A propósito da possibilidade (ao que parece, é um dado adquirido) da transferência da Exponor para território de Santa Maria da Feira, mais concretamente para a área envolvente ao Europarque, importa tecer algumas considerações que, eventualmente, possam ser tidas como um válido contributo no profícuo debate que, certamente, decorrerá no seio da comunidade feirense.
É que, pelo que vai sendo globalmente aceite, a questão é mesmo muito importante para o nosso município, na medida em que, trará mais desenvolvimento económico, possibilitará a criação de centenas de postos de trabalho, de áreas urbanas e equipamentos de qualidade, campos de golfe, estruturas hoteleiras, etc, etc, etc...
No entanto, permito-me recusar participar nesta “conspiração eclética” de conferir, levianamente, a esta (ou a outra qualquer) eventual acção, elevados ou diminutos graus na sua contribuição para o desenvolvimento de Santa Maria da Feira, enquanto espaço físico-social onde co-habita quase 1% da população portuguesa.
Começo, aliás, por referir que a minha forma de ser me obriga a não ferver em lume brando e a não arriscar conclusões precipitadas na avaliação de uma qualquer, mais ou menos mediática, operação de natureza económica, social e urbana. Portanto, procurarei, independentemente do sentimento regionalista ou meramente bairrista, analisar com um certo desprendimento, os possíveis resultados da coisa, tendo em conta o binómio projecto-investimento/situação ocasional.
Se é verdade que a vinda da Exponor para a Feira é uma questão que todos nós devemos acolher com agrado, não é menos verdade que será agora, nesta fase, a conceptual, que será necessário definir a forma e os critérios de ocupação daquele espaço, como área de inovação tecnológica que aproveite as sinergias humanas e económicas existentes neste concelho, bem como a sua localização estratégica a sul da Grande Área Metropolitana do Porto e da grande região do noroeste ibérico.
Ao mesmo tempo, a confirmar-se, esta será talvez, depois da Expo 98, a possibilidade que o país e Santa Maria da Feira têm de mostrar à Europa que também é possível fazer projectos de qualidade, integrados na cidade e na região, qualificados urbana e paisagisticamente, que funcionem como um pólo aglutinador de desenvolvimento económico e social.
Nesse sentido, importará assegurar que o grandioso projecto não irrompa apenas como encenação faraónica ao jeito de uma qualquer segunda Quinta do Lago, segregadora, sem identidade, não diversificada, e que se permita excluir de toda a lógica vivencial e das pessoas de Santa Maria da Feira.
Mais uma vez, será de (re)lembrar que o metropolitano de superfície está já ali na Avenida da República de Gaia, que o Aeroporto Francisco Sá Carneiro se encontra a pouco mais de 30 quilómetros, que o porto de Aveiro é aqui ao lado, que a dez minutos de automóvel se poderá desfrutar de uma extensa costa atlântica, que o centro histórico da feira pode e tem potencial para ser revitalizado, que as termas de Caldas de S. Jorge esperam e fornecem banhos retemperadores, que a visita ao Douro vinhateiro também pode começar no Porto Carvoeiro...
Ou seja, o novo e importante projecto não se poderá dissociar de toda uma lógica vivencial existente ou a programar em seu redor, ao mesmo tempo que deverá ser capaz de antecipar, com o intervalo de uma geração, aquilo em que se poderá tornar Santa Maria da Feira bem como a Grande Região Metropolitana do Porto.
Como em tempos referi, todas estas questões de natureza urbana e económica, não se poderão afastar muito de uma combinação singular com a seguinte dimensão: o investimento voluntarista na reconstituição do tecido social de solidariedade. - Este é um caminho por (re)descobrir, e sobre o qual temos pensado pouco. Estou a falar, por exemplo, do envolvimento da população na valorização dos serviços de proximidade, nas formas de economia social, no envolvimento dos comerciantes e empresários locais na promoção e desenvolvimento da região…
Portanto, a questão reside em saber como exprimir as vantagens da iniciativa, isto é, como explicar que, sendo este investimento privado, uma estrutura ou equipamento desejado por todos, como é que se evitará que ele se auto-exclua da dinâmica participativa da população que, neste caso, deveria ficar assegurada pelos seus legítimos representantes, nomeadamente a Câmara Municipal.
Creio estar tudo em aberto.
E tudo isto, “sem ferver em lume brando”…
(Dezembro de 2005)
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Capacidade de Gestão
Porque razão, recentemente, se tem falado tanto em capacidade de gestão? Ninguém sabe. Alguns políticos do nosso burgo talvez saibam (uma vez que sabem um grande número de coisas) mas não dizem ou não desenvolvem.
Pois eu, meus caros, recuso-me a participar nesta conspiração eclética de conferir, levianamente, a determinadas personagens, elevados ou diminutos graus na capacidade de gestão da coisa.
Começo, aliás, por dizer que... não “alinho na onda” e tento não arriscar conclusões precipitadas na avaliação do desempenho de um qualquer dirigente. Portanto, procuro, independentemente do gosto cromático da discussão, analisar com independência e rigor os resultados de qualquer desempenho, tendo em conta o binómio projecto-investimento/situação ocasional.
A verdade é que não é fácil avaliar.
Da última vez que tentei julgar positivamente a actividade dos nossos governantes, tive uma enorme surpresa. Ou talvez não.
Falo por exemplo da criação e desenvolvimento das grandes áreas metropolitanas, Depois daquele “motivador” debate, o que foi feito? Ou ainda da regionalização...
Entendo, portanto, que a tal avaliação de desempenho ou da famosa capacidade de gestão deve ser feita através daquilo a que, em linguagem corrente se chama Tempo.
E se alguns, ano após ano, se vão repetindo e martirizando com a esperança de idealizar o não adiamento do dito desenvolvimento e dos resultados, outros há, que, confrontados com os mais invariáveis imprevistos, darão o mote para o desenvolvimento, sustentabilidade e prestígio das instituições ou organizações que lideram, facto que, inevitavelmente, nos aconselha a pensar.
Há dias, a jornalista e escritora Clara Ferreira Alves dizia “…Ando há anos a educar este povo…”. Meus amigos, eu, ao contrário dela, procuro há anos educar-me com este povo.
E por isso é que cada um, per sí, deverá avaliar e reflectir, para finalmente, poder julgar.
Serenamente...
Pois eu, meus caros, recuso-me a participar nesta conspiração eclética de conferir, levianamente, a determinadas personagens, elevados ou diminutos graus na capacidade de gestão da coisa.
Começo, aliás, por dizer que... não “alinho na onda” e tento não arriscar conclusões precipitadas na avaliação do desempenho de um qualquer dirigente. Portanto, procuro, independentemente do gosto cromático da discussão, analisar com independência e rigor os resultados de qualquer desempenho, tendo em conta o binómio projecto-investimento/situação ocasional.
A verdade é que não é fácil avaliar.
Da última vez que tentei julgar positivamente a actividade dos nossos governantes, tive uma enorme surpresa. Ou talvez não.
Falo por exemplo da criação e desenvolvimento das grandes áreas metropolitanas, Depois daquele “motivador” debate, o que foi feito? Ou ainda da regionalização...
Entendo, portanto, que a tal avaliação de desempenho ou da famosa capacidade de gestão deve ser feita através daquilo a que, em linguagem corrente se chama Tempo.
E se alguns, ano após ano, se vão repetindo e martirizando com a esperança de idealizar o não adiamento do dito desenvolvimento e dos resultados, outros há, que, confrontados com os mais invariáveis imprevistos, darão o mote para o desenvolvimento, sustentabilidade e prestígio das instituições ou organizações que lideram, facto que, inevitavelmente, nos aconselha a pensar.
Há dias, a jornalista e escritora Clara Ferreira Alves dizia “…Ando há anos a educar este povo…”. Meus amigos, eu, ao contrário dela, procuro há anos educar-me com este povo.
E por isso é que cada um, per sí, deverá avaliar e reflectir, para finalmente, poder julgar.
Serenamente...
sábado, 25 de agosto de 2007
Atitudes Sustentáveis
Motivar o aparecimento de acções integradas que permitam um crescimento equilibrado e sustentado de uma região é, sem dúvida alguma, um objectivo comum que servirá de base para uma orientação global na revisão dos Planos Directores Municipais existentes no país.
Hoje, mais do que nunca, há uma quase completa percepção de que na essência, todos os problemas são comuns. Os obstáculos ao desenvolvimento dos diferentes municípios de cada distrito ou região vão no mesmo sentido; as diferentes freguesias dentro de um mesmo concelho têm ambições equivalentes. Por isso, a diferenciação entre cada uma dessas estruturas no futuro, estará na forma e na sua capacidade de se reconciliarem com o espaço natural e os seus habitantes.
Aliás, essa é a questão basilar na definição de critérios e directrizes para a ocupação do solo. A procura de filosofias de orientação para cada freguesia ou cidade, a existência de um “mote”, um motivo, um “para onde vamos?”, é absolutamente fundamental para a criação de um modelo de gestão que assegure um futuro de atitudes compatíveis com um desenvolvimento integrado e sustenta(do)vel.
Tudo isto a propósito das ideias que circulam no concelho, e que têm a ver com a revisão do Plano Director e particularmente com a hipotética criação de novas zonas industriais.
Como será do domínio geral, Santa Maria da Feira possui algumas particularidades que importam reflectir numa primeira fase. É uma região que ao longo de muitos anos foi alvo dos mais diversos tipos de iniciativas e investimentos financeiros, tanto comerciais como industriais, públicos ou privados, que sem dúvida alguma trouxeram fontes de riqueza e de mão-de-obra que nos colocam num dos concelhos mais ricos do distrito ou mesmo do país.
No entanto, é evidente que a coexistência de industrias em aglomerados populacionais ou urbanos aparece como um real constrangimento a uma assimilação de uma correcta qualidade vivêncial que se espera nos dias de hoje.
Efectivamente, as características morfológicas do território de Santa Maria da Feira apresentaram-se desde sempre como um constrangimento a um regular crescimento das diversas estruturas industriais ou armazéns. Se por um lado, equipamentos de carácter familiar se foram transformando em grandes unidades geradores de mão-de-obra, a não existência de regras claras na legislação, foi contribuindo para que, dentro dos próprios aglomerados urbanos, surgissem grandes conjuntos industriais.
No entanto, com a elaboração e aprovação do Plano Director Municipal em 1993, houve então, o início de uma estratégia que visava essencialmente, a ordenação do território e uma melhor orientação programática do concelho.
Foram definidas várias áreas destinadas a indústrias, criados alguns parques industriais, mas que rapidamente atingiram níveis de ocupação que nos permitem assegurar que o problema ainda não está totalmente resolvido. A reforçar esta posição estão as permanentes opiniões de vários cidadãos feirenses que solicitam a criação de zonas industrias e mais áreas de construção preferente. Dizem alguns que construção é sinónimo de desenvolvimento. Dizem outros ainda que, a sua freguesia terá de contemplar a tão desejada zona industrial para evitar a perca desse valor económico e social.
Creio, que nesta questão há quase uma absoluta falta de razão.
Em primeiro porque a construção não é necessariamente sinónimo de desenvolvimento; por outro lado, porque temos de nos convencer que não é possível contemplar cada uma das freguesias do concelho com zonas industriais, mantendo os níveis ambientais e vivênciais de forma equilibrada.
A possibilidade de definir de uma forma concertada, tendo em conta aspectos de âmbito social, urbanístico, ambiental e acessibilidades, a organização funcional (organograma) do concelho, apresenta-se como a base para um futuro em que seja possível a reconciliação do homem com a natureza.
Logo, temos de encarar a possibilidade de, em conjunto, encontrar-mos uma fórmula que dê resposta a todos esses anseios. A deslocalização de industrias que se encontrem em aglomerados urbanos e a possibilidade de construção de novas unidades em áreas industriais criadas de raiz é necessário que seja encarado positivamente pelos empresários.
A criação de três grandes zonas industriais (devidamente infra-estruturadas) que estabeleçam uma plataforma triangular de correlações funcionais, apresenta-se, na minha opinião, como garantia para um grande passo no desenvolvimento económico/social do concelho.
Julgo que essas três áreas poderão ser encaradas como base para surgirem parques industriais temáticos: área sul do concelho – preferencialmente destinada à indústria do calçado; área norte – indústria corticeira; área nordeste ou central – industria ligada aos têxteis, metalurgia e construção.
O critério de implementação deverá ter em conta as acessibilidades bem como a procura da sua correcta integração na paisagem, definindo para isso, os conceitos de ordem funcional, estética, social e económica.
A ideia de que na cidade e no urbanismo existem quatro funções: habitar, trabalhar, circular e recrear é pertinente.
O objectivo é não as encarar de forma isolada.
(Junho de 2001)
Hoje, mais do que nunca, há uma quase completa percepção de que na essência, todos os problemas são comuns. Os obstáculos ao desenvolvimento dos diferentes municípios de cada distrito ou região vão no mesmo sentido; as diferentes freguesias dentro de um mesmo concelho têm ambições equivalentes. Por isso, a diferenciação entre cada uma dessas estruturas no futuro, estará na forma e na sua capacidade de se reconciliarem com o espaço natural e os seus habitantes.
Aliás, essa é a questão basilar na definição de critérios e directrizes para a ocupação do solo. A procura de filosofias de orientação para cada freguesia ou cidade, a existência de um “mote”, um motivo, um “para onde vamos?”, é absolutamente fundamental para a criação de um modelo de gestão que assegure um futuro de atitudes compatíveis com um desenvolvimento integrado e sustenta(do)vel.
Tudo isto a propósito das ideias que circulam no concelho, e que têm a ver com a revisão do Plano Director e particularmente com a hipotética criação de novas zonas industriais.
Como será do domínio geral, Santa Maria da Feira possui algumas particularidades que importam reflectir numa primeira fase. É uma região que ao longo de muitos anos foi alvo dos mais diversos tipos de iniciativas e investimentos financeiros, tanto comerciais como industriais, públicos ou privados, que sem dúvida alguma trouxeram fontes de riqueza e de mão-de-obra que nos colocam num dos concelhos mais ricos do distrito ou mesmo do país.
No entanto, é evidente que a coexistência de industrias em aglomerados populacionais ou urbanos aparece como um real constrangimento a uma assimilação de uma correcta qualidade vivêncial que se espera nos dias de hoje.
Efectivamente, as características morfológicas do território de Santa Maria da Feira apresentaram-se desde sempre como um constrangimento a um regular crescimento das diversas estruturas industriais ou armazéns. Se por um lado, equipamentos de carácter familiar se foram transformando em grandes unidades geradores de mão-de-obra, a não existência de regras claras na legislação, foi contribuindo para que, dentro dos próprios aglomerados urbanos, surgissem grandes conjuntos industriais.
No entanto, com a elaboração e aprovação do Plano Director Municipal em 1993, houve então, o início de uma estratégia que visava essencialmente, a ordenação do território e uma melhor orientação programática do concelho.
Foram definidas várias áreas destinadas a indústrias, criados alguns parques industriais, mas que rapidamente atingiram níveis de ocupação que nos permitem assegurar que o problema ainda não está totalmente resolvido. A reforçar esta posição estão as permanentes opiniões de vários cidadãos feirenses que solicitam a criação de zonas industrias e mais áreas de construção preferente. Dizem alguns que construção é sinónimo de desenvolvimento. Dizem outros ainda que, a sua freguesia terá de contemplar a tão desejada zona industrial para evitar a perca desse valor económico e social.
Creio, que nesta questão há quase uma absoluta falta de razão.
Em primeiro porque a construção não é necessariamente sinónimo de desenvolvimento; por outro lado, porque temos de nos convencer que não é possível contemplar cada uma das freguesias do concelho com zonas industriais, mantendo os níveis ambientais e vivênciais de forma equilibrada.
A possibilidade de definir de uma forma concertada, tendo em conta aspectos de âmbito social, urbanístico, ambiental e acessibilidades, a organização funcional (organograma) do concelho, apresenta-se como a base para um futuro em que seja possível a reconciliação do homem com a natureza.
Logo, temos de encarar a possibilidade de, em conjunto, encontrar-mos uma fórmula que dê resposta a todos esses anseios. A deslocalização de industrias que se encontrem em aglomerados urbanos e a possibilidade de construção de novas unidades em áreas industriais criadas de raiz é necessário que seja encarado positivamente pelos empresários.
A criação de três grandes zonas industriais (devidamente infra-estruturadas) que estabeleçam uma plataforma triangular de correlações funcionais, apresenta-se, na minha opinião, como garantia para um grande passo no desenvolvimento económico/social do concelho.
Julgo que essas três áreas poderão ser encaradas como base para surgirem parques industriais temáticos: área sul do concelho – preferencialmente destinada à indústria do calçado; área norte – indústria corticeira; área nordeste ou central – industria ligada aos têxteis, metalurgia e construção.
O critério de implementação deverá ter em conta as acessibilidades bem como a procura da sua correcta integração na paisagem, definindo para isso, os conceitos de ordem funcional, estética, social e económica.
A ideia de que na cidade e no urbanismo existem quatro funções: habitar, trabalhar, circular e recrear é pertinente.
