Nos últimos anos, a Arquitectura e o Urbanismo têm conhecido uma ampla divulgação o que desenrola muitas vezes bons e acesos debates.
De facto, a comunicação social, não deixa de dar atenção às obras e aos projectos mais interessantes ou polémicos.
Assim sendo, verifica-se um crescente diálogo entre a sociedade e a arquitectura (ou vice-versa) que há alguns anos não existia.
O ambiente também começa a ser discutido em larga escala sendo a sua inter-relação com a arquitectura e o urbanismo notória, ou não se preocupassem estas disciplinas com o quadro de vida das populações. Veja-se o caso dos molhes da Foz do Douro.
Este interesse público torna-se um factor essencial para que todo esse processo de (re)organização dos espaços e das vivências caminhe no sentido de salvaguardar a componente social que a arquitectura e o urbanismo devem assumir.
É verdade que a arquitectura não depende só dos Arquitectos. Ela tem de obedecer a “lógicas” de programas, a interesses dos investidores, e outros que, muitas das vezes podem chocar com aquilo que seria aceitável. Desde há alguns anos que a Associação dos Arquitectos, recentemente designada Ordem dos Arquitectos, se tem debatido para que haja uma maior intervenção dos seus associados em todo o tipo de obras e lhes seja dada independência profissional, clarificando e definindo assim a fronteira entre os mais diversos técnicos.
O que se tem passado, principalmente fora dos centros urbanos, é a proliferação de construções que escapam às boas intenções dos planos de urbanização, planos de pormenor e mesmo planos directores, projectos e construções de má qualidade, quase sempre feitos por amadores ou mesmo pseudo-profissionais sem as desejadas competências. Faltam os equipamentos, os espaços de recreio e ainda a necessária diversidade tipológica.
Apesar de muitas autarquias se estarem a esforçar para atenuar este mal, existem no entanto, marcas já difíceis de reabilitar.
Assim, ter-se-á que rever todo o processo de ocupação dos solos, com um planeamento e intervenção directa de arquitectos (que já começa a existir), os quais têm obrigação de contribuírem para uma melhoria do estado das coisas. Os centros históricos têm obrigatoriamente de deixar de ser locais onde a massificação desenfreada de construções chocam com os verdadeiros valores socioculturais das populações. Porque a arquitectura é mais do que a simples construção: tem aspectos de qualificação do espaço.
No nosso pais, temos arquitectos que se destacam a nível internacional, com a mais representativa figura de Álvaro Siza, muito bem cotado no ranking mundial; começam também a existir várias publicações nacionais e internacionais que reproduzem projectos portugueses, enfim, é a imprensa a dar o devido relevo.
É chegada, pois, a hora de reconhecer o interesse público pela Arquitectura enquanto arte e ciência, enquanto organiza, qualifica e humaniza o espaço. Exigir produções de qualidade através das respectivas responsabilidades.
Uma das coisas que me tem passado pela cabeça é a ideia de propor à nossa autarquia (Câmara Municipal de Santa Maria da Feira) a criação do PRÉMIO MUNICIPAL DE ARQUITECTURA, o qual poderá incentivar os profissionais do concelho ou as obras realizada no concelho, a uma maior qualidade e assim, influenciar e imbuir neste espírito as actuais e novas gerações.
Há muito que construir. Para isso os arquitectos deverão ser agentes privilegiados de intervenção através da interdisciplinaridade que hoje se exige. É preciso que o direito à arquitectura chegue a todos, dentro de um quadro de competitividade que tenha por critério a qualidade técnica e cultural.
Logo, mais arquitectura quer dizer também melhor arquitectura e maiores responsabilidades daqueles que concebem o espaço em que todos vivemos.
(Setembro de 1998, in "Terras da Feira")
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