quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de abril I 1974 - 2024




















Canção da Paciência,

 

Muitos sóis e luas irão nascer

Mais ondas na praia rebentar

Já não tem sentido ter ou não ter

Vivo com o meu ódio a mendigar

 

Tenho muitos anos para sofrer

Mais do que uma vida para andar

Beba o fel amargo até morrer

Já não tenho pena sei esperar

 

A cobiça é fraca melhor dizer

A vida não presta para sonhar

Minha luz dos olhos que eu vi nascer

Num dia tão breve a clarear

 

As águas do rio são de correr

Cada vez mais perto sem parar

Sou como o morcego vejo sem ver

Sou como o sossego sei esperar

 

[José Afonso]

quinta-feira, 28 de março de 2024

Usura

 "(...) Não é que tenhamos uma reserva a priori relativamente a tudo o que brilha, mas, a um brilho superficial e gelado, preferimos sempre os reflexos profundos, um pouco velados; seja nas pedras naturais seja nas matérias artificiais, esse brilho ligeiramente alterado que evoca irresistivelmente os efeitos do tempo. 'Efeitos do tempo' é o que soa bem, mas, para dizer a verdade,  é o brilho produzido pela sujidade das mãos. Os Chineses têm uma palavra para isso, 'o lustro da mão'; os Japoneses dizem a 'usura' (...)"


(In Elogio da Sombra, de Junichiró Tanizaki)


Neste  ensaio de 1933, compreende-se melhor a riqueza e uma certa especificidade da cultura oriental.


E quem disse que a arquitectura, a "rainha" de todas as artes, mesmo com séculos e séculos de história, não tem uma relação directa face à forma em como hoje podemos continuar a organizar o território?