O objectivo é não as encarar de forma isolada.
(Junho de 2001)
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Reflectindo a cidade: um corpo em permanente mutação
A cidade não é mais do que uma parte do conjunto económico, social e político, que constitui a região.
Quando se fala em cidade, há que fazer uma análise teórica desse mesmo termo:
- Cenário físico da vida humana – objecto dos arquitectos e dos historiadores de arquitectura;
- Cidade como corpo social – objecto dos políticos e historiadores em geral.
A palavra cidade é adoptada em dois sentidos para indicar uma organização da sociedade concentrada e integrada, que começa à cinco mil anos no Próximo Oriente e que desde então se identifica com a sociedade civil; ou então, para identificar o cenário físico dessa sociedade.
O cenário físico de uma sociedade é mais duradouro do que a própria sociedade, e pode ainda encontrar-se reduzido a ruínas ou então em pleno funcionamento, quando a sociedade que o produziu já há muito desaparecera – as chamadas zonas históricas.
Nos últimos tempos muito se tem falado e escrito sobre o aparecimento e constituição de novas cidades. A elevação de vilas a cidade pode ser encarada como factor importante e basilar, no sentido de determinar um maior desenvolvimento de determinada região ou freguesia.
No entanto, é inevitável e fundamental uma abordagem mais profunda nessa matéria, no sentido de, pelos menos, se agitarem consciências, se mudarem formas de pensar, formas de estar. Só assim se chegará a uma sociedade em que o espaço físico e o espaço social se possam interligar harmoniosamente e de uma forma equilibrada.
Ao falar de cidade necessitamos, obrigatoriamente, de falar em urbanismo com as suas quatro funções:
Habitar, Trabalhar, Recrear (horas livres), Circular;
Ou seja, uma cidade tem, inevitavelmente, de conciliar estas quatro funções por forma a que possa funcionar como tal e que possa ser um excedente de bem estar para os seus habitantes e utilizadores.
Por tudo isso, a cidade deve, antes de mais, ser estudada dentro do contexto da sua região de influência (concelho). Logo, o planeamento da cidade não é mais do que um dos elementos deste todo que constitui o Plano Regional.
A cidade deve assegurar, no campo espiritual e material, a liberdade individual e o benefício da acção colectiva.
Assim, poderá aparecer como uma unidade funcional, que deverá crescer harmoniosamente em cada uma das suas partes, dispondo de espaços e ligações onde se poderão marcar, equilibradamente, as fases do seu crescimento.
Entende-se por fases de crescimento a perfeita percepção, harmonização e interligação entre as diferentes fases da história que fizeram a cidade ou região. Além de que, como é do domínio geral, o que define a história de qualquer lugar, região ou país é, sem dúvida alguma a sua estrutura urbana e componente arquitectónica, que obviamente foram executadas pelas suas gentes tendo em conta o seu modo de vida e suas diferentes motivações culturais.
Logo, uma cidade é algo mais do que o somatório dos seus habitantes: é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem (independentemente de outras razões) viver em comunidade a viverem isoladas.
Portanto, não posso deixar de, nesta fase, equacionar a elevação das vilas de Lourosa e Fiães a cidade. Não se trata de fechar portas a um eventual desenvolvimento mas sim de entender ser mais benéfico um outro modelo de estrutura e vida urbana que, neste momento essas duas Vilas poderão ainda não ter.
Não é que não tenham capacidades de as vir a Ter, mas, neste espaço temporal em que nos encontramos, não creio que, por si só, isoladas, se consigam auto-desenvolver e sustentar da forma mais correcta.
Até porque, não existem mecanismos sólidos e eficazes que consigam regular em pleno o uso do solo e as vantagens que daí poderiam advir.
Assim, o modelo que defendo, passa por tentar encontrar uma solução que permita uma evolução e desenvolvimento urbano da cidade da Feira, sede de concelho – por isso, centro social e político, e com um modelo já mais ou menos definido de cidade, que se interligue com os núcleos urbanos populosos em seu redor (S. J. Vêr, Lamas, Lourosa e mesmo Fiães –se bem que esta última se encontre “separada” das outras pela EN 1) , para que assim se forme uma URBE. - A partir daí, em seu redor e convenientemente interligados (física, social e culturalmente) se desenvolveriam todas as outras freguesias que funcionariam como “bolsas” com carácter mais tradicional, e de descompressão da vida citadina.
Trata-se de um modelo que, paralelamente, ou se quisermos, “independentemente” dos outros, poderá ser por todos analisado e, de certeza, complementado...
(Junho de 2000)
Quando se fala em cidade, há que fazer uma análise teórica desse mesmo termo:
- Cenário físico da vida humana – objecto dos arquitectos e dos historiadores de arquitectura;
- Cidade como corpo social – objecto dos políticos e historiadores em geral.
A palavra cidade é adoptada em dois sentidos para indicar uma organização da sociedade concentrada e integrada, que começa à cinco mil anos no Próximo Oriente e que desde então se identifica com a sociedade civil; ou então, para identificar o cenário físico dessa sociedade.
O cenário físico de uma sociedade é mais duradouro do que a própria sociedade, e pode ainda encontrar-se reduzido a ruínas ou então em pleno funcionamento, quando a sociedade que o produziu já há muito desaparecera – as chamadas zonas históricas.
Nos últimos tempos muito se tem falado e escrito sobre o aparecimento e constituição de novas cidades. A elevação de vilas a cidade pode ser encarada como factor importante e basilar, no sentido de determinar um maior desenvolvimento de determinada região ou freguesia.
No entanto, é inevitável e fundamental uma abordagem mais profunda nessa matéria, no sentido de, pelos menos, se agitarem consciências, se mudarem formas de pensar, formas de estar. Só assim se chegará a uma sociedade em que o espaço físico e o espaço social se possam interligar harmoniosamente e de uma forma equilibrada.
Ao falar de cidade necessitamos, obrigatoriamente, de falar em urbanismo com as suas quatro funções:
Habitar, Trabalhar, Recrear (horas livres), Circular;
Ou seja, uma cidade tem, inevitavelmente, de conciliar estas quatro funções por forma a que possa funcionar como tal e que possa ser um excedente de bem estar para os seus habitantes e utilizadores.
Por tudo isso, a cidade deve, antes de mais, ser estudada dentro do contexto da sua região de influência (concelho). Logo, o planeamento da cidade não é mais do que um dos elementos deste todo que constitui o Plano Regional.
A cidade deve assegurar, no campo espiritual e material, a liberdade individual e o benefício da acção colectiva.
Assim, poderá aparecer como uma unidade funcional, que deverá crescer harmoniosamente em cada uma das suas partes, dispondo de espaços e ligações onde se poderão marcar, equilibradamente, as fases do seu crescimento.
Entende-se por fases de crescimento a perfeita percepção, harmonização e interligação entre as diferentes fases da história que fizeram a cidade ou região. Além de que, como é do domínio geral, o que define a história de qualquer lugar, região ou país é, sem dúvida alguma a sua estrutura urbana e componente arquitectónica, que obviamente foram executadas pelas suas gentes tendo em conta o seu modo de vida e suas diferentes motivações culturais.
Logo, uma cidade é algo mais do que o somatório dos seus habitantes: é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem (independentemente de outras razões) viver em comunidade a viverem isoladas.
Portanto, não posso deixar de, nesta fase, equacionar a elevação das vilas de Lourosa e Fiães a cidade. Não se trata de fechar portas a um eventual desenvolvimento mas sim de entender ser mais benéfico um outro modelo de estrutura e vida urbana que, neste momento essas duas Vilas poderão ainda não ter.
Não é que não tenham capacidades de as vir a Ter, mas, neste espaço temporal em que nos encontramos, não creio que, por si só, isoladas, se consigam auto-desenvolver e sustentar da forma mais correcta.
Até porque, não existem mecanismos sólidos e eficazes que consigam regular em pleno o uso do solo e as vantagens que daí poderiam advir.
Assim, o modelo que defendo, passa por tentar encontrar uma solução que permita uma evolução e desenvolvimento urbano da cidade da Feira, sede de concelho – por isso, centro social e político, e com um modelo já mais ou menos definido de cidade, que se interligue com os núcleos urbanos populosos em seu redor (S. J. Vêr, Lamas, Lourosa e mesmo Fiães –se bem que esta última se encontre “separada” das outras pela EN 1) , para que assim se forme uma URBE. - A partir daí, em seu redor e convenientemente interligados (física, social e culturalmente) se desenvolveriam todas as outras freguesias que funcionariam como “bolsas” com carácter mais tradicional, e de descompressão da vida citadina.
Trata-se de um modelo que, paralelamente, ou se quisermos, “independentemente” dos outros, poderá ser por todos analisado e, de certeza, complementado...
(Junho de 2000)
Comentários? Porque não?
Ok. Não resisto.
Se bem que em fase experimental, desafio os leitores a deixarem o seu comentário aos meus post's.
Se estiverem para aí virados...
Se bem que em fase experimental, desafio os leitores a deixarem o seu comentário aos meus post's.
Se estiverem para aí virados...
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Uma nova vida nas cidades
O clima na Terra está a mudar. Secas na Amazónia, enchentes na América do Sul, expansão da malária e outras doenças, o derrentimento dos gelos próximos dos polos do planeta com a diminuição dos habitats de pinguins e ursos polares são fenómenos cada vez mais presentes nos noticiários e publicações da especialidade. Os especialistas afirmam que estas são as primeiras manifestações das mudanças climatéricas que enfrentaremos num futuro próximo, provocadas por alterações na composição química da atmosfera do Planeta.
A indústria, a produção de energia e o transporte queimam quantidades enormes de petróleo, carvão mineral e gás natural, gerando anualmente, bilhões de toneladas de dióxido de carbono que são lançadas à atmosfera, alterando assim o seu delicado equilíbrio. O problema é que o dióxido de carbono actua na atmosfera como as paredes de vidro numa estufa de plantas, segurando parte do calor que, na sua ausência seria difundido para o universo. É vulgarmente chamado efeito de estufa.
Se queimarmos mais de um quarto das reservas hoje conhecidas de petróleo e outros combustíveis fósseis estaremos a quebrar de vez o equilíbrio climático e a hipotecar , talvez, o futuro das novas gerações.
Esse futuro incerto pode ser amenizado. Todos os dias o Sol nos envia energia mais do que suficiente para a satisfação das necessidades presentes e futuras da humanidade. As tecnologias de aproveitamento da energia solar e de outras fontes renováveis de energia estão disponíveis.
Assim, dentro deste “novo” conceito, e numa época em que se acentuam as preocupações ambientais na comunidade em geral, uma das muitas alternativas que podem testemunhar a nossa “(co)relação” com o meio, pode passar pelas “casas ecológicas”. E o que é isto de casas ecológicas?
Em primeiro lugar, deve-se dizer que o princípio assenta no máximo aproveitamento nos recursos naturais existentes em cada local, como o sol, o vento e a vegetação. É essa lógica que sustenta a arquitectura bioclimática, a que também se chama arquitectura solar passiva.
Chama-se a isto a optimização ambiental e energética de edifícios, bairros ou áreas urbanas. Com o aproveitamento dos recursos naturais, pode-se assistir a uma extraordinária redução do consumo de energia, que se traduzirá num maior respeito pelo ambiente bem como numa maior economia em termos financeiros de cada família, de cada comunidade.
Poder-se-íam dar numerosas formas de como esta técnica funciona. Por exemplo, nas fachadas de edifícios voltadas a Sul, deve-se, tanto quanto possível, dotá-las de amplas zonas envidraçadas como forma de aproveitamento do sol; de seguida podem plantar-se árvores de folha caduca, de forma a sombrear no verão e Ter sol no inverno; as fachadas a norte, como são zonas sem incidência solar, podem-se proteger dos ventos através de vegetação de folha persistente, etc., etc..
Com estas e outras soluções, impede-se assim o aquecimento vindo do exterior no verão e a fuga de calor no inverno. Com bons isolamentos térmicos, mas sem ar condicionado.
No entanto, as vantagens para o ambiente das casas ecológicas passam necessariamente por uma perspectiva mais ampla, e não apenas individual, de criação deste tipo de construções. As urbanizações ecológicas, que permitirão uma melhor qualidade de vida e ambiental em espaços urbanos mais densamente povoados, serão num futuro (espero que) próximo a solução.
No nosso país podemos assistir a alguns recentes exemplos, principalmente na área urbana da zona oriental de Lisboa – Expo 98. É o caso da Torre Verde, que foi o primeiro edifício habitacional bioclimático, e onde se aplicam os princípios da arquitectura solar passiva, que possui igualmente painéis solares na cobertura. Atinge-se assim uma redução de consumo de energias convencionais em 80% e de 70% em emissões de dióxido de carbono. O espectacular Pavilhão Multiusos (Pavilhão da Utopia durante a Expo) foi também um dos edifícios optimizados do ponto de vista ambiental e energético. Os seus projectistas e promotores apostaram na ventilação e iluminação natural, elevado isolamento térmico e pré-arrefecimento do ar fornecido através da água do rio.
Tudo isto, poderá parecer um pouco estranho e, eventualmente despropositado. E até mesmo, uma gota no oceano no panorama da defesa de uma melhor qualidade ambiental.
Mas, como diria alguém “...a vida é feita de pequenos nadas...”.
(Setembro de 1999)
A indústria, a produção de energia e o transporte queimam quantidades enormes de petróleo, carvão mineral e gás natural, gerando anualmente, bilhões de toneladas de dióxido de carbono que são lançadas à atmosfera, alterando assim o seu delicado equilíbrio. O problema é que o dióxido de carbono actua na atmosfera como as paredes de vidro numa estufa de plantas, segurando parte do calor que, na sua ausência seria difundido para o universo. É vulgarmente chamado efeito de estufa.
Se queimarmos mais de um quarto das reservas hoje conhecidas de petróleo e outros combustíveis fósseis estaremos a quebrar de vez o equilíbrio climático e a hipotecar , talvez, o futuro das novas gerações.
Esse futuro incerto pode ser amenizado. Todos os dias o Sol nos envia energia mais do que suficiente para a satisfação das necessidades presentes e futuras da humanidade. As tecnologias de aproveitamento da energia solar e de outras fontes renováveis de energia estão disponíveis.
Assim, dentro deste “novo” conceito, e numa época em que se acentuam as preocupações ambientais na comunidade em geral, uma das muitas alternativas que podem testemunhar a nossa “(co)relação” com o meio, pode passar pelas “casas ecológicas”. E o que é isto de casas ecológicas?
Em primeiro lugar, deve-se dizer que o princípio assenta no máximo aproveitamento nos recursos naturais existentes em cada local, como o sol, o vento e a vegetação. É essa lógica que sustenta a arquitectura bioclimática, a que também se chama arquitectura solar passiva.
Chama-se a isto a optimização ambiental e energética de edifícios, bairros ou áreas urbanas. Com o aproveitamento dos recursos naturais, pode-se assistir a uma extraordinária redução do consumo de energia, que se traduzirá num maior respeito pelo ambiente bem como numa maior economia em termos financeiros de cada família, de cada comunidade.
Poder-se-íam dar numerosas formas de como esta técnica funciona. Por exemplo, nas fachadas de edifícios voltadas a Sul, deve-se, tanto quanto possível, dotá-las de amplas zonas envidraçadas como forma de aproveitamento do sol; de seguida podem plantar-se árvores de folha caduca, de forma a sombrear no verão e Ter sol no inverno; as fachadas a norte, como são zonas sem incidência solar, podem-se proteger dos ventos através de vegetação de folha persistente, etc., etc..
Com estas e outras soluções, impede-se assim o aquecimento vindo do exterior no verão e a fuga de calor no inverno. Com bons isolamentos térmicos, mas sem ar condicionado.
No entanto, as vantagens para o ambiente das casas ecológicas passam necessariamente por uma perspectiva mais ampla, e não apenas individual, de criação deste tipo de construções. As urbanizações ecológicas, que permitirão uma melhor qualidade de vida e ambiental em espaços urbanos mais densamente povoados, serão num futuro (espero que) próximo a solução.
No nosso país podemos assistir a alguns recentes exemplos, principalmente na área urbana da zona oriental de Lisboa – Expo 98. É o caso da Torre Verde, que foi o primeiro edifício habitacional bioclimático, e onde se aplicam os princípios da arquitectura solar passiva, que possui igualmente painéis solares na cobertura. Atinge-se assim uma redução de consumo de energias convencionais em 80% e de 70% em emissões de dióxido de carbono. O espectacular Pavilhão Multiusos (Pavilhão da Utopia durante a Expo) foi também um dos edifícios optimizados do ponto de vista ambiental e energético. Os seus projectistas e promotores apostaram na ventilação e iluminação natural, elevado isolamento térmico e pré-arrefecimento do ar fornecido através da água do rio.
Tudo isto, poderá parecer um pouco estranho e, eventualmente despropositado. E até mesmo, uma gota no oceano no panorama da defesa de uma melhor qualidade ambiental.
Mas, como diria alguém “...a vida é feita de pequenos nadas...”.
