As cidades, como as civilizações, nascem, crescem, declinam e morrem quando lhes faltam os recursos que as mantêm vivas e, acima de tudo, quando não possuem um projecto de vida próprio.
A generalidade das cidades em que hoje vivemos, enquanto estruturas em permanente mutação, sofrem os efeitos das pressões submetidas pela sociedade, baseada na produção lucrativa e orientada para a sua maximização.
A diminuição do espaço disponível, nas suas zonas mais centrais, provoca o aumento do valor dos respectivos terrenos, ficando estes apenas ao alcance das actividades ligadas ao ramo imobiliário, relegando a primazia do espaço público para as periferias e, muitas vezes, para um segundo plano.
A cidade convencional é, portanto, estimulada a crescer irreversivelmente e a concentração da população que nela encontramos, corre o risco de viver com a inexistência de um espaço vital e humanizado, cada vez mais impessoal, onde as pessoas se acotovelam nos passeios (quando estes existem) e o transito automóvel invade todos os lugares.
Portanto, admitindo o sentido figurativo e mais amplo do termo “cidade”, entendo ser extremamente pertinente, neste período de conjuntura económica mais desfavorável e em que a promoção imobiliária é menos evidente, que haja um sério e amplo debate, no sentido de se encontrarem melhores soluções para a definição de uma filosofia de desenvolvimento e para o reforço da identidade desta imensa terra em que vivemos.
Como já dizia Ebenezer Howard em 1898, o pioneiro moderno da descentralização da cidade industrial, com a invenção da cidade-jardim, o pensamento sobre as vilas e cidades assenta em 3 princípios fundamentais:
- A terra devia pertencer à comunidade;
- Todas as pessoas deviam estar envolvidas no planeamento;
- Devia haver harmonia entre o espaço construído e o ambiente natural.
No caso específico de Caldas de S. Jorge, creio existirem condições para que, a prazo, se possa vir a transformar num “território modelo” no âmbito da região em que se insere. Que possa voltar a ser um local aprazível e um espaço procurado pelas mais variadas gentes.
Nos últimos anos, temos assistido à renovação de alguns equipamentos que, sem dúvida alguma, se traduzem num pilar fundamental para a crescente importância que esta terra pode assumir.
Exemplo disso, foram as obras de reformulação e ampliação do edifício das Termas, todas as obras de requalificação da sua área envolvente, a definição de um projecto de renovação do espaço “Ilha”, a reabilitação da Igreja Matriz, etc. Podemos ainda referir a potencial e eminente aprovação do novo centro de dia/noite no âmbito dos incentivos criados pelo governo central ou ainda o “irreversível” percurso pedonal que surgirá ao longo do Uíma.
Mas também jamais poderemos esquecer um dos maiores patrimónios que esta terra possui: a actividade industrial e económica ligada aos artigos de puericultura. Desde há várias décadas que, num esforço conjunto entre empresários e operários, gente mais abastada ou mais humilde, têm levado com o seu trabalho, o nome de Caldas de S. Jorge aos diferentes cantos do mundo. Esta é uma questão que importa realçar e, porque não, acarinhar de forma incessante. Não se pode evocar esta terra sem se falar da industria de puericultura.
Mas a identidade de Caldas de S. Jorge pode e deve ser ainda mais forte. Os projectos e os sonhos deverão ser, a breve prazo, transformados em realidade. Falo, obviamente, da definição de um programa operacional em torno da actividade Termal e Turística na área central da vila, da criação de um Parque Verde Urbano, da qualificação do espaço público, da requalificação da “Casa da Pines” enquanto “pousada de charme” e que possa catapultar a criação de condições reais para a instalação do hotel desejado, e da construção de um pequeno auditório associado a uma “casa/museu do brinquedo”...
Mas, para que isso seja possível, é preciso gerar-se discussões, debates, criar consensos e desígnios comuns. É preciso, acima de tudo, respeitar as pessoas.
Se isso acontecer, estou certo que por cá, e dentro de pouco tempo, se vai cometer o crime original: o da sedução.
Porque o sentido crítico da reversibilidade se revela cada vez mais poderoso...
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