passar pelas “casas ecológicas”. E o que é isto de casas ecológicas?
Em primeiro lugar, deve-se dizer que o princípio assenta no máximo aproveitamento nos recursos naturais existentes em cada local, como o sol, o vento e a vegetação. É essa lógica que sustenta a arquitectura bioclimática, a que também se chama arquitectura solar passiva.
Chama-se a isto a optimização ambiental e energética de edifícios, bairros ou áreas urbanas. Com o aproveitamento dos recursos naturais, pode-se assistir a uma extraordinária redução do consumo de energia, que se traduzirá num maior respeito pelo ambiente bem como numa maior economia em termos financeiros de cada família, de cada comunidade.
Poder-se-íam dar numerosas formas de como esta técnica funciona. Por exemplo, nas fachadas de edifícios voltadas a Sul, deve-se, tanto quanto possível, dotá-las de amplas zonas envidraçadas como forma de aproveitamento do sol; de seguida podem plantar-se árvores de folha caduca, de forma a sombrear no verão e Ter sol no inverno; as fachadas a norte, como são zonas sem incidência solar, podem-se proteger dos ventos através de vegetação de folha persistente, etc., etc..
Com estas e outras soluções, impede-se assim o aquecimento vindo do exterior no verão e a fuga de calor no inverno. Com bons isolamentos térmicos, mas sem ar condicionado.
No entanto, as vantagens para o ambiente das casas ecológicas passam necessariamente por uma perspectiva mais ampla, e não apenas individual, de criação deste tipo de construções. As urbanizações ecológicas, que permitirão uma melhor qualidade de vida e ambiental em espaços urbanos mais densamente povoados, serão num futuro (espero que) próximo a solução.
No nosso país podemos assistir a alguns recentes exemplos, principalmente na área urbana da zona oriental de Lisboa – Expo 98. É o caso da Torre Verde, que foi o primeiro edifício habitacional bioclimático, e onde se aplicam os princípios da arquitectura solar passiva, que possui igualmente painéis solares na cobertura. Atinge-se assim uma redução de consumo de energias convencionais em 80% e de 70% em emissões de dióxido de carbono. O espectacular Pavilhão Multiusos (Pavilhão da Utopia durante a Expo) foi também um dos edifícios optimizados do ponto de vista ambiental e energético. Os seus projectistas e promotores apostaram na ventilação e iluminação natural, elevado isolamento térmico e pré-arrefecimento do ar fornecido através da água do rio.
Tudo isto, poderá parecer um pouco estranho e, eventualmente despropositado. E até mesmo, uma gota no oceano no panorama da defesa de uma melhor qualidade ambiental.
Mas, como diria alguém “...a vida é feita de pequenos nadas...”.
(Setembro de 1999)
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