(Setembro de 1999)
(A)BALADA DAS ÁRVORES
Muitas das estradas do nosso país são caracterizadas pelas suas bordaduras de árvores de sombra, que lhes conferem um encanto especial e as distinguem das outras vias.
Quem não se recorda daquelas estradas que, numa tarde de Verão e a meio de uma viagem, conferem uma agradável sensação de frescura aliada àquela luz filtrada por esses túneis verdes. Ficam geralmente na memória as belas estradas Ribatejanas, as da zona do Buçaco ou as de algumas estâncias termais do nosso país.
Isto porque, nos últimos tempos, tem-se assistido a uma verdadeira “caça às árvores” nas bermas das estradas. E as razões, dizem, são até convincentes:
- As árvores fazem com que as estradas fiquem muito estreitas;
- As árvores antigas constituem um enorme perigo para os automobilistas e peões pela queda de folhas e ramos secos ou até mesmo das próprias árvores;
- A circulação numa estrada com árvores na berma provoca sonolência; etc...
Por outro lado, quando há zonas industriais ao longo das vias, a primeira coisa que os seus promotores fazem é uma devida terraplanagem, nivelamento do solo, e claro, arrancar todas as árvores existentes. Mesmo nos limites do terreno, em zonas onde não é permitido construir, procede-se ao abate das árvores.
Se assim não fosse, como é que seriam visíveis as imponentes instalações fabris e os grandiosos painéis publicitários ou ainda os néons de iluminação intermitente?
Quando se trata de moradias, nem pensar deixar árvores na frente! Como é que o povo poderia apreciar o esforço que o dono da casa (que em muitos casos teve influências migratórias) despendeu para construir a casa dos seus sonhos? Como é que poderia ver uma réplica da torre eiffel? Como é que poderia ver o galo de Barcelos em ponto grande? Como é que poderia ver aquelas estátuas de qualidade e desenho duvidoso? Enfim, a casa não pode ficar escondida e ensombrada pelo arvoredo.
Para finalizar, e atendendo a esta mania que alguns pseudo-profissionais da arquitectura e engenharia têm de programar as coisas, deixo-vos com esta pequena história:
- Imaginem uma região bastante conhecida pelas suas características naturais, pelo tipo de construções, pelo tipo de vivência – e que por tudo isto é procurada por muitos visitantes.
Para daí se retirarem proveitos, facilitando os acessos aos turistas, alargam-se as estradas, derrubando as árvores, surgem vias-rápidas, constróem-se grandes edifícios, desvirtua-se por vezes toda uma vivência e características de um todo...
O final da história poderia então ser este:
- No fim da rua, vai surgir um enorme shopping center, religiosamente decorado com enormes árvores e densa vegetação – em plástico, mas que até parece real – e, algumas paredes, serão apresentadas com pinturas de reconstituições perfeitas da paisagem entretanto desaparecida.
Tudo isto no interior.
E claro, com ar condicionado...
Estarei longe da verdade?
(Fevereiro de 1999)
Quem não se recorda daquelas estradas que, numa tarde de Verão e a meio de uma viagem, conferem uma agradável sensação de frescura aliada àquela luz filtrada por esses túneis verdes. Ficam geralmente na memória as belas estradas Ribatejanas, as da zona do Buçaco ou as de algumas estâncias termais do nosso país.
Isto porque, nos últimos tempos, tem-se assistido a uma verdadeira “caça às árvores” nas bermas das estradas. E as razões, dizem, são até convincentes:
- As árvores fazem com que as estradas fiquem muito estreitas;
- As árvores antigas constituem um enorme perigo para os automobilistas e peões pela queda de folhas e ramos secos ou até mesmo das próprias árvores;
- A circulação numa estrada com árvores na berma provoca sonolência; etc...
Por outro lado, quando há zonas industriais ao longo das vias, a primeira coisa que os seus promotores fazem é uma devida terraplanagem, nivelamento do solo, e claro, arrancar todas as árvores existentes. Mesmo nos limites do terreno, em zonas onde não é permitido construir, procede-se ao abate das árvores.
Se assim não fosse, como é que seriam visíveis as imponentes instalações fabris e os grandiosos painéis publicitários ou ainda os néons de iluminação intermitente?
Quando se trata de moradias, nem pensar deixar árvores na frente! Como é que o povo poderia apreciar o esforço que o dono da casa (que em muitos casos teve influências migratórias) despendeu para construir a casa dos seus sonhos? Como é que poderia ver uma réplica da torre eiffel? Como é que poderia ver o galo de Barcelos em ponto grande? Como é que poderia ver aquelas estátuas de qualidade e desenho duvidoso? Enfim, a casa não pode ficar escondida e ensombrada pelo arvoredo.
Para finalizar, e atendendo a esta mania que alguns pseudo-profissionais da arquitectura e engenharia têm de programar as coisas, deixo-vos com esta pequena história:
- Imaginem uma região bastante conhecida pelas suas características naturais, pelo tipo de construções, pelo tipo de vivência – e que por tudo isto é procurada por muitos visitantes.
Para daí se retirarem proveitos, facilitando os acessos aos turistas, alargam-se as estradas, derrubando as árvores, surgem vias-rápidas, constróem-se grandes edifícios, desvirtua-se por vezes toda uma vivência e características de um todo...
O final da história poderia então ser este:
- No fim da rua, vai surgir um enorme shopping center, religiosamente decorado com enormes árvores e densa vegetação – em plástico, mas que até parece real – e, algumas paredes, serão apresentadas com pinturas de reconstituições perfeitas da paisagem entretanto desaparecida.
Tudo isto no interior.
E claro, com ar condicionado...
Estarei longe da verdade?
(Fevereiro de 1999)
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Homem Simples... Homem do Porto!
Não temos dúvidas quanto à existência de poucas personalidades, cuja grandeza emocional, institucional e desportiva, nos remetem para o mais profundo sentimento sobre a nossa forma de “praticar” cidadania.
Assim, uma enorme emoção inibe-me de o descrever através de rebuscadas adjectivações e palavras. Protejo-me por isso na expressão “Homem simples... Homem do Porto”.
Numa época em que o “(des)norte” parece evidente, continua a ser ele um dos poucos que vai remando contra as “marés” do centralismo cada vez mais desavergonhado da capital.
Apenas por uma, só uma razão: PORTO.
Com a simplicidade do costume, Jorge Nuno Pinto da Costa recebeu-nos no seu gabinete do “Dragão”, às 18 horas do dia 25 de Julho.
Motivo? - Agradecer a festa de homenagem realizada um mês antes pelos Amigos de Caldas de S. Jorge.
(um obrigado ao António que nos proporcionou esta memorável jornada)
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
E as outras pequenas Maddie’s?
Talvez um dia, ainda venha a ser um “case study”, a forma como o caso do desaparecimento da pequena Maddie tem sido tratado em (quase) todos os meios de comunicação social de âmbito nacional.
Existem diferentes opiniões sobre os reais benefícios que esta mediatização tem causado no razoável prosseguimento de toda a investigação policial.
De qualquer forma, uma coisa é certa: a cobertura efectuada desde a praia da luz, ao desaparecimento desta menina inglesa contrasta, fortemente, com o tratamento conferido no anterior caso da portuguesa “Joana”. Repare-se que a Joana nem sequer mereceu o adjectivo de proximidade “pequena”, como disse Pacheco Pereira.
É. Realmente o status, a classe, a condição social, a nacionalidade, o local das férias, as relações públicas, ainda pesam bastante naquilo a que os jornalistas vulgarmente apelidam por “linha editorial”.
Existem diferentes opiniões sobre os reais benefícios que esta mediatização tem causado no razoável prosseguimento de toda a investigação policial.
De qualquer forma, uma coisa é certa: a cobertura efectuada desde a praia da luz, ao desaparecimento desta menina inglesa contrasta, fortemente, com o tratamento conferido no anterior caso da portuguesa “Joana”. Repare-se que a Joana nem sequer mereceu o adjectivo de proximidade “pequena”, como disse Pacheco Pereira.
É. Realmente o status, a classe, a condição social, a nacionalidade, o local das férias, as relações públicas, ainda pesam bastante naquilo a que os jornalistas vulgarmente apelidam por “linha editorial”.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Traços
domingo, 12 de agosto de 2007
A identificação de um lugar
A identificação de um lugar é feita, muitas vezes, através de simples gestos, palavras ou frases. Mas, procurar para cada lugar uma única palavra que o defina, obriga a um arriscado exercício de síntese. No entanto, todo o imaginário em torno dos lugares e dos “sítios”, que se desenvolve também a partir de tensões e frustrações próprias de cada um, suporta a legitimidade desse exercício.
Se, por exemplo, Wim Wenders arriscou a sonoridade de Lisboa num filme, nós talvez pudéssemos arriscar a luz. Para Lisboa proporíamos assim o termo LUMINOSIDADE. Pensemos também em Aveiro. Para Aveiro, com todos os seus canais, proponho ... NAVEGABILIDADE. Para o Porto... Para o Porto a palavra PORTO, e assim por diante.
E Caldas de S. Jorge? Esse lugar, esse “sítio”?
Não temos quaisquer dúvidas quanto à existência de um forte e peculiar imaginário colectivo, até porque, esse lugar, viveu momentos de tensão permanentes. Viveu tempos em que o Uíma, esse rio único, suportava as alegrias e as tristezas daquelas gentes. Ponto de encontro. Lugar de trocas de conhecimento geracional. E o parque das termas? Elegante. Local de amores e desamores. Fonte de inspiração para as telas dos pintores mais desassossegados. Espaço onde as diferentes gerações cresceram e aprenderam a viver com a ressaca do jogo do faz de conta. Assim, para esta vila, uma grande emoção inibe-me de arriscar uma única palavra. Poderemos proteger-nos, portanto, com duas palavras: CENOGRAFIA E IMPONDERABILIDADE.
Cenografia própria de lugares cuja paisagem, habitantes e ambiente urbano, por si só, representam a memória de tempos passados e presentes. O outro lado do espelho.
Imponderabilidade porque esta palavra fez muito pela aldeia que agora é vila. Nesse lugar, quase irreal, existe uma norma constante e intransponível mesmo para os mais poderosos e que sobreviveu a todas as evoluções e transformações dos tempos. Uma norma muito simples. Essa norma é o sentimento de posse colectiva do espaço público – do parque. Este aspecto, aparentemente irrisório, produz a estabilidade necessária ao imaginário, por vezes sofrido, que a vila propõe.
E por isso é importante que o espaço seja animado. É importante que não se torne num local secundário, escuro e triste. Atrevo-me por isso a lançar o desafio de, numa recuperação e readaptação das ambiências existentes nos anos 50, 60 e 70, com os bailes e as sonoridades a “invadirem” toda aquela bolsa verde, ser criado um espaço vocacionado para a interpretação e recriação musical – quiçá um PIANO BAR – no átrium das termas (edifício primitivo) que possa capitalizar e trazer de volta toda a elegância que esse lugar merece, reforçando também assim, o carácter de democraticidade que ele encerra.
E, numa altura que muito se tem falado do turismo e na forma como este pode ser um polo capitalizador de desenvolvimento económico-social, base estratégica do desenvolvimento municipal, também existem desafios a lançar. Como já referi em “desabafos” anteriores, temos um caminho importante para (re)descobrir: o investimento voluntarista na reconstituição do tecido social de solidariedade.
Falo, por exemplo, do envolvimento da população na valorização dos serviços de proximidade, nas formas de economia social, no envolvimento dos comerciantes na promoção turística da vila e da região, na criação de emprego ligado ao turismo, no turismo ligado à indústria do brinquedo (e vice-versa), na criação do museu do brinquedo, na valorização paisagística e ambiental, na qualificação e dinamização dos estabelecimentos de restauração e bebidas, etc, etc, etc.
Poderia ainda, numa perspectiva mais alargada e na lógica da “desconcentração” dos serviços (a Grande Área Metropolitana do Porto pode ser propícia a esses factos), perspectivar a transferência e funcionamento do pelouro de Turismo do município de Santa Maria da Feira, precisamente para o centro geográfico do concelho que corresponde à vila termal de Caldas de S. Jorge. Essa perspectiva, aliada a uma eficaz estratégia de divulgação no exterior, poderia ajudar na promoção e afirmação do turismo de saúde e bem estar, que tão objectivamente aí encontraria terreno fértil de desenvolvimento.
Mas isto, é tão só, um pequeno desabafo...
(Julho de 2007, in http://www.caldas-sao-jorge.blogspot.com)
Se, por exemplo, Wim Wenders arriscou a sonoridade de Lisboa num filme, nós talvez pudéssemos arriscar a luz. Para Lisboa proporíamos assim o termo LUMINOSIDADE. Pensemos também em Aveiro. Para Aveiro, com todos os seus canais, proponho ... NAVEGABILIDADE. Para o Porto... Para o Porto a palavra PORTO, e assim por diante.
E Caldas de S. Jorge? Esse lugar, esse “sítio”?
Não temos quaisquer dúvidas quanto à existência de um forte e peculiar imaginário colectivo, até porque, esse lugar, viveu momentos de tensão permanentes. Viveu tempos em que o Uíma, esse rio único, suportava as alegrias e as tristezas daquelas gentes. Ponto de encontro. Lugar de trocas de conhecimento geracional. E o parque das termas? Elegante. Local de amores e desamores. Fonte de inspiração para as telas dos pintores mais desassossegados. Espaço onde as diferentes gerações cresceram e aprenderam a viver com a ressaca do jogo do faz de conta. Assim, para esta vila, uma grande emoção inibe-me de arriscar uma única palavra. Poderemos proteger-nos, portanto, com duas palavras: CENOGRAFIA E IMPONDERABILIDADE.
Cenografia própria de lugares cuja paisagem, habitantes e ambiente urbano, por si só, representam a memória de tempos passados e presentes. O outro lado do espelho.
Imponderabilidade porque esta palavra fez muito pela aldeia que agora é vila. Nesse lugar, quase irreal, existe uma norma constante e intransponível mesmo para os mais poderosos e que sobreviveu a todas as evoluções e transformações dos tempos. Uma norma muito simples. Essa norma é o sentimento de posse colectiva do espaço público – do parque. Este aspecto, aparentemente irrisório, produz a estabilidade necessária ao imaginário, por vezes sofrido, que a vila propõe.
E por isso é importante que o espaço seja animado. É importante que não se torne num local secundário, escuro e triste. Atrevo-me por isso a lançar o desafio de, numa recuperação e readaptação das ambiências existentes nos anos 50, 60 e 70, com os bailes e as sonoridades a “invadirem” toda aquela bolsa verde, ser criado um espaço vocacionado para a interpretação e recriação musical – quiçá um PIANO BAR – no átrium das termas (edifício primitivo) que possa capitalizar e trazer de volta toda a elegância que esse lugar merece, reforçando também assim, o carácter de democraticidade que ele encerra.
E, numa altura que muito se tem falado do turismo e na forma como este pode ser um polo capitalizador de desenvolvimento económico-social, base estratégica do desenvolvimento municipal, também existem desafios a lançar. Como já referi em “desabafos” anteriores, temos um caminho importante para (re)descobrir: o investimento voluntarista na reconstituição do tecido social de solidariedade.
Falo, por exemplo, do envolvimento da população na valorização dos serviços de proximidade, nas formas de economia social, no envolvimento dos comerciantes na promoção turística da vila e da região, na criação de emprego ligado ao turismo, no turismo ligado à indústria do brinquedo (e vice-versa), na criação do museu do brinquedo, na valorização paisagística e ambiental, na qualificação e dinamização dos estabelecimentos de restauração e bebidas, etc, etc, etc.
Poderia ainda, numa perspectiva mais alargada e na lógica da “desconcentração” dos serviços (a Grande Área Metropolitana do Porto pode ser propícia a esses factos), perspectivar a transferência e funcionamento do pelouro de Turismo do município de Santa Maria da Feira, precisamente para o centro geográfico do concelho que corresponde à vila termal de Caldas de S. Jorge. Essa perspectiva, aliada a uma eficaz estratégia de divulgação no exterior, poderia ajudar na promoção e afirmação do turismo de saúde e bem estar, que tão objectivamente aí encontraria terreno fértil de desenvolvimento.
Mas isto, é tão só, um pequeno desabafo...
(Julho de 2007, in http://www.caldas-sao-jorge.blogspot.com)
Sophia
Como o rumor do mar dentro de um búzio
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.
Há muito que deixei aquela praia
De grandes areias e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa.
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Sophia de Mello Breyner
(ex-habitante da Praia da Granja)
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.
Há muito que deixei aquela praia
De grandes areias e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa.
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Sophia de Mello Breyner
(ex-habitante da Praia da Granja)
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Falemos Claro
Sábado, 18 de Setembro de 1915.
Quem, há quase um século, em Caldas de S. Jorge, numa manhã solarenga de finais de Verão, cinco anos após a instauração da República, tivesse a oportunidade de desfolhar o jornal “Democrata Feirense”, órgão do Partido Republicano Português, deparava-se com uma notícia que , vinda da então Comissão Executiva da Câmara Municipal do Concelho e Vila da Feira, presidida por Vitorino Joaquim Correia de Sá, aparentava ser uma das chaves para o desenvolvimento e para a promoção turística desta aldeia termal.
