sábado, 17 de abril de 2021

Olhares


Admito que alguns se recordem. Fez, neste início de mês, 12 anos.

Lembro-me bem o que foi receber em Caldas de S. Jorge reputadíssimos especialistas do Instituto Superior Técnico de Lisboa e da Universidade de Mimar Sinan e das Belas Artes de Istambul (Turquia).
Um salutar e interessante trabalho com técnicos e gente de cá. Durante 4 dias, “Um olhar para o futuro”.
Como as ideias "estariam" actuais... Julgo.

“Átrium” das Termas, 21 horas do dia 2 de Abril. Noite fria, como quase todas as noites desta terra também caracterizada pelo seu microclima. Sala cheia… de gente. De gente que sente… de calor humano.

É destes encontros que, normalmente, resultam renovados desafios e congregadores pontos de vista. Partilha de experiências, filosofias, métodos de abordagem. Desígnios.

É fundamental (re)pensar a problemática do espaço urbano ou do espaço rural. Reflectir, só ou em conjunto, com pessoas de cá e de outras paragens. Lembrar memórias, ponderar experiências sobre o tratamento do espaço público.

Como sempre referi, as cidades nascem e crescem... mas também declinam e morrem quando lhes faltam os recursos que as mantêm vivas e, acima de tudo, quando não possuem um projecto de vida próprio.

E é pois esse projecto de vida colectivo das nossas aldeias, vilas e cidades que importa pensar, no sentido da procura das melhores soluções para a definição de uma filosofia de desenvolvimento e que contribua para o reforço e valorização da sua identidade.

Todos, à nossa medida e à nossa escala, temos ideias para o espaço que nos rodeia e nos envolve. E todas serão válidas. Por isso é que o processo de planeamento deve ser participado. Por isso é que se realizam iniciativas como a de 2009. Por isso é que se convoca a comunidade a estar presente.

Como dizia o saudoso amigo Costa Lobo, “…não deve haver receio em obter outros pontos de partida... devemos estar disponíveis para a chamada terceira solução…”. Acrescentaria que não devemos recear elevar a discussão em torno destas problemáticas dos “sítios e lugares”, do ambiente, da ecologia, das memórias colectivas, da relação entre o construído e o natural, da vivência de cada um e a sua relação com o conjunto de aspectos do quotidiano que nos envolve. É disso que se trata.

O desafio é reforçar identidades. Um dia, quem sabe, os projectos e os sonhos talvez se possam transformar em realidade. No caso de Caldas de S. Jorge poderia referir, nomeadamente, a definição de um programa operacional em torno da actividade termal e turística, a relação das termas com a comunidade, a consolidação de dinâmicas ligadas à natureza com base numa espécie de “riverway” em que o Uíma seja denominador comum, a requalificação do espaço construído e degradado no qual se inclui, entre outros, a “Casa da Pines” enquanto “pousada de charme” ou até a criação de condições para a instalação da “casa/museu da puericultura, do brinquedo e dos carrinhos de bebé”... ou ainda o desejo de voltar a sentir e respirar uma certa brisa quente com ligeiro toque a enxofre.

Para que isso seja possível, é fundamental que se gerem discussões e debates. É fundamental criar consensos e desígnios comuns. É necessário, acima de tudo, sentir o pulsar de todas as pessoas. De todas as pessoas.

Se assim for, talvez a prazo, nos possamos voltar a afirmar como “território modelo” no âmbito da região metropolitana. Um território assente na lógica do bem estar, dedicado ao eco-turismo, um “espaço paisagem”... no fundo, que se possa reconfirmar como um marco territorial. Que sempre foi. Que o é.

Como já dizia Ebenezer Howard em 1898, o pioneiro moderno da descentralização da cidade industrial, com a invenção da cidade-jardim, o pensamento sobre as vilas e cidades assenta em 3 princípios fundamentais:

- A terra deve pertencer à comunidade;
- Todas as pessoas devem estar envolvidas no planeamento;
- Deve haver harmonia entre o espaço construído e o ambiente natural.

É desta simbiose que se “constrói” o território.


PNCS

(escreve de acordo com a anterior ortografia)

sábado, 10 de abril de 2021

Desígnios


 

Distinguir o feio do bonito, o básico do distinto, o natural do supérfluo é, desde os primórdios, um exercício que nos remete para uma dimensão metafísica da realidade.

Claro que nos reservamos ao direito de considerar que, apesar de tudo, essa é uma característica que se… cultiva e aprende.

Mas, quando se trata do respeito e da compreensão dos desígnios de um lugar, isso… bom, isso é uma característica que não se compra. Sente-se. Vive-se. Morre-se com ela.

Quem, desde pequenino, cresceu à "guarda" do velho Carvalho de Sé, brincou à sombra dos frondosos plátanos do parque, e respirou a leve e quente brisa com ligeiro toque a enxofre, sabe do que falo…