segunda-feira, 22 de outubro de 2007

CO-INCINERAÇÃO GERAL

É um facto que Portugal, como qualquer outro país, produz resíduos industriais perigosos (RIP) a que é necessário dar um destino. Talvez a incineração não seja o melhor, mas é o que se faz em muitos locais e, nalguns casos, em unidades especificamente construídas para o efeito (Incineração Dedicada) e noutros, através da queima em cimenteiras (Co-Incineração).
Portanto, partamos do princípio que, a curto prazo só existirão estas duas alternativas. Há aspectos positivos e negativos em ambas. Assim, discuta-se o problema base.
Foi nomeada uma Comissão Científica Independente (CCI) que, depois de alguns estudos se pronunciou em favor da Co-Incineração, da queima em cimenteiras e, neste caso em particular, nas localidades de Souselas e Outão.
Parto do princípio que a comunidade científica terá toda a legitimidade para se pronunciar relativamente a este assunto, tanto na essência do problema como na sua localização. Se assim não fosse, mais valia que se deixassem de formar técnicos nas nossas universidades e, tudo poderia ser decidido ao sabor de uma qualquer pressão contestatária.
Também é verdade que entendo o pleno direito de todos os cidadãos discordarem e se for caso disso, participarem em manifestações de desagrado, conforme a linha do seu próprio pensamento. Aliás, não concebo a democracia sem esse pleno direito de participar na discussão e resolução dos problemas.
No entanto, depois de Souselas ser um dos locais escolhidos, levando a que os habitantes de Coimbra tivessem um acesso de indignação colectiva (bem como uma grande percentagem de portugueses), achei estranho que, pessoas com responsabilidades ao nível da sociedade, não viessem a público discutir de forma saudável o problema.
É que toda a gente se indigna por ver Souselas como um dos locais escolhidos para a Co-Incineração, mas ninguém se indigna por, nessa mesma localidade existir uma cimenteira e respectiva lixeira adjacente, bem como toda a poluição que daí advêm.
Gostava de ver esses indignados a defender com tanto afinco as linhas de água, a despoluição dos rios, a diminuição da emissão de fumos e dióxidos das indústrias poluentes, a eliminação de uma vez por todas das lixeiras a céu aberto.
Gostava de saber se essas pessoas fazem algum esforço para assegurar a famosa política dos 3 R’s, mesmo nas suas próprias casas (Reduzir, Reutilizar, Reciclar).
Gostava ainda de saber se, caso essa Co-Incineração fosse num qualquer concelho de Aveiro, os mesmos indignados teriam a mesma posição.
Não, o importante é que não seja em Coimbra, até porque esta cidade tem uma maneira de ser especial. Logo Coimbra que “nos deu” tantos doutores e páginas de literatura.
Em Souselas poderemos contar com uma excepção? A cimenteira pode produzir lixo a céu aberto desde que se não fale em co-incineração?
Só faltava os deputados da Nação e o Governo Central decretarem esta área com um regime especial.
Neste debate sobre a co-incineração há quase uma absoluta falta de razão.
Era preferível que se dessem explicações ao público em geral de quais são as verdadeiras vantagens e desvantagens deste processo. Era preferível que se começasse um trabalho de base nas nossas escolas, na nossa sociedade, no sentido de todas as pessoas se mobilizarem num verdadeiro espírito ecológico. O esforço que deveria ser feito era o de comunicar e fornecer todos os dados concretos acerca da problemática ambiental, a todos aqueles que, mais de perto irão viver o problema no seu dia-a-dia. As pessoas têm de se sentir seguras para acreditarem no processo.
Defendo que se invista na construção de unidades específicas para o efeito (Incineração Dedicada). Para isso, faça-se uma investigação e estudos rigorosos e comece-se a dar provas de que o ambiente é realmente olhado da forma como merece, ou seja, que o ambiente é visto como um factor basilar de desenvolvimento e de qualidade de vida dos cidadãos.
Para que estes processos resultem é necessário que as pessoas acreditem nos mesmos.
Nessa perspectiva, os organismos públicos têm de dar o exemplo, promovendo acções de sensibilização, acompanhamento e, como é evidente, obras de qualidade.

(algures em Janeiro de 2002)

1 comentário:

Anónimo disse...

faz algo que toda a gente entendenda por favor...