“...Faz público em conformidade da deliberação da Câmara Municipal de 31 de Agosto findo, e da deliberação desta Comissão Executiva tomada em sessão ordinária de 14 do corrente mês de Setembro, que pelo prazo de sessenta dias, que termina às quinze horas de 15 de Novembro próximo, se recebem propostas em carta fechada, que serão abertas em sessão do dia seguinte, para a construção de um Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge, sob garantia de juro prestada pela Câmara Municipal nos termos das condições e cláusulas patentes na secretaria municipal, cuja cópia será remetida ou entregue a quem a requisite.
Paços do Concelho da Feira, 15 de Setembro de 1915.”
Fazia sentido.
À semelhança do que se passava no país, e principalmente em aldeias ou vilas termais, a lógica de bem receber os aquistas e de lhes fornecer a comodidade e o descanso desejável, fazia todo o sentido. Era necessária a procura de novos conceitos ligados ao turismo que pudessem ser uma mais valia na promoção das termas de Caldas de S. Jorge.
Com um programa ambicioso para a época, o Hotel-Casino compreenderia, pelo menos, vinte quartos, sala para bilhar e jogos lícitos, na primeira fase a construir, a qual deveria ficar concluída na época balnear de 1916. Interessante era também o facto da entidade gestora ver-se obrigada a estabelecer, logo que fosse construída aquela primeira fase, um “...serviço de automóveis e carros de transporte de passageiros e bagagens entre o Hotel-Casino e a estação ou estações das vias férreas mais próximas, devendo então ser sujeita à aprovação da Câmara Municipal a tabela de preços do transporte de passageiros e bagagens em automóveis ou carros referidos, quando fossem requisitados pelos hóspedes do Hotel-Casino...”.
Falemos pois, claro.
O nosso grande desafio, para este início do século XXI (volvido um século após o acontecimento atrás referenciado), aponta no sentido do reforço da identidade que, desde há várias dezenas de anos, vem caracterizando esta emocionante freguesia central do município.
Quando digo nosso, quero evocar vários círculos concêntricos: - o movimento institucional e político, que vem necessariamente actualizando o seu modelo de gestão face às novas tendências do que é a sustentabilização de todo o território; - a corrente de opinião que, revendo-se ou não nos modelos preconizados, tem hoje, de se apresentar como participante interessada na acção desenvolvida e a desenvolver; - e, em geral, as forças sociais motivadas para procurar caminhos estratégicos adequados aos tempos que vivemos.
É nesse sentido que, tomando consciência dos efeitos redutores de uma estratégia fixada na total empresarialização dos serviços ligados à dinamização turística, podemos vir a pensar que a desarticulação entre os seus ritmos de desenvolvimento e o reforço de uma filosofia ou de um desígnio para esta estância termal, assente no diálogo com os habitantes e com o apoio dos sectores comerciais e empresariais locais, anula rapidamente as bases das mais bem intencionadas políticas de desenvolvimento.
Não é raro que as “conquistas” modernas de hoje signifiquem novos “encargos” sobre as gerações vindouras, ou reforcem os direitos dos que já se encontram em segmentos relativamente privilegiados “do mercado”, em desfavor dos restantes.
O neoliberalismo de cartilha, aquele que vê nas instituições públicas a fonte de todos os males e no mercado a fonte de todos os bens, pode ser até considerado, uma ficção. Basta pensar no que seria a economia privada sem os benefícios estatais, recebidos directa e (ou) indirectamente.
Como é evidente, a superação destas referências não significa ignorarmos as suas contribuições positivas.
Isto quer dizer que o desenvolvimento do turismo em Caldas de S. Jorge, particularmente, deve ser conduzido com cautela e adequadamente.
Contudo, esse desenvolvimento não pode ser mais adiado. Teremos de avançar com coragem, gradual mas consistentemente. O que precisamos de fazer vai chocar puristas e despertar resistências sectoriais; vai ser declarado impossível pelos mestres iluminados de cartilhas e de catástrofes. Mas, salvo melhor opinião, não pode afastar-se muito de uma combinação singular entre as três dimensões a citar:
A primeira será a da introdução de mais eficiência e mais qualificação no sistema arterial e urbano da vila. - Creio que esta já foi iniciada, havendo perspectivas francamente positivas nesse sentido.
A segunda dimensão será a de reorientação das estratégias de crescimento e desenvolvimento empresarial, comercial e urbano. - É bom assumir claramente que, sem descobrirmos o “para onde vamos?”, existe o perigo de uma dispersão que condiciona a convergência desejada.
A terceira será o investimento voluntarista na reconstituição do tecido social de solidariedade. - Este é um caminho para (re)descobrir, e sobre o qual temos pensado pouco. Estou a falar, por exemplo, do envolvimento da população na valorização dos serviços de proximidade, nas formas de economia social, no envolvimento dos comerciantes na promoção turística da vila e da região, na criação de emprego ligado ao turismo, no turismo ligado à indústria do brinquedo (e vice-versa), na criação do museu do brinquedo, na valorização paisagística e ambiental, na qualificação dos estabelecimentos de restauração e bebidas, etc, etc, etc.
Tudo isto porque, vem-se falando na eventual construção de um Hotel de apoio às termas, na sequência das obras de ampliação do balneário termal e da compra de uma considerável área de terreno na zona central da freguesia, por parte da Câmara Municipal. (Logicamente que o hotel deve fazer parte de um vasto programa de equipamentos e infra-estruturas que funcionem como pólo aglutinador de toda esta vila termal).
Ora, a questão reside em saber como exprimir as vantagens da iniciativa, isto é, como explicar que, sendo o hotel um equipamento desejado por todos, como é que se evita que ele irrompa apenas como encenação vulcânica, reduzindo-se à reivindicação imediata e corporativa , ou se auto-exclua da dinâmica participativa da população que, neste caso, deveria ficar assegurada pelos seus legítimos representantes (Câmara Municipal e Junta de Freguesia).
Creio estar tudo em aberto.
O repto que agora nos lançam deve ser, pois, tomado a sério.
(Novembro de 2003, in "Terras da Feira")
Quem, há quase um século, em Caldas de S. Jorge, numa manhã solarenga de finais de Verão, cinco anos após a instauração da República, tivesse a oportunidade de desfolhar o jornal “Democrata Feirense”, órgão do Partido Republicano Português, deparava-se com uma notícia que , vinda da então Comissão Executiva da Câmara Municipal do Concelho e Vila da Feira, presidida por Vitorino Joaquim Correia de Sá, aparentava ser uma das chaves para o desenvolvimento e para a promoção turística desta aldeia termal.
“...Faz público em conformidade da deliberação da Câmara Municipal de 31 de Agosto findo, e da deliberação desta Comissão Executiva tomada em sessão ordinária de 14 do corrente mês de Setembro, que pelo prazo de sessenta dias, que termina às quinze horas de 15 de Novembro próximo, se recebem propostas em carta fechada, que serão abertas em sessão do dia seguinte, para a construção de um Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge, sob garantia de juro prestada pela Câmara Municipal nos termos das condições e cláusulas patentes na secretaria municipal, cuja cópia será remetida ou entregue a quem a requisite.
Paços do Concelho da Feira, 15 de Setembro de 1915.”
Fazia sentido.
À semelhança do que se passava no país, e principalmente em aldeias ou vilas termais, a lógica de bem receber os aquistas e de lhes fornecer a comodidade e o descanso desejável, fazia todo o sentido. Era necessária a procura de novos conceitos ligados ao turismo que pudessem ser uma mais valia na promoção das termas de Caldas de S. Jorge.
Com um programa ambicioso para a época, o Hotel-Casino compreenderia, pelo menos, vinte quartos, sala para bilhar e jogos lícitos, na primeira fase a construir, a qual deveria ficar concluída na época balnear de 1916. Interessante era também o facto da entidade gestora ver-se obrigada a estabelecer, logo que fosse construída aquela primeira fase, um “...serviço de automóveis e carros de transporte de passageiros e bagagens entre o Hotel-Casino e a estação ou estações das vias férreas mais próximas, devendo então ser sujeita à aprovação da Câmara Municipal a tabela de preços do transporte de passageiros e bagagens em automóveis ou carros referidos, quando fossem requisitados pelos hóspedes do Hotel-Casino...”.
Falemos pois, claro.
O nosso grande desafio, para este início do século XXI (volvido um século após o acontecimento atrás referenciado), aponta no sentido do reforço da identidade que, desde há várias dezenas de anos, vem caracterizando esta emocionante freguesia central do município.
Quando digo nosso, quero evocar vários círculos concêntricos: - o movimento institucional e político, que vem necessariamente actualizando o seu modelo de gestão face às novas tendências do que é a sustentabilização de todo o território; - a corrente de opinião que, revendo-se ou não nos modelos preconizados, tem hoje, de se apresentar como participante interessada na acção desenvolvida e a desenvolver; - e, em geral, as forças sociais motivadas para procurar caminhos estratégicos adequados aos tempos que vivemos.
É nesse sentido que, tomando consciência dos efeitos redutores de uma estratégia fixada na total empresarialização dos serviços ligados à dinamização turística, podemos vir a pensar que a desarticulação entre os seus ritmos de desenvolvimento e o reforço de uma filosofia ou de um desígnio para esta estância termal, assente no diálogo com os habitantes e com o apoio dos sectores comerciais e empresariais locais, anula rapidamente as bases das mais bem intencionadas políticas de desenvolvimento.
Não é raro que as “conquistas” modernas de hoje signifiquem novos “encargos” sobre as gerações vindouras, ou reforcem os direitos dos que já se encontram em segmentos relativamente privilegiados “do mercado”, em desfavor dos restantes.
O neoliberalismo de cartilha, aquele que vê nas instituições públicas a fonte de todos os males e no mercado a fonte de todos os bens, pode ser até considerado, uma ficção. Basta pensar no que seria a economia privada sem os benefícios estatais, recebidos directa e (ou) indirectamente.
Como é evidente, a superação destas referências não significa ignorarmos as suas contribuições positivas.
Isto quer dizer que o desenvolvimento do turismo em Caldas de S. Jorge, particularmente, deve ser conduzido com cautela e adequadamente.
Contudo, esse desenvolvimento não pode ser mais adiado. Teremos de avançar com coragem, gradual mas consistentemente. O que precisamos de fazer vai chocar puristas e despertar resistências sectoriais; vai ser declarado impossível pelos mestres iluminados de cartilhas e de catástrofes. Mas, salvo melhor opinião, não pode afastar-se muito de uma combinação singular entre as três dimensões a citar:
A primeira será a da introdução de mais eficiência e mais qualificação no sistema arterial e urbano da vila. - Creio que esta já foi iniciada, havendo perspectivas francamente positivas nesse sentido.
A segunda dimensão será a de reorientação das estratégias de crescimento e desenvolvimento empresarial, comercial e urbano. - É bom assumir claramente que, sem descobrirmos o “para onde vamos?”, existe o perigo de uma dispersão que condiciona a convergência desejada.
A terceira será o investimento voluntarista na reconstituição do tecido social de solidariedade. - Este é um caminho para (re)descobrir, e sobre o qual temos pensado pouco. Estou a falar, por exemplo, do envolvimento da população na valorização dos serviços de proximidade, nas formas de economia social, no envolvimento dos comerciantes na promoção turística da vila e da região, na criação de emprego ligado ao turismo, no turismo ligado à indústria do brinquedo (e vice-versa), na criação do museu do brinquedo, na valorização paisagística e ambiental, na qualificação dos estabelecimentos de restauração e bebidas, etc, etc, etc.
Tudo isto porque, vem-se falando na eventual construção de um Hotel de apoio às termas, na sequência das obras de ampliação do balneário termal e da compra de uma considerável área de terreno na zona central da freguesia, por parte da Câmara Municipal. (Logicamente que o hotel deve fazer parte de um vasto programa de equipamentos e infra-estruturas que funcionem como pólo aglutinador de toda esta vila termal).
Ora, a questão reside em saber como exprimir as vantagens da iniciativa, isto é, como explicar que, sendo o hotel um equipamento desejado por todos, como é que se evita que ele irrompa apenas como encenação vulcânica, reduzindo-se à reivindicação imediata e corporativa , ou se auto-exclua da dinâmica participativa da população que, neste caso, deveria ficar assegurada pelos seus legítimos representantes (Câmara Municipal e Junta de Freguesia).
Creio estar tudo em aberto.
O repto que agora nos lançam deve ser, pois, tomado a sério.
(Novembro de 2003, in "Terras da Feira")
Para onde vamos?
A definição de um futuro de atitudes sustentáveis é, cada vez mais, uma questão basilar no desenvolvimento de uma sociedade contemporânea. Apesar de "chavão", é uma verdade.
Por isso, desenvolver uma estratégia integrada de crescimento é, sem dúvida alguma, um dos maiores desafios que se coloca nesta fase, e cada vez mais, às terras e regiões que pretendem, a prazo, tornar-se competitivas, inovadoras e locais de excelência para viver.
E todo este processo só faz verdadeiro sentido se a participação das populações for evidente. Se toda a sociedade civil der a sua contribuição. No entanto, para que isso aconteça, é necessário confrontar diferentes e várias sensibilidades, para um aprofundar de todas as expectativas e de todos os anseios relacionados com o ambiente em geral, e com o desenvolvimento urbano em particular.
Todo esse processo passa então, a meu ver, por uma profunda discussão sobre uma questão fundamental: "...Para Onde Vamos???".
É disso que Caldas de S. Jorge precisa.
Não são raras as vezes que se ouvem opiniões sobre este ou aquele projecto, sobre este ou aquele tema, sobre este ou aquele espaço, sobre esta ou aquela opção. E diga-se de passagem, que daí até nem vem mal ao mundo.
No entanto, do meu ponto de vista (repito, do meu ponto de vista) será necessário algo mais. Será necessário que as pessoas pensem, a longo prazo, o que querem para esta (emocionante) terra.
Será necessários que, no fundo, se defina e crie a "marca" CALDAS DE S. JORGE.
Não é possível programar o que quer que seja com projectos "avulso", que surjam por "impulso" em ocasiões espaçadas no tempo. Disso, podem ter a certeza.
Neste caso, o desenvolvimento integrado de Caldas de S. Jorge só será possível se existir um "mote", um "objectivo", uma estratégia daquilo em que se poderá tornar a médio/longo prazo.
À semelhança dos homens, as aldeias, vilas ou cidades "precisam de uma vocação, de uma filosofia própria". Só mostrando e assumindo as suas mais-valias, elas se poderão diferenciar e Ter uma visibilidade regional ou nacional.
Por isso, seria importante, em primeiro lugar, valorizar-mos aquilo que a fortuna nos trouxe: uma água que brota do NOSSO solo e que permite a existência de umas termas que devem ser mais potenciadas. Depois, ainda no campo paisagístico e natural, era bom que soubéssemos respeitar este vale, este Uíma e suas margens. Não chega requalificar... É preciso revitalizar (revitalizar também, já agora, o centro da vila – é preciso gente nova a habitar no centro da vila).
Podemos então assumir a primeira das NOSSAS vocações: TURISMO de saúde e lazer. Neste campo, as diferentes entidades também deverão, de uma vez por todas, assumir esta mais valia da terra e da região, promovendo e "incentivando" a sua dinamização. E esta "coisa" do turismo, não tem necessariamente que ver, com a localização de um hotel ou de outro equipamento similar, isolados. Pelo contrário. Esta "coisa" do turismo é muito mais do que isso: é, entre outras coisas, incentivar a população a participar naquilo a que eu chamo SERVIÇOS DE PROXIMIDADE, é sermos empreendedores e inovadores naquilo a que nos propomos fazer, é envolvermos a população na dinamização turística da vila, é termos estabelecimentos de restauração e bebidas que marquem a diferença, de qualidade (já existem alguns), que por exemplo, apresentem produtos diferenciados e relacionados com a região, etc...
Mas, Caldas de S. Jorge é diferente das outras terras. Caldas de S. Jorge tem mais factores de interesse. Tem o facto de ser um dos pólos europeus da industria de puericultura. E isso também vai muito para além do investimento privado que, por cá, pequenas empresas e grupos empresariais representam (e representam bem).
Ora aí está mais uma das NOSSAS vocações: INOVAR NA INDUSTRIA DA PUERICULTURA. Podemos e devemos associar a puericultura ao termalismo e ao turismo.
Senão vejamos: Um tipo Finlandês (ou doutro qualquer ponto da Europa) faz um workshop nas Caldas de S. Jorge sobre as novas tendências para os artigos e vestuário para criança. Certo que diversos indivíduos deste ou de outros países para cá se deslocam para essa troca de experiências, poderemos também demonstrar o nosso empreendorismo nas actividades por cá desenvolvidas.
