quinta-feira, 20 de maio de 2010
Espaço Ilha - Inauguração a 20 de Maio de 2010
Do Conceito
NOTAS de Autor
“Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual a pedra que sustém a ponte? Pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra – responde Marco – mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo.
Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.”
(In “As Cidades invisíveis”, Italo Calvino)
Tal como a ponte que o viajante descreve, também o sistema de espaços colectivos não é substituído por esta ou aquela praça, por este ou aquele parque, por uma ou outra alameda, mas pelo conjunto integrado que todas elas formam. Afinal, é este o suporte físico de todo o ambiente urbano. Ambiente esse que define as “Terras” e do qual dependem todas as suas vivências.
É pois, nesse contexto da promoção de um melhor ambiente urbano e de uma maior qualificação dos espaços públicos, que surge o projecto do “espaço ilha”, uma proposta que pretende “unir os tempos”, criando ligações em falta entre fragmentos e memórias do passado e as novas realidades e necessidades do presente.
Trata-se, desde logo, de uma intervenção que respeita a memória de um rio, de um povo e de um lugar que viu crescer várias gentes. Uma intervenção que aproxima o objecto à escala e ao espírito do lugar, reinventando a imagem arquitectónica do antigo edifício e conferindo-lhe uma nova linguagem contemporânea.
Nessa perspectiva, a intervenção tem como objectivo, promover a instalação de um novo edifício de carácter colectivo e público – bar/restaurante (substituindo o velho bar da ilha) bem como a renovação e estabilização das margens da ilha e espaços envolventes.
O conjunto intervencionado apresentava-se bastante desqualificado, em que sobressaía o carácter de corpos em ripados de madeira apoiados directamente no solo maltratado, abraçado pelo Rio Uíma, numa ilha criada na década de 60, através da construção de uma represa que “parou” aquele espelho de água.
Na compatibilização do programa estabelecido com as pré-existências naturais e o lugar, instala-se então o novo edifício, o “ZIP ZIP ilha rest caffé”. Um edifício em estrutura metálica, revestido a viroc, aço corten e vidro, parecendo “levitar” em relação ao solo natural. E depois, todo o espaço exterior, com sucessivos pavimentos em deck que, envolvidos em verde, transportam os visitantes até à cota da água.
A volumetria, que dá continuidade ao “natural”, permite perceber o que está para “o lado de lá…”. Os seus planos transparentes, desenhados numa “caixa” branca, tremendamente ortogonal, retocada por uma mancha de cor ocre, completam a paleta em tons verde.
Um convite à reflexão…
O Uíma corre agora mais calmo e poético. Belo como sempre. A esplanada está lá, como outrora. Mas agora coberta, mais convidativa à reunião e à contemplação do plano de água e espaço natural.
De acordo com as necessidades impostas pelo tipo de equipamento, bem como as imposições legais da legislação em vigor, concebeu-se um edifico que engloba: zona de entrada, área social (interior e exterior), área de atendimento (balcão de bebidas), cozinha/copa, despensa geral e despensa de vasilhame, instalações sanitárias separadas por sexos, instalações sanitárias para deficientes; instalações sanitárias e balneários para o pessoal de serviço.
Trata-se de uma solução que pretende usufruir do mais amplo espaço dentro do contexto existente. Pelo facto do estabelecimento se desenvolver no sentido longitudinal do rio, bem como pelo tipo de ocupação e conceito, estamos perante uma solução do tipo “open space”, com a sua extremidade Nascente, a funcionar como “bolsa” de estar e de lazer (esplanada coberta) e de fácil fruição. A “praça de chegada”…
Uma solução que procura tirar partido das transparências, permitindo a leitura de todo o espaço natural envolvente.
Atento às questões da mobilidade, o edifício possui, necessariamente, condições para o acesso, a todos os espaços, de cidadãos de mobilidade condicionada ou reduzida. Neste caso, de realçar a ponte/rampa prevista sobre o Rio Uíma que, além de substituir a antiga travessia pedonal, será um elemento arquitectónico de referência no conjunto.
A proposta exigia a “total” reconfiguração do existente, de modo a criar um espaço com uma qualidade e uma atmosfera de acordo com o tipo de serviço que se pretende oferecer.
Retirou-se pois, do desenho, tudo o que se poderia considerar supérfluo. Pode agora, o visitante, contemplar o espaço natural existente.
Caldas de S. Jorge, Maio de 2010
Pedro Castro e Silva, arquitecto
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1 comentário:
Caro Pedro,
Uma bela obra, pela qual estás de parabéns, mas quanto ao conceito, justificação e interpretação, por mais poéticas que sejam as considerações, não passam disso mesmo. Neste caso, como em muitos outros, o autor, o criador, seja arquitecto, músico ou pintor, pode dar-lhe o fundamento que quiser, mas para os outros terá necessariamente uma apreciação mais prática: Um mamarracho, ou nem por isso, bonita, ou nem por isso, bem construída, ou nem por isso, bem acabada, ou nem por isso, prática, funcional, ou nem por isso,
Seja como for, acredito que seja um bom espaço, moderno e atractivo e que enriquecerá o contexto local do Parque. Pessoalmente não creio que seja uma obra fundamental e imprescindível; Afinal o que por aí há são cafés e bares. A obra imprenscindível continua por fazer, que seria o tal hotel ou grande residencial, esse sim como elemento aglutinador e complementar às Termas.
Quanto ao espaço, desde logo não gosto da terminologia Rest-Cafe, mas pronto, são modernices.
Tenho também sérias dúvidas que o espaço se torne num encontro multi-geracional, como diz pomposamente o Martins. Penso que a curto prazo será apenas ou antes uma extensão ou substituição do Apeadeiro, destinado apenas aos filhos da noite, a ménada, como dizemos. Mas pronto, são são dúvidas e mais a mais nem sou daí para ter uma leitura mais por dentro. É apenas uma impressão out-sider.
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