Como dizia Le Corbusier, “...O objectivo da construção é manter as coisas de pé. O da arquitectura é emocionar-nos...”.
Uma ideia em arquitectura só tem existência plena quando é materializada pela construção. Os arquitectos, antes do mais, são criadores que podem tornar realidade as suas concepções de espaço e forma.
Neste processo, o papel do arquitecto é fazer coincidir dois universos muito diferentes: o da concepção e o da construção.
Se o universo da concepção é simbólico, abstracto e emotivo, o da construção é objectivo, material e concreto. Trata-se de “escrever poesia” com pedra, madeira, betão ou vidro.
Ao projectar, o arquitecto é sempre confrontado com a necessidade de descrever realidades que ainda não existem. Usam-se para isso meios de simulação como desenhos ou maquetas. Simulam-se realidades com outras realidades.
Mas, é também necessário justificar a concepção.
Como aquilo que desenhamos implica sempre em algo mais que o seu sentido evidente e imediato, a compreensão de um projecto só é atingida quando se descrevem significados e intenções, quando se explicam simbologias e desejos. São gestos pessoais, quase íntimos.
Ultimamente, a arquitectura tem sido motivo de referência nas capas de revistas e jornais no nosso país. Aliás, já não era sem tempo.
Na verdade, as pessoas começam a não ser indiferentes perante uma determinada obra, uma determinada construção, enfim, uma determinada concepção. Exemplo disso foi o que a Expo98 gerou no nosso país. Além de Ter projectado o nosso país a nível internacional, foi uma forma de recuperar parte de uma cidade que, dificilmente poderia gerar um desenvolvimento integrado e sustentado. Foi também uma grande manifestação do que de melhor se faz ao nível conceptual e tecnológico na área da arquitectura.
Mais recentemente, o Prémio Pessoa foi atribuído à arquitectura e mais especificamente ao arquitecto portuense Eduardo Souto de Moura. Apesar de ser a primeira vez que tal galardão é entregue a um profissional desta área, foi, sem dúvida, o reconhecimento de uma obra que, por incrível que pareça, é reconhecida no exterior muito antes de o ser em Portugal.
No nosso concelho existem também obras que, pela sua importância e qualidade arquitectónica merecem relevo. Estou a falar do mercado municipal, cuja concepção pertence ao grande mestre Fernando Távora, e que levou, em congressos internacionais de arquitectura - CIAM’S o nome da nossa terra a vários pontos do mundo e que ainda se vê presente em vários livros da especialidade. Realmente é uma grande obra. Uma obra que convida ao encontro das pessoas (assim se sente, quando se lá está). No entanto, penso também que tudo tem o seu percurso, tudo tem o seu tempo. A finalidade com que foi criado encontra-se agora um pouco infundada. O mercado, na verdadeira definição da palavra, não funciona (meia dúzia de vendedoras insistem em vender aos feirenses quilos de simpatia, legumes e fruta fresca e ainda algum peixe – honra lhes seja feita). Porquê, além desses comerciantes não o tornar num ponto de maior atractividade e um polo aglutinador de vivências e de encontros. Porque não dotá-lo de um bar/esplanada de qualidade?
Ainda no campo da arquitectura, e para finalizar, à semelhança do que escrevi à algum tempo, gostaria de deixar a sugestão de ser criado o Prémio Municipal de Arquitectura. Seria uma excelente forma homenagem a estas “estórias” e de incentivo aos jovens técnicos do nosso concelho no sentido de promoverem mais e melhor arquitectura.
De fazerem mais sonhos...
(Abril de 1999, in "Terras da Feira")
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