Para isto, como é lógico, será necessário possuir meios físicos, humanos e condições de atractividade: é aqui que entra a correlação com a vocação turistica. "Oferecendo-lhes" o que as termas e a vila têm de bom, mostrando-lhes aquilo que fazemos ao nível industrial, trocando saberes... Quem sabe se poderá daí sair a ideia de organizar um evento do tipo "Caldas de S. Jorge Children Fashion 2010" (lá está a "marca" Caldas de S. Jorge). Quem sabe se daqui de Caldas de S. Jorge, não poderão brotar novos talentos na área da moda e do design industrial associados à puericultura?
Podíamos até, com um bocadinho de esforço, pensar numa terceira vocação: na lógica do DESPORTO. Com um bocadinho de jeito, associando um relvado e uma pista de atletismo, a uma pequena unidade hoteleira, umas termas, e uma promoção direccionada para os sítios certos, teremos um cocktail interessantíssimo chamado qualquer coisa como Centro de Estágios e de Alto Rendimento Desportivo - CEARD?. (Nesta se calhar exagerei. Talvez esteja a sonhar alto...).
Como já estou a ser longo, deixo apenas mais uma nota:
Esta coisa da internet, da blogosfera, a que eu chamo "REDE" é, cada vez mais, um meio de dinamizar, e dar a conhecer o que quer que seja.
Julgo que, no caso deste blog, apesar de algumas limitações, temos tido um bom exemplo na questão de (re)colocar novamente pessoas de Caldas de S. Jorge a discutir, enfim... a trocar ideias. Numa era do conhecimento global, da tal REDE GLOBAL, a informação e o empreendorismo devem ser aproveitados para engrandecimento e democratização dos pensamentos em relação aquilo que queremos para a nossa terra, promovendo-a.
Estamos todos (ou quase todos) à distância de um click.
Os leitores podem até discordar daquilo que (finalmente está a acabar, ufa) eu escrevi... É um risco calculado que assumo.
Logo, um começo, pode ser até do género ...
"Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí"... (Onde é que eu já ouvi isto?)
(Junho de 2007, in "http://caldas-sao-jorge@blogspot.com")
Por isso, desenvolver uma estratégia integrada de crescimento é, sem dúvida alguma, um dos maiores desafios que se coloca nesta fase, e cada vez mais, às terras e regiões que pretendem, a prazo, tornar-se competitivas, inovadoras e locais de excelência para viver.
E todo este processo só faz verdadeiro sentido se a participação das populações for evidente. Se toda a sociedade civil der a sua contribuição. No entanto, para que isso aconteça, é necessário confrontar diferentes e várias sensibilidades, para um aprofundar de todas as expectativas e de todos os anseios relacionados com o ambiente em geral, e com o desenvolvimento urbano em particular.
Todo esse processo passa então, a meu ver, por uma profunda discussão sobre uma questão fundamental: "...Para Onde Vamos???".
É disso que Caldas de S. Jorge precisa.
Não são raras as vezes que se ouvem opiniões sobre este ou aquele projecto, sobre este ou aquele tema, sobre este ou aquele espaço, sobre esta ou aquela opção. E diga-se de passagem, que daí até nem vem mal ao mundo.
No entanto, do meu ponto de vista (repito, do meu ponto de vista) será necessário algo mais. Será necessário que as pessoas pensem, a longo prazo, o que querem para esta (emocionante) terra.
Será necessários que, no fundo, se defina e crie a "marca" CALDAS DE S. JORGE.
Não é possível programar o que quer que seja com projectos "avulso", que surjam por "impulso" em ocasiões espaçadas no tempo. Disso, podem ter a certeza.
Neste caso, o desenvolvimento integrado de Caldas de S. Jorge só será possível se existir um "mote", um "objectivo", uma estratégia daquilo em que se poderá tornar a médio/longo prazo.
À semelhança dos homens, as aldeias, vilas ou cidades "precisam de uma vocação, de uma filosofia própria". Só mostrando e assumindo as suas mais-valias, elas se poderão diferenciar e Ter uma visibilidade regional ou nacional.
Por isso, seria importante, em primeiro lugar, valorizar-mos aquilo que a fortuna nos trouxe: uma água que brota do NOSSO solo e que permite a existência de umas termas que devem ser mais potenciadas. Depois, ainda no campo paisagístico e natural, era bom que soubéssemos respeitar este vale, este Uíma e suas margens. Não chega requalificar... É preciso revitalizar (revitalizar também, já agora, o centro da vila – é preciso gente nova a habitar no centro da vila).
Podemos então assumir a primeira das NOSSAS vocações: TURISMO de saúde e lazer. Neste campo, as diferentes entidades também deverão, de uma vez por todas, assumir esta mais valia da terra e da região, promovendo e "incentivando" a sua dinamização. E esta "coisa" do turismo, não tem necessariamente que ver, com a localização de um hotel ou de outro equipamento similar, isolados. Pelo contrário. Esta "coisa" do turismo é muito mais do que isso: é, entre outras coisas, incentivar a população a participar naquilo a que eu chamo SERVIÇOS DE PROXIMIDADE, é sermos empreendedores e inovadores naquilo a que nos propomos fazer, é envolvermos a população na dinamização turística da vila, é termos estabelecimentos de restauração e bebidas que marquem a diferença, de qualidade (já existem alguns), que por exemplo, apresentem produtos diferenciados e relacionados com a região, etc...
Mas, Caldas de S. Jorge é diferente das outras terras. Caldas de S. Jorge tem mais factores de interesse. Tem o facto de ser um dos pólos europeus da industria de puericultura. E isso também vai muito para além do investimento privado que, por cá, pequenas empresas e grupos empresariais representam (e representam bem).
Ora aí está mais uma das NOSSAS vocações: INOVAR NA INDUSTRIA DA PUERICULTURA. Podemos e devemos associar a puericultura ao termalismo e ao turismo.
Senão vejamos: Um tipo Finlandês (ou doutro qualquer ponto da Europa) faz um workshop nas Caldas de S. Jorge sobre as novas tendências para os artigos e vestuário para criança. Certo que diversos indivíduos deste ou de outros países para cá se deslocam para essa troca de experiências, poderemos também demonstrar o nosso empreendorismo nas actividades por cá desenvolvidas.
Para isto, como é lógico, será necessário possuir meios físicos, humanos e condições de atractividade: é aqui que entra a correlação com a vocação turistica. "Oferecendo-lhes" o que as termas e a vila têm de bom, mostrando-lhes aquilo que fazemos ao nível industrial, trocando saberes... Quem sabe se poderá daí sair a ideia de organizar um evento do tipo "Caldas de S. Jorge Children Fashion 2010" (lá está a "marca" Caldas de S. Jorge). Quem sabe se daqui de Caldas de S. Jorge, não poderão brotar novos talentos na área da moda e do design industrial associados à puericultura?
Podíamos até, com um bocadinho de esforço, pensar numa terceira vocação: na lógica do DESPORTO. Com um bocadinho de jeito, associando um relvado e uma pista de atletismo, a uma pequena unidade hoteleira, umas termas, e uma promoção direccionada para os sítios certos, teremos um cocktail interessantíssimo chamado qualquer coisa como Centro de Estágios e de Alto Rendimento Desportivo - CEARD?. (Nesta se calhar exagerei. Talvez esteja a sonhar alto...).
Como já estou a ser longo, deixo apenas mais uma nota:
Esta coisa da internet, da blogosfera, a que eu chamo "REDE" é, cada vez mais, um meio de dinamizar, e dar a conhecer o que quer que seja.
Julgo que, no caso deste blog, apesar de algumas limitações, temos tido um bom exemplo na questão de (re)colocar novamente pessoas de Caldas de S. Jorge a discutir, enfim... a trocar ideias. Numa era do conhecimento global, da tal REDE GLOBAL, a informação e o empreendorismo devem ser aproveitados para engrandecimento e democratização dos pensamentos em relação aquilo que queremos para a nossa terra, promovendo-a.
Estamos todos (ou quase todos) à distância de um click.
Os leitores podem até discordar daquilo que (finalmente está a acabar, ufa) eu escrevi... É um risco calculado que assumo.
Logo, um começo, pode ser até do género ...
"Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí"... (Onde é que eu já ouvi isto?)
(Junho de 2007, in "http://caldas-sao-jorge@blogspot.com")
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
Referências...
"Não é o ângulo recto que me atrai,
nem a linha recta, dura, inflexível,
criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas
do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas ondas do mar
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o Universo.
O Universo curvo de Einstein."
Oscar Niemeyer
nem a linha recta, dura, inflexível,
criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas
do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas ondas do mar
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o Universo.
O Universo curvo de Einstein."
Oscar Niemeyer
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
terça-feira, 7 de agosto de 2007
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Falar de cidade
Quando se fala em “cidade” (no sentido mais amplo do termo), muitos são os motivos através dos quais devemos reflectir e debater para, em conjunto, encontrarmos soluções para o seu desenvolvimento sustentado e sustentabilizado.
Desde logo, porque entendo que, pôr em movimento uma ideia, quebrar forças de inércia, ter objectivos, criar espaços de intervenção e condições para desenvolver programas de crescimento equilibrados, se afigura especialmente difícil numa sociedade portuguesa em que, cada cidadão, está cada vez mais preocupado com a resolução dos seus problemas particulares, e com a procura de respostas imediatas e imediatistas para todas as nossas ambições.
Como dizia Kant, “Uma ideia é a adequação de um conceito com a realidade”, e este pensamento continua a possuir uma lógica profunda uma vez que cria uma capacidade de se poderem realizar "coisas" no imenso universo da contingência ou da situação em que nos encontramos ou que nos movemos, sem destruir a perspectiva crítica e sem nos desviarmos da objectividade das questões que configuram os problemas da cidade.
Transformar a sociedade de consumo numa sociedade de produtores de ideias, é portanto, criar um valor altamente rentável para o espaço físico em que nos movemos, sendo por isso, condição essencial para o seu desenvolvimento.
Por outro lado, quando não se valoriza o debate de ideias, a investigação ou a procura, temos necessariamente que andar a reboque de qualquer coisa ou a ser satélite de outros lugares.
Por isso, é importante a participação e o envolvimento de todos no desenvolvimento da nossa terra. Um cidadão informado e participativo reforça a democracia e a democraticidade no crescimento da cidade.
Desde logo, porque entendo que, pôr em movimento uma ideia, quebrar forças de inércia, ter objectivos, criar espaços de intervenção e condições para desenvolver programas de crescimento equilibrados, se afigura especialmente difícil numa sociedade portuguesa em que, cada cidadão, está cada vez mais preocupado com a resolução dos seus problemas particulares, e com a procura de respostas imediatas e imediatistas para todas as nossas ambições.
Como dizia Kant, “Uma ideia é a adequação de um conceito com a realidade”, e este pensamento continua a possuir uma lógica profunda uma vez que cria uma capacidade de se poderem realizar "coisas" no imenso universo da contingência ou da situação em que nos encontramos ou que nos movemos, sem destruir a perspectiva crítica e sem nos desviarmos da objectividade das questões que configuram os problemas da cidade.
Transformar a sociedade de consumo numa sociedade de produtores de ideias, é portanto, criar um valor altamente rentável para o espaço físico em que nos movemos, sendo por isso, condição essencial para o seu desenvolvimento.
Por outro lado, quando não se valoriza o debate de ideias, a investigação ou a procura, temos necessariamente que andar a reboque de qualquer coisa ou a ser satélite de outros lugares.
Por isso, é importante a participação e o envolvimento de todos no desenvolvimento da nossa terra. Um cidadão informado e participativo reforça a democracia e a democraticidade no crescimento da cidade.
Recolhas... Históricas
DEMOCRATA FEIRENSE
Sábado, 18 de Setembro de 1915
Número 51
Órgão do Partido Republicano Português
Director: Dr. Américo Teixeira
Editor: Armando Alves de Amorim
Caldas de S. Jorge
Construção dum Hotel Casino
A Comissão Executiva da Câmara Municipal do Concelho e Vila da Feira:
Faz público em conformidade da deliberação da Câmara Municipal de 31 de Agosto findo, e da deliberação desta Comissão Executiva tomada em sessão ordinária de 14 do corrente mês de Setembro, que pelo prazo de sessenta dias, que termina às quinze horas de 15 de Novembro próximo, se recebem propostas em carta fechada, que serão abertas em sessão do dia seguinte, para a construção de um Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge, sob garantia de juro prestada pela Câmara Municipal nos termos das condições e cláusulas patentes na secretaria municipal, cuja cópia será remetida ou entregue a quem a requisite.
Paços do Concelho da Feira, 15 de Setembro de 1915.
O Presidente da Comissão Executiva
Vitorino Joaquim Correia de Sá
CALDAS DE S. JORGE
Construção dum Hotel Casino
Condições e cláusulas para o concurso e construção dum Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge.
1.ª As propostas serão apresentadas na secretaria municipal fachadas em subscrito com a seguinte legenda:
“Proposta para um Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge”.
2.ª Cada proposta será acompanhada de um ante-projecto e memória descritiva, da qual constem as obras que o proponente tenciona executar, secções em que serão sucessivamente executadas, prazo da respectiva construção, cvusto provável de cada uma das secções.
3.ª Será também acompanhada duma guia de depósito provisório de 40$00, efectuado na tesouraria municipal.
4.ª O proponente juntará declaração de que dentro de trinta dias a contar da assinatura do contracto se obriga a apresentar o projecto definitivo, em duplicado, do Hotel-Casino, de harmonia com o ante-projecto, memória descritiva e orçamento referidos, compreendendo plantas, alçados, cortes, memória descritiva e orçamento definitivo. A Câmara deliberará sobre este projecto no prazo de dez dias.
5.ª O Hotel-Casino compreenderá, pelo menos, vinte quartos, sala para bilhar e jogos lícitos, na primeira secção a construir: esta primeira secção deverá estar construída na próxima época balnear de 1916.
6.ª O proponente declarará também que se obriga a estabelecer, logo que esteja construída aquela primeira secção, serviço de automóveis e carros de transporte de passageiros e bagagens entre o Hotel-Casino e a estação ou estações das vias férreas mais próximas. Deverá ser sujeita à aprovação da Câmara Municipal a tabela de preços do transporte de passageiros e bagagens em automóveis ou carros referidos, quando sejam requisitados pelos hóspedes do Hotel-Casino.
7.ª Em cada proposta será indicada qual a taxa de garantia de juro não superior a 6% (seis por cento), que o proponente pretende receber da Câmara Municipal, pagável em duas prestações anuais, meses em que deverão ser pagas essa prestações, a soma das quais nunca será superior em cada ano a novecentos escudos. Esta quantia de juro é limitada ao prazo de cinco anos, a contar da abertura da primeira secção do Hotel-Casino a que respeita a base quinta, e aproveita a despesa da construção do edifício excluído o mobiliário, decorações mobiliárias e os meios de transporte mencionados.
8.ª Esta garantia de juro será liquidada em face da escrituração que deverá Ter a empresa individual ou colectiva a quem for adjudicada a construção e exploração do Hotel-Casino, escrituração conforme às disposições aplicáveis no código comercial, e que será examinada mensalmente em S. Jorge por um fiscal, escolhido pela Câmara Municipal, dentre os seus membros ou empregados. Feita e aprovada a liquidação, será paga nos prazos fixados. Cessará a garantia de juro desde que, se verifique que, deduzidas as despesas de conservação e exploração, as receitas liquidas correspondem ao juro de seis por cento do capital empregado na construção do edifício.
§ único. Esta fiscalização directa durará enquanto a Câmara Municipal pagar a garantia de juro estipulada, e compreende além do exame declarado na escrituração, além da aprovação das tabelas de preços de transporte referidas na base Sexta, também as tabelas de preços de hospedagem no Hotel-Casino e de quaisquer diversões oferecidas aos hóspedes, as quais tabelas serão submetidas à aprovação da Câmara em cada época balnear.
9.ª A Câmara Municipal, quando se torne necessário, solicitará expropriação por utilidade pública, dos terrenos que forem precisos para construção do Hotel-Casino, e demais dependências referidas na Lei de 26 de Junho de 1912, artigo 2.º.
10.ª A adjudicação será feita ao proponente que mais garantias dê de bem realizar a obra projectada e estabelecer o serviço de transportes declarado; que reclame menor quantia de juro ou por menos tempo; que se obrigue a construir em menor prazo de tempo as secções do edifício referidas na base Segunda. Aceite a proposta, o adjudicatário elevará no prazo de três dias o depósito provisório de 40$00 ao definitivo de 500$00 (quinhentos escudos). Este depósito poderá ser levantado logo que esteja concluída a primeira secção de obras referida na base 5.ª. Se não fizer aquele depósito definitivo, o adjudicatário perderá o depósito provisório, e ficará sem efeito a adjudicação.
11.ª Na construção do Hotel-Casino serão observadas as prescrições do regulamento de 14 de Fevereiro de 1903 da salubridade das edificações urbanas, e deverá atender-se ao guia prático dos proprietários de hotéis, publicado pela sociedade de propaganda de Portugal.
12.ª Sem acordo prévio da Câmara Municipal, o adjudicatário não poderá trespassar a concessão feita.
13.ª O adjudicatário estabelecerá na freguesia de S. Jorge o seu domicílio, para quanto respeita à execução do contracto.
