“(…)
- De agora em diante
serei eu a descrever as cidades – disse o Kan. – Tu nas tuas viagens
verificarás se existem.
Mas as cidades
visitadas por Marco Polo eram sempre diferentes das pensadas pelo imperador.
- Contudo eu tinha construído
na minha mente um modelo de cidade de que deveria deduzir-se todos os modelos
de cidades possíveis – disse Kublai. – Contém tudo o que corresponde à norma.
Como as cidades que existem se afastam em grau diverso da norma, basta-me
prever excepções à norma e calcular as combinações mais prováveis.
- Também pensei num
modelo de cidade de que deduzo todas as outras – respondeu Marco.
É uma cidade feita só
de excepções, impedimentos, contradições, incongruências, contra-sensos. Se uma
cidade assim é o que há de mais improvável, diminuindo o número dos elementos anormais
aumentam as probabilidades de existir realmente a cidade.
Portanto basta que eu
subtraia excepções ao meu modelo, e proceda com que ordem proceder chegarei a
encontrar-me perante uma das cidades que existem, embora sempre como excepção,
Mas não posso fazer avançar a minha operação para além de um certo limite:
obteria cidades demasiado verosímeis para serem verdadeiras.
(…)”
In “As cidades Invisíveis”, de Italo Calvino
Imagem ZIPZIP I Caldas de S. Jorge,
projecto 2009/2010