14.ª Ficará rescindido o contrato, e o adjudicatário perderá o depósito definitivo de 500$00 escudos, se não começar os trabalhos de construção no prazo de vinte dias, a contar da aprovação do projecto referido na base 4.ª; poderá também ser rescindido nos termos gerais de direito.
Aprovadas em conformidade da deliberação da Câmara Municipal de 31 de Agosto de 1915, em sessão da Comissão Executiva de 14 de Setembro do dito ano.
A Comissão Executiva
Vitorino Joaquim Correia de Sá, Presidente
José Moreira da Costa, Secretário
Saúl Eduardo Rebelo Valente
Agostinho José Pais Moreira
António da Costa Monteiro
Manuel Alves da Silva
Sábado, 18 de Setembro de 1915
Número 51
Órgão do Partido Republicano Português
Director: Dr. Américo Teixeira
Editor: Armando Alves de Amorim
Caldas de S. Jorge
Construção dum Hotel Casino
A Comissão Executiva da Câmara Municipal do Concelho e Vila da Feira:
Faz público em conformidade da deliberação da Câmara Municipal de 31 de Agosto findo, e da deliberação desta Comissão Executiva tomada em sessão ordinária de 14 do corrente mês de Setembro, que pelo prazo de sessenta dias, que termina às quinze horas de 15 de Novembro próximo, se recebem propostas em carta fechada, que serão abertas em sessão do dia seguinte, para a construção de um Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge, sob garantia de juro prestada pela Câmara Municipal nos termos das condições e cláusulas patentes na secretaria municipal, cuja cópia será remetida ou entregue a quem a requisite.
Paços do Concelho da Feira, 15 de Setembro de 1915.
O Presidente da Comissão Executiva
Vitorino Joaquim Correia de Sá
CALDAS DE S. JORGE
Construção dum Hotel Casino
Condições e cláusulas para o concurso e construção dum Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge.
1.ª As propostas serão apresentadas na secretaria municipal fachadas em subscrito com a seguinte legenda:
“Proposta para um Hotel-Casino nas Caldas de S. Jorge”.
2.ª Cada proposta será acompanhada de um ante-projecto e memória descritiva, da qual constem as obras que o proponente tenciona executar, secções em que serão sucessivamente executadas, prazo da respectiva construção, cvusto provável de cada uma das secções.
3.ª Será também acompanhada duma guia de depósito provisório de 40$00, efectuado na tesouraria municipal.
4.ª O proponente juntará declaração de que dentro de trinta dias a contar da assinatura do contracto se obriga a apresentar o projecto definitivo, em duplicado, do Hotel-Casino, de harmonia com o ante-projecto, memória descritiva e orçamento referidos, compreendendo plantas, alçados, cortes, memória descritiva e orçamento definitivo. A Câmara deliberará sobre este projecto no prazo de dez dias.
5.ª O Hotel-Casino compreenderá, pelo menos, vinte quartos, sala para bilhar e jogos lícitos, na primeira secção a construir: esta primeira secção deverá estar construída na próxima época balnear de 1916.
6.ª O proponente declarará também que se obriga a estabelecer, logo que esteja construída aquela primeira secção, serviço de automóveis e carros de transporte de passageiros e bagagens entre o Hotel-Casino e a estação ou estações das vias férreas mais próximas. Deverá ser sujeita à aprovação da Câmara Municipal a tabela de preços do transporte de passageiros e bagagens em automóveis ou carros referidos, quando sejam requisitados pelos hóspedes do Hotel-Casino.
7.ª Em cada proposta será indicada qual a taxa de garantia de juro não superior a 6% (seis por cento), que o proponente pretende receber da Câmara Municipal, pagável em duas prestações anuais, meses em que deverão ser pagas essa prestações, a soma das quais nunca será superior em cada ano a novecentos escudos. Esta quantia de juro é limitada ao prazo de cinco anos, a contar da abertura da primeira secção do Hotel-Casino a que respeita a base quinta, e aproveita a despesa da construção do edifício excluído o mobiliário, decorações mobiliárias e os meios de transporte mencionados.
8.ª Esta garantia de juro será liquidada em face da escrituração que deverá Ter a empresa individual ou colectiva a quem for adjudicada a construção e exploração do Hotel-Casino, escrituração conforme às disposições aplicáveis no código comercial, e que será examinada mensalmente em S. Jorge por um fiscal, escolhido pela Câmara Municipal, dentre os seus membros ou empregados. Feita e aprovada a liquidação, será paga nos prazos fixados. Cessará a garantia de juro desde que, se verifique que, deduzidas as despesas de conservação e exploração, as receitas liquidas correspondem ao juro de seis por cento do capital empregado na construção do edifício.
§ único. Esta fiscalização directa durará enquanto a Câmara Municipal pagar a garantia de juro estipulada, e compreende além do exame declarado na escrituração, além da aprovação das tabelas de preços de transporte referidas na base Sexta, também as tabelas de preços de hospedagem no Hotel-Casino e de quaisquer diversões oferecidas aos hóspedes, as quais tabelas serão submetidas à aprovação da Câmara em cada época balnear.
9.ª A Câmara Municipal, quando se torne necessário, solicitará expropriação por utilidade pública, dos terrenos que forem precisos para construção do Hotel-Casino, e demais dependências referidas na Lei de 26 de Junho de 1912, artigo 2.º.
10.ª A adjudicação será feita ao proponente que mais garantias dê de bem realizar a obra projectada e estabelecer o serviço de transportes declarado; que reclame menor quantia de juro ou por menos tempo; que se obrigue a construir em menor prazo de tempo as secções do edifício referidas na base Segunda. Aceite a proposta, o adjudicatário elevará no prazo de três dias o depósito provisório de 40$00 ao definitivo de 500$00 (quinhentos escudos). Este depósito poderá ser levantado logo que esteja concluída a primeira secção de obras referida na base 5.ª. Se não fizer aquele depósito definitivo, o adjudicatário perderá o depósito provisório, e ficará sem efeito a adjudicação.
11.ª Na construção do Hotel-Casino serão observadas as prescrições do regulamento de 14 de Fevereiro de 1903 da salubridade das edificações urbanas, e deverá atender-se ao guia prático dos proprietários de hotéis, publicado pela sociedade de propaganda de Portugal.
12.ª Sem acordo prévio da Câmara Municipal, o adjudicatário não poderá trespassar a concessão feita.
13.ª O adjudicatário estabelecerá na freguesia de S. Jorge o seu domicílio, para quanto respeita à execução do contracto.
14.ª Ficará rescindido o contrato, e o adjudicatário perderá o depósito definitivo de 500$00 escudos, se não começar os trabalhos de construção no prazo de vinte dias, a contar da aprovação do projecto referido na base 4.ª; poderá também ser rescindido nos termos gerais de direito.
Aprovadas em conformidade da deliberação da Câmara Municipal de 31 de Agosto de 1915, em sessão da Comissão Executiva de 14 de Setembro do dito ano.
A Comissão Executiva
Vitorino Joaquim Correia de Sá, Presidente
José Moreira da Costa, Secretário
Saúl Eduardo Rebelo Valente
Agostinho José Pais Moreira
António da Costa Monteiro
Manuel Alves da Silva
sábado, 4 de agosto de 2007
Os vazios do mapa português – II
Dámo-nos bem neste Portugal pequeno. Afinal de contas, nele, os aviões circulam, as auto-estradas prosperam e é de esperar que cresça a velocidade média dos comboios. O déficit será controlado. Vemos todos os canais de televisão. Dispomos de agências bancárias e crédito fácil em todas as esquinas. Milhares de vagas no ensino superior estão aí, para serem ocupadas. Inglês, “americanismos” e Mac Donalds q.b.. Políticos diligentes, cronistas divertidos.
Que queremos mais?
Comecemos pelo princípio. Há uma questão regional, em Portugal, com pelo menos, três factores correspondentes a dimensões essenciais que devem ser tidas em conta neste universo da globalização.
O primeiro factor, trata-se como já referi, na anterior reflexão, da existência de fortíssimas assimetrias regionais, que têm a ver com os níveis de desenvolvimento sócio/económico. Prende-se ainda com a lógica da afectação dos recursos públicos. Essas diferenças penalizam a generalidade do território português em relação à grande Lisboa. Penalizam ainda o interior face ao litoral. E grande parte do litoral em função das duas actuais áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
O segundo factor, resulta de um centralismo histórico na óptica do relacionamento institucional entre o Estado e todo o território continental. O máximo que vai sendo conseguido é a celebração de uma tímida desconcentração de alguns serviços da administração pública, mas, com competências e meios extremamente limitados. Ainda por cima, continuando esses serviços a assumir uma postura de obediência ao Estado, sem qualquer participação e controlo por parte das populações que supostamente servem.
O terceiro factor, está ligado, essencialmente, às questões de escala. Como se poderá constactar (e à excepção dos Governos Regionais da Madeira e dos Açores), é enorme o fosso entre os níveis de poderes democráticos que existem no nosso país, nomeadamente entre as autarquias e o Estado central.
Ora, muitos problemas de organização socio-económica e acção política exigem, do meu ponto de vista, uma escala intermédia. Digo isto, quer se trate da coordenação e gestão de um vasto leque de infra-estruturas urbanas e interurbanas (resíduos sólidos, efluentes, abastecimento de água, rede viária fundamental,...), de uma estratégia concertada de planeamento regional ou da promoção de programas de desenvolvimento integrados e territorializados. Nesta perspectiva, concordarão que para a concertação de estratégias sustentabilizáveis e sustentabilizadas, a escala nacional será demasiado longínqua e a escala municipal manifestamente insuficiente. Como consequência deste estado das coisas, ou seja, da ausência de poderes democráticos a uma escala intermédia, os organismos (como por exemplo, as comissões de coordenação) que deveriam ter uma vocação eminentemente técnica, transformam-se em organismos de poder, ainda por cima, não legitimados pelo escrutínio das populações.
E é aqui, meus caros (e por aqui), que deve entrar a discussão sobre a (re)criação das tais Áreas Metropolitanas, questão que tantas animadas e não menos “divertidas conversas” tem desencadeado.
Eventualmente favorável a uma reforma daquilo que será hoje o Estado, aquilo a que se chama o país uno e indivisível, sou, se quiserem, receptivo a uma “regionalização calma” e gradualista.
A nossa posição deve ser rigorosamente esta. Não assumindo uma posição fechada, devemos, por isso, informarmo-nos dos argumentos daqueles que questionam a oportunidade desta reforma, e aceitar muitas das suas interrogações e dúvidas. Mas só considerando argumentos. Devemo-nos recusar a fazer depender a criação de regiões e regiões/áreas metropolitanas da existência de “regiões naturais”, de “distritos naturais” ou de “áreas metropolitanas naturais”, que não se sabe o que são. Aliás, o apelo para que não haja uma suposta traição à história e à unidade nacional lembra um certo nacionalismo exacerbado que por aí anda à solta.
É nesse sentido que, no âmbito desta discussão, procuro saber quais são os argumentos dos que preferem a existência de uma comunidade urbana. Dos que preferem a criação da Área Metropolitana de Aveiro. Tento ainda verificar, até que ponto fará sentido a Área Metropolitana do Porto se não estiver associada aos municípios do Vale do Ave e da generalidade dos municípios que fazem parte do distrito de Aveiro e do Vale do Vouga. Esta última dimensão é, aliás, a que me encontro posicionado. Defendo portanto a constituição daquilo a que denomino por Grande Região/Área Metropolitana do Porto, desenvolvida entre Braga e Aveiro. Uma Região/Área Metropolitana que, sendo congregadora, pela sua dinâmica e valorização socio-económica possa capitalizar, conjuntamente com a região da Galiza, uma enorme atractividade ao nível da “velha” Europa que, necessariamente reforçará o seu relacionamento com o novo leste democrático.
É por tudo isto que importa saber o que está em causa nesta discussão da criação das Áreas Metropolitanas. Importa, acima de tudo, fazer uma análise profunda, em termos de Planeamento, de como podem ser desenvolvidas as nossa regiões, quais são as vantagens da existência de um núcleo de intervenção forte nos mais diversos domínios do quotidiano de todas as gentes da região norte (ou grande Porto).
Mas importa também questionar e saber com que meios e quais os meios. O seu financiamento. Quem gere e como gere.
É que, por muito que não consideremos as questões económicas ou financeiras fundamentais, a verdade é que, sem dinheiro, e sem um financiamento efectivo, jamais a reforma, que todos preconizam, será conseguida com a eficácia desejada.
(Novembro de 2003, in "Terras da Feira")
Que queremos mais?
Comecemos pelo princípio. Há uma questão regional, em Portugal, com pelo menos, três factores correspondentes a dimensões essenciais que devem ser tidas em conta neste universo da globalização.
O primeiro factor, trata-se como já referi, na anterior reflexão, da existência de fortíssimas assimetrias regionais, que têm a ver com os níveis de desenvolvimento sócio/económico. Prende-se ainda com a lógica da afectação dos recursos públicos. Essas diferenças penalizam a generalidade do território português em relação à grande Lisboa. Penalizam ainda o interior face ao litoral. E grande parte do litoral em função das duas actuais áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
O segundo factor, resulta de um centralismo histórico na óptica do relacionamento institucional entre o Estado e todo o território continental. O máximo que vai sendo conseguido é a celebração de uma tímida desconcentração de alguns serviços da administração pública, mas, com competências e meios extremamente limitados. Ainda por cima, continuando esses serviços a assumir uma postura de obediência ao Estado, sem qualquer participação e controlo por parte das populações que supostamente servem.
O terceiro factor, está ligado, essencialmente, às questões de escala. Como se poderá constactar (e à excepção dos Governos Regionais da Madeira e dos Açores), é enorme o fosso entre os níveis de poderes democráticos que existem no nosso país, nomeadamente entre as autarquias e o Estado central.
Ora, muitos problemas de organização socio-económica e acção política exigem, do meu ponto de vista, uma escala intermédia. Digo isto, quer se trate da coordenação e gestão de um vasto leque de infra-estruturas urbanas e interurbanas (resíduos sólidos, efluentes, abastecimento de água, rede viária fundamental,...), de uma estratégia concertada de planeamento regional ou da promoção de programas de desenvolvimento integrados e territorializados. Nesta perspectiva, concordarão que para a concertação de estratégias sustentabilizáveis e sustentabilizadas, a escala nacional será demasiado longínqua e a escala municipal manifestamente insuficiente. Como consequência deste estado das coisas, ou seja, da ausência de poderes democráticos a uma escala intermédia, os organismos (como por exemplo, as comissões de coordenação) que deveriam ter uma vocação eminentemente técnica, transformam-se em organismos de poder, ainda por cima, não legitimados pelo escrutínio das populações.
E é aqui, meus caros (e por aqui), que deve entrar a discussão sobre a (re)criação das tais Áreas Metropolitanas, questão que tantas animadas e não menos “divertidas conversas” tem desencadeado.
Eventualmente favorável a uma reforma daquilo que será hoje o Estado, aquilo a que se chama o país uno e indivisível, sou, se quiserem, receptivo a uma “regionalização calma” e gradualista.
A nossa posição deve ser rigorosamente esta. Não assumindo uma posição fechada, devemos, por isso, informarmo-nos dos argumentos daqueles que questionam a oportunidade desta reforma, e aceitar muitas das suas interrogações e dúvidas. Mas só considerando argumentos. Devemo-nos recusar a fazer depender a criação de regiões e regiões/áreas metropolitanas da existência de “regiões naturais”, de “distritos naturais” ou de “áreas metropolitanas naturais”, que não se sabe o que são. Aliás, o apelo para que não haja uma suposta traição à história e à unidade nacional lembra um certo nacionalismo exacerbado que por aí anda à solta.
É nesse sentido que, no âmbito desta discussão, procuro saber quais são os argumentos dos que preferem a existência de uma comunidade urbana. Dos que preferem a criação da Área Metropolitana de Aveiro. Tento ainda verificar, até que ponto fará sentido a Área Metropolitana do Porto se não estiver associada aos municípios do Vale do Ave e da generalidade dos municípios que fazem parte do distrito de Aveiro e do Vale do Vouga. Esta última dimensão é, aliás, a que me encontro posicionado. Defendo portanto a constituição daquilo a que denomino por Grande Região/Área Metropolitana do Porto, desenvolvida entre Braga e Aveiro. Uma Região/Área Metropolitana que, sendo congregadora, pela sua dinâmica e valorização socio-económica possa capitalizar, conjuntamente com a região da Galiza, uma enorme atractividade ao nível da “velha” Europa que, necessariamente reforçará o seu relacionamento com o novo leste democrático.
É por tudo isto que importa saber o que está em causa nesta discussão da criação das Áreas Metropolitanas. Importa, acima de tudo, fazer uma análise profunda, em termos de Planeamento, de como podem ser desenvolvidas as nossa regiões, quais são as vantagens da existência de um núcleo de intervenção forte nos mais diversos domínios do quotidiano de todas as gentes da região norte (ou grande Porto).
Mas importa também questionar e saber com que meios e quais os meios. O seu financiamento. Quem gere e como gere.
É que, por muito que não consideremos as questões económicas ou financeiras fundamentais, a verdade é que, sem dinheiro, e sem um financiamento efectivo, jamais a reforma, que todos preconizam, será conseguida com a eficácia desejada.
(Novembro de 2003, in "Terras da Feira")
Os vazios do mapa português - I
O país parece mais pequeno. Pode até parecer um paradoxo, num contexto de crescente integração política e económica no quadro da união europeia. Mas, se olharmos para o mapa do País, descobriremos sem aparente dificuldade que ele está a encurtar – o mapa do país a que nos costumamos referir, quando discutimos opções políticas estratégicas nos mais diversos domínios.
Tendo como referências os dados disponíveis nos dois últimos censos, percebemos a realidade da concentração demográfica no litoral e a polarização das duas grandes áreas circundantes das cidades de Lisboa e do Porto. Ao mesmo tempo, têm sido “quase” inglórias, as tentativas de inverter a desertificação de várias zonas rurais do interior. As grandes e importantes vias de comunicação construídas não têm invertido a tendência e, em certa medida, têm até contribuído para reforçar as relações de dominação e dependência.
O que hoje em dia se torna preocupante nestas relações é, a nossa disposição para lhes negar o estatuto de problema, o estatuto de questão pertinente e resolúvel na agenda sócio-política em que nos revemos.
Por isso, a questão que tem assumido particular destaque na sociedade portuguesa (com especial relevo no nosso concelho) relativa à criação das famosas Áreas Metropolitanas e Comunidades Urbanas, parece-nos, de facto, uma das chaves para o tão falado, mas muitas vezes não percebido, desenvolvimento sustentado ou sustentável e portanto, mecanismo preponderante na diminuição das assimetrias regionais referidas anteriormente.
É isso. Por muito que se pense que as áreas metropolitanas são apenas uma questão de estatuto, de importância ou peso político numa dada região (admito que o tenham sida até à data), ou ainda uma questão de proximidade e de afinidades sociais, culturais ou históricas, a verdade é que temos de perceber que este é, de facto, o momento oportuno para que o país e as suas regiões se afirmem dentro do contexto ibérico, europeu e até mundial. Para que se criem desígnios regionais e locais.
Antes de mais, é necessário percebermos qual é, na realidade, o papel ou o conceito de uma Área Metropolitana e, por outro lado, de uma Comunidade Urbana.
Com a aprovação do Dec. Lei n.º 10/2003, de 13 de Maio, definiram-se uma série de atribuições para uma AM, nomeadamente, a articulação dos investimentos municipais e de interesse supramunicipal (diria ainda de interesse regional); a coordenação de actuações entre os municípios e os serviços da administração central nas áreas do saneamento básico, e de abastecimento público, na saúde, na educação, no ambiente, educação e conservação da natureza, na segurança e protecção civil, nas acessibilidades e transportes, nos grandes equipamentos de utilização colectiva, no turismo e cultura, no desporto, juventude e actividades de lazer; coordenação ao nível do Planeamento e gestão estratégica, económica e social e ainda ao nível da gestão territorial na área dos municípios integrantes.
Estes são, na realidade, os dossiers que uma junta metropolitana tem, por obrigação, de gerir e articular com todos os municípios que compõem o perímetro de influência da referida Área Metropolitana. De uma vez por todas é necessário desconcentrar e, descentralizar. É fundamental criarmos no norte do país, um modelo de gestão cooperativo entre as mais diversas entidades, públicas e privadas, por forma a combater o excessivo domínio socio-económico e político da região de Lisboa. E, por muito que custe a aceitar, tal mudança só será possível, não com divisão em pseudo áreas metropolitanas ou comunidades urbanas (uma forma diferente para definir as associações de municípios que poucas vezes funcionam) que se congregariam, eventualmente, no trabalho titânico de angariar uns míseros programas de investimento e desenvolvimento, mas sim, com uma Região/Área Metropolitana que, com a sua dinâmica empresarial, económica, massa crítica e objectivos comuns, possa capitalizar investimentos estratégicos e conjunturais a norte do Mondego.
Como já devem ter percebido, defendo para o país a criação de apenas duas grandes Regiões/Áreas Metropolitanas policêntricas e com as suas bases no Porto e em Lisboa.
No caso de Santa Maria da Feira e do Distrito de Aveiro, como é evidente, torna-se perfeitamente defensável e (digo eu) desejável, que façam parte desta grande urbe europeia que se poderá tornar, a médio prazo, a região do grande Porto.
Não pretendo apresentar os argumentos fáceis das relações de proximidade, das relações sentimentais, dos valores históricos ou ainda do irritante argumento da coesão distrital.
Deixo-vos apenas, por agora, dois outros pontos de vista.
1.º Na perspectiva de um aumento das relações do eixo atlântico Porto/Vigo/Galiza, é evidente que se, Santa Maria da Feira e Aveiro, não estiverem associados ao Porto, logicamente que todas as suas (co)relações formais com Espanha e por consequência, resto da Europa, estarão bastante comprometidas. Esta grande região, quer queiram ou não, é um enorme contínuo urbano definido entre Braga e Aveiro com potencialidades que importam (re)descobrir. E o Europarque, por exemplo? Mesmo que para cá venham algumas feiras que actualmente residem em Leça, sem nos associarmos ao Porto, poderá algum dia assumir a sua verdadeira vocação de grande centro de negócios do Norte do País e mesmo da Península Ibérica?
2.º O acesso à discussão do grande projecto da década: ligação em TGV a Madrid.
Caso não se saiba, existem neste momento, três alternativas para a construção da ligação de Portugal e Espanha em alta velocidade. É difícil, mas possível. Como seria de esperar, Lisboa continua a defender o transporte de passageiros e mercadorias com a ligação entre a Ota e Cáceres (passando por Badajóz); Existe ainda um outro cenário que passaria pelo transporte apenas de passageiros entre o Entroncamento e Cáceres.
Mas a questão que ainda está em cima da mesa (caso os homens do Norte tenham tenham argumentos de “peso”) apresentando-se como o cenário mais desejável, denominado por modelo “Pi” é a construção não só da ligação entre Ota e Cáceres, mas também a ligação entre Aveiro/Salamanca/Valladolid/Madrid.
Assim, a linha entre Vigo e Lisboa (passando pelo Porto) possuiria uma ponto de paragem em Aveiro que permitiria a ligação a Madrid em 3 horas. Sim, 3 horas.
Como é evidente, Santa Maria da Feira só teria a beneficiar com a adesão à Grande Região/Área Metropolitana do Porto (imaginem também o que é ficar no centro de uma região que possui, 30 Km a norte, um aeroporto internacional, e 30 Km a sul, a grande linha ibérica de alta velocidade.
Para os mais cépticos, admitiria ainda, e na perspectiva de que nesta fase, não seja possível essa união da região norte, uma divisão em dois subgrupos: AM Porto Norte e AM Porto Sul, este último onde nos incluiríamos, à semelhança de Aveiro, Espinho, Gaia ou Castelo de Paiva.
Com o Douro como “veículo comum” e, porque o nome também conta nestes vazios do mapa português...
(Setembro de 2003, in "Terras da Feira")
Tendo como referências os dados disponíveis nos dois últimos censos, percebemos a realidade da concentração demográfica no litoral e a polarização das duas grandes áreas circundantes das cidades de Lisboa e do Porto. Ao mesmo tempo, têm sido “quase” inglórias, as tentativas de inverter a desertificação de várias zonas rurais do interior. As grandes e importantes vias de comunicação construídas não têm invertido a tendência e, em certa medida, têm até contribuído para reforçar as relações de dominação e dependência.
O que hoje em dia se torna preocupante nestas relações é, a nossa disposição para lhes negar o estatuto de problema, o estatuto de questão pertinente e resolúvel na agenda sócio-política em que nos revemos.
Por isso, a questão que tem assumido particular destaque na sociedade portuguesa (com especial relevo no nosso concelho) relativa à criação das famosas Áreas Metropolitanas e Comunidades Urbanas, parece-nos, de facto, uma das chaves para o tão falado, mas muitas vezes não percebido, desenvolvimento sustentado ou sustentável e portanto, mecanismo preponderante na diminuição das assimetrias regionais referidas anteriormente.
É isso. Por muito que se pense que as áreas metropolitanas são apenas uma questão de estatuto, de importância ou peso político numa dada região (admito que o tenham sida até à data), ou ainda uma questão de proximidade e de afinidades sociais, culturais ou históricas, a verdade é que temos de perceber que este é, de facto, o momento oportuno para que o país e as suas regiões se afirmem dentro do contexto ibérico, europeu e até mundial. Para que se criem desígnios regionais e locais.
Antes de mais, é necessário percebermos qual é, na realidade, o papel ou o conceito de uma Área Metropolitana e, por outro lado, de uma Comunidade Urbana.
Com a aprovação do Dec. Lei n.º 10/2003, de 13 de Maio, definiram-se uma série de atribuições para uma AM, nomeadamente, a articulação dos investimentos municipais e de interesse supramunicipal (diria ainda de interesse regional); a coordenação de actuações entre os municípios e os serviços da administração central nas áreas do saneamento básico, e de abastecimento público, na saúde, na educação, no ambiente, educação e conservação da natureza, na segurança e protecção civil, nas acessibilidades e transportes, nos grandes equipamentos de utilização colectiva, no turismo e cultura, no desporto, juventude e actividades de lazer; coordenação ao nível do Planeamento e gestão estratégica, económica e social e ainda ao nível da gestão territorial na área dos municípios integrantes.
Estes são, na realidade, os dossiers que uma junta metropolitana tem, por obrigação, de gerir e articular com todos os municípios que compõem o perímetro de influência da referida Área Metropolitana. De uma vez por todas é necessário desconcentrar e, descentralizar. É fundamental criarmos no norte do país, um modelo de gestão cooperativo entre as mais diversas entidades, públicas e privadas, por forma a combater o excessivo domínio socio-económico e político da região de Lisboa. E, por muito que custe a aceitar, tal mudança só será possível, não com divisão em pseudo áreas metropolitanas ou comunidades urbanas (uma forma diferente para definir as associações de municípios que poucas vezes funcionam) que se congregariam, eventualmente, no trabalho titânico de angariar uns míseros programas de investimento e desenvolvimento, mas sim, com uma Região/Área Metropolitana que, com a sua dinâmica empresarial, económica, massa crítica e objectivos comuns, possa capitalizar investimentos estratégicos e conjunturais a norte do Mondego.
Como já devem ter percebido, defendo para o país a criação de apenas duas grandes Regiões/Áreas Metropolitanas policêntricas e com as suas bases no Porto e em Lisboa.
No caso de Santa Maria da Feira e do Distrito de Aveiro, como é evidente, torna-se perfeitamente defensável e (digo eu) desejável, que façam parte desta grande urbe europeia que se poderá tornar, a médio prazo, a região do grande Porto.
Não pretendo apresentar os argumentos fáceis das relações de proximidade, das relações sentimentais, dos valores históricos ou ainda do irritante argumento da coesão distrital.
Deixo-vos apenas, por agora, dois outros pontos de vista.
1.º Na perspectiva de um aumento das relações do eixo atlântico Porto/Vigo/Galiza, é evidente que se, Santa Maria da Feira e Aveiro, não estiverem associados ao Porto, logicamente que todas as suas (co)relações formais com Espanha e por consequência, resto da Europa, estarão bastante comprometidas. Esta grande região, quer queiram ou não, é um enorme contínuo urbano definido entre Braga e Aveiro com potencialidades que importam (re)descobrir. E o Europarque, por exemplo? Mesmo que para cá venham algumas feiras que actualmente residem em Leça, sem nos associarmos ao Porto, poderá algum dia assumir a sua verdadeira vocação de grande centro de negócios do Norte do País e mesmo da Península Ibérica?
2.º O acesso à discussão do grande projecto da década: ligação em TGV a Madrid.
Caso não se saiba, existem neste momento, três alternativas para a construção da ligação de Portugal e Espanha em alta velocidade. É difícil, mas possível. Como seria de esperar, Lisboa continua a defender o transporte de passageiros e mercadorias com a ligação entre a Ota e Cáceres (passando por Badajóz); Existe ainda um outro cenário que passaria pelo transporte apenas de passageiros entre o Entroncamento e Cáceres.
Mas a questão que ainda está em cima da mesa (caso os homens do Norte tenham tenham argumentos de “peso”) apresentando-se como o cenário mais desejável, denominado por modelo “Pi” é a construção não só da ligação entre Ota e Cáceres, mas também a ligação entre Aveiro/Salamanca/Valladolid/Madrid.
Assim, a linha entre Vigo e Lisboa (passando pelo Porto) possuiria uma ponto de paragem em Aveiro que permitiria a ligação a Madrid em 3 horas. Sim, 3 horas.
Como é evidente, Santa Maria da Feira só teria a beneficiar com a adesão à Grande Região/Área Metropolitana do Porto (imaginem também o que é ficar no centro de uma região que possui, 30 Km a norte, um aeroporto internacional, e 30 Km a sul, a grande linha ibérica de alta velocidade.
Para os mais cépticos, admitiria ainda, e na perspectiva de que nesta fase, não seja possível essa união da região norte, uma divisão em dois subgrupos: AM Porto Norte e AM Porto Sul, este último onde nos incluiríamos, à semelhança de Aveiro, Espinho, Gaia ou Castelo de Paiva.
Com o Douro como “veículo comum” e, porque o nome também conta nestes vazios do mapa português...
(Setembro de 2003, in "Terras da Feira")
O processo de planear Vs Plano Director Muncipal
Na primeira metade da década de 90, pressionadas pela ameaça da não obtenção de fundos comunitários (vulgo Quadros Comunitários de Apoio (QCA), as Câmaras Municipais promoveram e apressaram a aprovação dos Planos Directores Municipais, havendo, então, na generalidade dos intervenientes, o pensamento de que as regras estabelecidas por esse instrumento de ordenamento territorial seriam facilmente ultrapassáveis. No entanto, rapidamente se descobriu que, não só estes instrumentos não podiam ser ignorados, como os erros nele contidos só poderiam ser revistos mediante processos demorados e onerosos.
Portanto, há neste momento, uma questão pertinente que se prende com o conceito deste tão vasto e importante instrumento de gestão territorial.
O que será então um Plano Director Municipal, e qual a sua vocação?
À partida, devemos considerar o facto do planeamento, nas suas diversas valências, estar relacionado, essencialmente, por dois factores: se por um lado tem de antecipar o futuro, ao mesmo tempo tem de ser capaz de decidir e executar o presente. O seu objectivo é dar melhor qualidade de vida às populações, estando condicionado pelas questões políticas, económicas, sociais e físicas que influenciam o tipo de decisões a tomar, entre as várias alternativas possíveis. Assim, se o processo de “planear, programar e executar” tem consequências no meio social, físico e económico, o planeamento, possui um conteúdo político evidente.
Sem existir uma decisão eminentemente política, o planeamento fica reduzido a um jogo mais ou menos académico, uma vez que as suas opções poderão não ter suporte para a sua exequibilidade.
Nesse sentido, deverão, em primeiro lugar, assegurar-se alguns aspectos fundamentais para que os processos de elaboração ou revisão dos PDM tenham credibilidade, nomeadamente:
- Tornar a instrução dos Planos mais flexível e adequada a critérios estabelecidos, considerando a realidade municipal;
- Informar e mobilizar as populações locais, para que a sua participação garanta a democraticidade do Plano;
- Executar um levantamento, municipal e inter-municipal, das grandes áreas sociais e ambientais a defender, localizando os principais problemas e elaborarando relatório sobre os recursos existentes;
- Determinar os grandes objectivos do desenvolvimento concelhio e regional, com a definição de programas para o emprego e industria, os serviços e a agricultura (em parceria com o Estado);
- Estabelecer um programa de aquisição de terrenos pela autarquia (reserva de terrenos para zonas verdes, áreas industriais, programas habitacionais, etc) a fim de controlar a especulação imobiliária;
- Considerar medidas de defesa dos ambientes urbano, rural e paisagístico;
- Criar um programa para Redes de equipamentos, de transportes, de acessibilidades, bem como a sua sintonia com os programas de habitação existentes ou a definir.
No caso de Santa Maria da Feira, creio existirem condições para se “definir” um ambicioso programa de desenvolvimento concelhio no âmbito da revisão do Plano Director Municipal. Um verdadeiro “como somos e para onde vamos???”.
No entanto, há um aspecto importantíssimo que deverá estar presente nos mais diversos intervenientes (entidades públicas ou privadas e a população em geral): perspectivar uma visão conjunta e global do território, que permita desenvolver e programar acções e estratégias, concertadas, para as cidades, vilas, aldeias, ou regiões - num Plano Director Municipal não existem casos particulares, mas sim, soluções conjuntas.
O planeamento de cada município deve, por isso, ser estudado dentro do contexto da sua região de influência (agrupamento ou área metropolitana). Logo, o planeamento não é mais do que um dos elementos de um todo que constitui, ou constituirá, um Plano Regional.
Assim, poderá aparecer como uma unidade funcional, que deverá crescer harmoniosamente em cada uma das suas partes, dispondo de espaços, de ligações ou de particularidades que poderão marcar, equilibradamente, as fases do seu crescimento.
Hoje, mais do que nunca, há uma quase completa percepção de que, na essência, todos os problemas são comuns. Os obstáculos ao desenvolvimento dos diferentes municípios de cada distrito ou região vão no mesmo sentido; cada concelho ou município tem ambições equivalentes.
Por isso, a diferenciação entre cada uma dessas estruturas no futuro, estará na forma e na sua capacidade de, em conjunto, definirem estratégias globais e de se reconciliarem com todo o seu espaço natural e, obviamente, os seus habitantes.
Se assim não for, com a tendência de importar soluções de outras regiões – Globalização do País – podemos estar perante uma forma caseira de “colonialismo ocidental”, onde os conceitos de municípios ou regiões mais afastados e mais urbanos impõem aos restantes, regras que orientam o desenvolvimento, sempre em favor dos primeiros.
Santa Maria da Feira, no seu contexto regional, apresenta condições para uma aposta em dois pilares fundamentais para o seu desenvolvimento: a dinamização empresarial/industrial, e o turismo relacionado com os recursos existentes.
Se, ao nível da indústria, devemos apostar na criação de parques industriais temáticos (Terras da Feira, 29/06/01) para se atingir os níveis competitivos de outras regiões europeias, por outro lado, é com o turismo local que poderemos aprofundar as raízes com a nossa identidade. Um turismo local vocacionado para relação com o espaço natural, a história, a gastronomia, as pessoas.
Provavelmente, muitos dos habitantes da zona poente do concelho da Feira, não conhecerão o castro de Romariz, o espaço envolvente e termas de Caldas de S. Jorge, a excelente regueifa doce de Lobão, as ribeiras de Fiães ou a povoação do Porto de Carvoeiro em Canedo (o Rio Douro também passa pelo nosso concelho)... Ao mesmo tempo, talvez outro leque de gente do “nordeste”, não conhecerá o Visionarium, o museu do papel de Paços de Brandão, o parque ornitológico de Lourosa ou a verdadeira fogaça e caladinho da Feira...
Porque estes “pequenos nadas” também importam.
(Março de2003, in "Terras da Feira")
Portanto, há neste momento, uma questão pertinente que se prende com o conceito deste tão vasto e importante instrumento de gestão territorial.
O que será então um Plano Director Municipal, e qual a sua vocação?
À partida, devemos considerar o facto do planeamento, nas suas diversas valências, estar relacionado, essencialmente, por dois factores: se por um lado tem de antecipar o futuro, ao mesmo tempo tem de ser capaz de decidir e executar o presente. O seu objectivo é dar melhor qualidade de vida às populações, estando condicionado pelas questões políticas, económicas, sociais e físicas que influenciam o tipo de decisões a tomar, entre as várias alternativas possíveis. Assim, se o processo de “planear, programar e executar” tem consequências no meio social, físico e económico, o planeamento, possui um conteúdo político evidente.
Sem existir uma decisão eminentemente política, o planeamento fica reduzido a um jogo mais ou menos académico, uma vez que as suas opções poderão não ter suporte para a sua exequibilidade.
Nesse sentido, deverão, em primeiro lugar, assegurar-se alguns aspectos fundamentais para que os processos de elaboração ou revisão dos PDM tenham credibilidade, nomeadamente:
- Tornar a instrução dos Planos mais flexível e adequada a critérios estabelecidos, considerando a realidade municipal;
- Informar e mobilizar as populações locais, para que a sua participação garanta a democraticidade do Plano;
- Executar um levantamento, municipal e inter-municipal, das grandes áreas sociais e ambientais a defender, localizando os principais problemas e elaborarando relatório sobre os recursos existentes;
- Determinar os grandes objectivos do desenvolvimento concelhio e regional, com a definição de programas para o emprego e industria, os serviços e a agricultura (em parceria com o Estado);
- Estabelecer um programa de aquisição de terrenos pela autarquia (reserva de terrenos para zonas verdes, áreas industriais, programas habitacionais, etc) a fim de controlar a especulação imobiliária;
- Considerar medidas de defesa dos ambientes urbano, rural e paisagístico;
- Criar um programa para Redes de equipamentos, de transportes, de acessibilidades, bem como a sua sintonia com os programas de habitação existentes ou a definir.
No caso de Santa Maria da Feira, creio existirem condições para se “definir” um ambicioso programa de desenvolvimento concelhio no âmbito da revisão do Plano Director Municipal. Um verdadeiro “como somos e para onde vamos???”.
No entanto, há um aspecto importantíssimo que deverá estar presente nos mais diversos intervenientes (entidades públicas ou privadas e a população em geral): perspectivar uma visão conjunta e global do território, que permita desenvolver e programar acções e estratégias, concertadas, para as cidades, vilas, aldeias, ou regiões - num Plano Director Municipal não existem casos particulares, mas sim, soluções conjuntas.
O planeamento de cada município deve, por isso, ser estudado dentro do contexto da sua região de influência (agrupamento ou área metropolitana). Logo, o planeamento não é mais do que um dos elementos de um todo que constitui, ou constituirá, um Plano Regional.
Assim, poderá aparecer como uma unidade funcional, que deverá crescer harmoniosamente em cada uma das suas partes, dispondo de espaços, de ligações ou de particularidades que poderão marcar, equilibradamente, as fases do seu crescimento.
Hoje, mais do que nunca, há uma quase completa percepção de que, na essência, todos os problemas são comuns. Os obstáculos ao desenvolvimento dos diferentes municípios de cada distrito ou região vão no mesmo sentido; cada concelho ou município tem ambições equivalentes.
Por isso, a diferenciação entre cada uma dessas estruturas no futuro, estará na forma e na sua capacidade de, em conjunto, definirem estratégias globais e de se reconciliarem com todo o seu espaço natural e, obviamente, os seus habitantes.
Se assim não for, com a tendência de importar soluções de outras regiões – Globalização do País – podemos estar perante uma forma caseira de “colonialismo ocidental”, onde os conceitos de municípios ou regiões mais afastados e mais urbanos impõem aos restantes, regras que orientam o desenvolvimento, sempre em favor dos primeiros.
Santa Maria da Feira, no seu contexto regional, apresenta condições para uma aposta em dois pilares fundamentais para o seu desenvolvimento: a dinamização empresarial/industrial, e o turismo relacionado com os recursos existentes.
Se, ao nível da indústria, devemos apostar na criação de parques industriais temáticos (Terras da Feira, 29/06/01) para se atingir os níveis competitivos de outras regiões europeias, por outro lado, é com o turismo local que poderemos aprofundar as raízes com a nossa identidade. Um turismo local vocacionado para relação com o espaço natural, a história, a gastronomia, as pessoas.
Provavelmente, muitos dos habitantes da zona poente do concelho da Feira, não conhecerão o castro de Romariz, o espaço envolvente e termas de Caldas de S. Jorge, a excelente regueifa doce de Lobão, as ribeiras de Fiães ou a povoação do Porto de Carvoeiro em Canedo (o Rio Douro também passa pelo nosso concelho)... Ao mesmo tempo, talvez outro leque de gente do “nordeste”, não conhecerá o Visionarium, o museu do papel de Paços de Brandão, o parque ornitológico de Lourosa ou a verdadeira fogaça e caladinho da Feira...
Porque estes “pequenos nadas” também importam.
(Março de2003, in "Terras da Feira")
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
Casa Manoel de Oliveira
Concluída em 2003, a Casa-Cinema Manoel de Oliveira, na Foz do Douro, foi construída para expor o vasto espólio e a obra cinematográfica do mais velho cineasta do Mundo em actividade.
Tendo a casa-museu sido encomendada pela autarquia portuense em 1998 como forma de homenagear Manoel de Oliveira, as duas partes nunca chegaram a acordo sobre o projecto - o cineasta nunca garantiu a “cedência” do seu acervo.
A obra terá custado dois milhões de euros à Câmara Municipal do Porto, e ficou a cargo do arquitecto Souto Moura, que projectou uma enorme máquina de filmar com duas objectivas. Uma seria a casa de Manoel de Oliveira, outra seria o museu.
Apesar de pronta há quatro anos, o edifício encontra-se abandonado, tendo como resultado o enorme estado de degradação e apresentando-se como palco dos mais variados actos de vandalismo.
Sendo uma obra de referência da arquitectura contemporânea portuguesa, o estado a que se deixou chegou este projecto, dedicado à sétima arte, ilustra perfeitamente, a forma com a autarquia portuense tem tratado a cultura nesta cidade, cujo centro histórico (ainda) faz parte do Património da Humanidade.
A um ex-aluno
Caro ex-aluno,
Fica desde já decretado que usarás gravata!
Este é, sem dúvida alguma, requisito mínimo essencial para poderes entrar com o pé direito na vida profissional. Escusas de pensar que, mesmo apresentando os teus dotes académicos, a malta que manda te vai aceitar, tal como és. Quais jeans coçados, “doc martin’s” nos calcantes, malhas vindas de qualquer serrania do interior.
Mais. Nem tentes aparecer de cabelo “apanhado” com as contemporâneas rastas.
A barba, se for com três dias ainda poderá vir a passar.
Lembra-te sempre daquelas dicas do professor tipo “...cuidado com as aparências... o aspecto é muito importante..:”. Enfim, lugares comuns.
Lá para o final da semana, é claro que podes usar as confortáveis gangas, mas, a gravata, essa é, sem qualquer dúvida, o ritual com que assinalarás o início da vida profissional.
A partir daí, vais, certamente, pensar em fazer carreira. Essa coisa que se faz subindo. Aviso-te desde já que alguns, sobem por ser do partido; outros, sobem, apesar de não o serem. A diferença, entre eles, é o facto dos primeiros serem em maior quantidade e a sua ascensão ser substancialmente mais fácil e acelerada. É certo que poderás manter as tuas convicções, mas de uma forma “meio-meio”, a ser e não ser, um“nim”: a afirmação da diferença exigirá que sejas profissionalmente muito melhor, para que te possam tolerar. Bom, o melhor é não arriscar. Entre seguidismo e competência, o poder, normalmente, opta sempre pela primeira.
Por isso, deverás também, ser muito cauteloso. Antes de Abril, em cada local havia um pide, e era fácil detectá-lo. Hoje em dia, tudo é mais soft, menos pesado, mais low profile, mais cool: o tipo que nos trama, sorri-nos da secretária do lado, ou à hora do lanche, entre dois dedos de conversa. Ou então, é a outra, que de repente, te começou a cumprimentar com um beijinho, no caminho do trabalho.
A denúncia será, em todo caso, feita na reunião do partido. Mas nem tudo é mau: agora já ninguém é preso por subversão. Apenas te referem que não és promovido ou que o contrato não será renovado, por razões estritamente técnicas.
Mais. Entre um slogan e um argumento, deverás escolher sempre o primeiro: a argumentação, como se sabe, é um sinal da mais profunda tibieza.
Se te destacarem alguns subordinados, assumirás o protagonismo nos momentos bons, e deixar-lhes-ás o ónus dos momentos maus. Os subordinados foram feitos para isso mesmo. Se a coisa correr bem, deverás por isso aparecer. Chama-se a isso “dar a cara”. Se houver problema e se exigirem atribuição de um culpado, que pelo menos não sejas tu.
È certo que viverás sob um poder que respira hipocrisia. Mas isso não importa.
No entanto, por vezes, a indignação prega-nos partidas. Se um dia começares a ficar enjoado com a situação, talvez seja melhor resistires. A coerência é, cada vez mais, um luxo que se paga caro. Tira uns dias de férias. Virás novamente com um sorriso.
Mas, se mesmo após o descanso, não te sentires bem, deverás invocar o excesso de juventude da tua pessoa. E deves invocar ainda o mais genuíno arrependimento. O poder adora arrependidos, concedendo-lhes sempre um perdão.
Mas, se nada disso te consolar, se o cansaço da situação te atirar para um monte de urtigas, e a revolta te convidar a sentar junto de um enxame de abelhas, talvez possas improvisar conselhos a um qualquer ex-aluno, sendo certo que essa carta deverá ficar retida na tua mais secreta gaveta.
Ou então, resta-te assumir que és um caso perdido. Sabendo porém, com uma estonteante alegria, que a adolescência e a liberdade te continuam a moldar, serenamente, por dentro.
Fica desde já decretado que usarás gravata!
Este é, sem dúvida alguma, requisito mínimo essencial para poderes entrar com o pé direito na vida profissional. Escusas de pensar que, mesmo apresentando os teus dotes académicos, a malta que manda te vai aceitar, tal como és. Quais jeans coçados, “doc martin’s” nos calcantes, malhas vindas de qualquer serrania do interior.
Mais. Nem tentes aparecer de cabelo “apanhado” com as contemporâneas rastas.
A barba, se for com três dias ainda poderá vir a passar.
Lembra-te sempre daquelas dicas do professor tipo “...cuidado com as aparências... o aspecto é muito importante..:”. Enfim, lugares comuns.
Lá para o final da semana, é claro que podes usar as confortáveis gangas, mas, a gravata, essa é, sem qualquer dúvida, o ritual com que assinalarás o início da vida profissional.
A partir daí, vais, certamente, pensar em fazer carreira. Essa coisa que se faz subindo. Aviso-te desde já que alguns, sobem por ser do partido; outros, sobem, apesar de não o serem. A diferença, entre eles, é o facto dos primeiros serem em maior quantidade e a sua ascensão ser substancialmente mais fácil e acelerada. É certo que poderás manter as tuas convicções, mas de uma forma “meio-meio”, a ser e não ser, um“nim”: a afirmação da diferença exigirá que sejas profissionalmente muito melhor, para que te possam tolerar. Bom, o melhor é não arriscar. Entre seguidismo e competência, o poder, normalmente, opta sempre pela primeira.
Por isso, deverás também, ser muito cauteloso. Antes de Abril, em cada local havia um pide, e era fácil detectá-lo. Hoje em dia, tudo é mais soft, menos pesado, mais low profile, mais cool: o tipo que nos trama, sorri-nos da secretária do lado, ou à hora do lanche, entre dois dedos de conversa. Ou então, é a outra, que de repente, te começou a cumprimentar com um beijinho, no caminho do trabalho.
A denúncia será, em todo caso, feita na reunião do partido. Mas nem tudo é mau: agora já ninguém é preso por subversão. Apenas te referem que não és promovido ou que o contrato não será renovado, por razões estritamente técnicas.
Mais. Entre um slogan e um argumento, deverás escolher sempre o primeiro: a argumentação, como se sabe, é um sinal da mais profunda tibieza.
Se te destacarem alguns subordinados, assumirás o protagonismo nos momentos bons, e deixar-lhes-ás o ónus dos momentos maus. Os subordinados foram feitos para isso mesmo. Se a coisa correr bem, deverás por isso aparecer. Chama-se a isso “dar a cara”. Se houver problema e se exigirem atribuição de um culpado, que pelo menos não sejas tu.
È certo que viverás sob um poder que respira hipocrisia. Mas isso não importa.
No entanto, por vezes, a indignação prega-nos partidas. Se um dia começares a ficar enjoado com a situação, talvez seja melhor resistires. A coerência é, cada vez mais, um luxo que se paga caro. Tira uns dias de férias. Virás novamente com um sorriso.
Mas, se mesmo após o descanso, não te sentires bem, deverás invocar o excesso de juventude da tua pessoa. E deves invocar ainda o mais genuíno arrependimento. O poder adora arrependidos, concedendo-lhes sempre um perdão.
Mas, se nada disso te consolar, se o cansaço da situação te atirar para um monte de urtigas, e a revolta te convidar a sentar junto de um enxame de abelhas, talvez possas improvisar conselhos a um qualquer ex-aluno, sendo certo que essa carta deverá ficar retida na tua mais secreta gaveta.
Ou então, resta-te assumir que és um caso perdido. Sabendo porém, com uma estonteante alegria, que a adolescência e a liberdade te continuam a moldar, serenamente, por dentro.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Referências...
“Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual a pedra que sustém a ponte? Pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra – responde Marco – mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.”
(In “As Cidades invisíveis”, Italo Calvino)
Tal como a ponte que o viajante descreve, também o sistema de espaços colectivos não é substituído por esta ou aquela praça, por este ou aquele parque, por uma ou outra alameda, mas pelo conjunto integrado que todas elas formam. Afinal, é este o suporte físico de todo o ambiente urbano, que define as terras e do qual dependem todas as suas vivências...
- Mas qual a pedra que sustém a ponte? Pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra – responde Marco – mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.”
(In “As Cidades invisíveis”, Italo Calvino)
Tal como a ponte que o viajante descreve, também o sistema de espaços colectivos não é substituído por esta ou aquela praça, por este ou aquele parque, por uma ou outra alameda, mas pelo conjunto integrado que todas elas formam. Afinal, é este o suporte físico de todo o ambiente urbano, que define as terras e do qual dependem todas as suas vivências...
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